quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Abram o olho, marítimos, com mais uma crise política na Argentina


Hoje vamos nos meter um pouquinho nas questões de nosso maior parceiro regional, o país de “nuestros Hermanos”: Argentina.

E o fazemos porque as ações que acontecem além de nossa fronteira sul podem repercutir aqui. Assim, nos interessa bastante a situação que resulte dos atuais embates políticos entre os até pouco tempo atrás aliados.

Além disso, embora de forma mais branda, o modelo político-sindical também é adotado no Brasil; e assim podemos tirar algumas lições.

A primeira é que sindicatos foram criados para defender os interesses dos trabalhadores que o compõe, e não de interesses de um governo, por mais que esse governo apoie os trabalhadores.

A segunda é que tal fato se da simplesmente porque quando um sindicato apoia abertamente um governo, ele deixa de ter autonomia, passando a ser instrumento de barganha de tal governo, perdendo assim não só a capacidade de se autogerir, como a de defender os interesses de seus membros junto ao governo.

A terceira é que as ações de um sindicato tem que estar atreladas aos interesses de sua categoria, e em hipótese alguma aos interesses particulares de sua liderança, sob pena de haver distorções em suas ações, como vem ocorrendo no país ao sul.

A quarta é que não sou contra o uso de um sindicato por motivos políticos, já que no afinal a articulação política é imprescindível ao fortalecimento de um sindicato, mas tal atividade política deve ter sempre em vista dos interesses dos trabalhadores que compõe o sindicato

A quinta é que há necessidade de participação efetiva dos membros de um sindicato para que o mesmo seja forte, mas tal participação deve ser crítica, para que se evitem os descaminhos rumo aos objetivos e o uso indevido da máquina sindical com propósitos outros.

E por último uma pergunta: a lei argentina mudou? Até dois anos atrás a lei argentina só permitia um sindicato por categoria, e isso se estendia à centrais sindicais, e em tese só poderia haver uma. Mas na reportagem abaixo foram citadas quatro. E o pior que pode acontecer ao movimento trabalhista é a fragmentação sindical.

No Brasil tentam com muito afinco efetivar tal cenário, e em alguns casos têm conseguido com muito sucesso.

Em nosso setor tem havido algumas batalhas intensas, já que algumas associações, apoiadas e financiadas por empresas armadoras, tentam quebrar a unidade sindical vigente.

E alguns companheiros ainda compram o discurso dos armadores, veiculado através desse pessoal que nada mais faz do que enfraquecer a categoria.

Abram o olho!

Leiam o texto abaixo publicado no Estadão:


Contra greves, Cristina lança cerco a sindicatos
Maior central sindical da Argentina se divide entre grupo que apoia a presidente e outro, liderado por ex-kirchnerista, que a ataca

Por Ariel Palacios

Acuada por greves e ameaças de paralisações em diversos setores, a presidente Cristina Kirchner passou a contar este mês com uma central sindical declaradamente alinhada com sua política, a peronista Confederação Geral do Trabalho (CGT). Enquanto isso, o caminhoneiro Hugo Moyano, secretário-geral do sindicato original, a agora chamado "CGT-rebelde", organiza manifestações contra aquela que foi sua aliada por nove anos - o último protesto ocorreu dia 11.

O grupo leal a Cristina será liderado por Antonio Caló, secretário-geral da União Operária Metalúrgica (UOM), que anunciou total respaldo à política econômica da Casa Rosada. A central de Caló está sendo chamada de CGT-Alsina, em referência à rua onde está, no centro portenho, embora também seja ironicamente denominada de CGT-Balcarce, em alusão à rua onde está o palácio presidencial.

Moyano declara-se contra os planos de mudança da Constituição para permitir uma eventual segunda reeleição e acusa o governo de permitir a escalada inflacionária. "No ano que vem veremos que eles (o governo), sem o respaldo dos trabalhadores, não conseguirão manter os 54% dos votos que tiveram nas eleições (presidenciais) de 2011 (quando Cristina foi reeleita)!", afirmou recentemente em tom de desafio.

Famoso pela truculência e pela capacidade de mobilizar rapidamente dezenas de milhares de caminhoneiros em poucas horas para bloquear estradas e avenidas, Moyano foi considerado durante anos a "patrulha de choque" do casal Kirchner. Entre 2009 e 2011 protagonizou piquetes nas portas da gráfica do jornal Clarín para impedir a circulação dos exemplares da empresa de mídia considerada inimiga pelo governo.

Em julho, Moyano - que acumulava um semestre de divergências com Cristina - foi reeleito secretário-geral da CGT, a maior central sindical do país. No entanto, a reeleição não foi reconhecida pelo governo Kirchner, que a considerou "irregular". Irado, Moyano convocou os argentinos a votar na oposição nas eleições parlamentares do ano que vem. Segundo o sindicalista, Cristina "não é peronista de Perón".

A jornalista Emilia Delfino, autora de O Homem do Caminhão, primeira biografia não-autorizada de Moyano, afirmou ao Estado que o caminhoneiro "precisa do confronto com o governo para fortalecer seu projeto político. Para isso usará sua força sindical. É tudo parte da mesma equação. Se ficasse quieto, perderia protagonismo". Segundo Emilia, Moyano tem historicamente elevada imagem negativa na população, mas desde o início de sua briga com a presidente parte de sua imagem negativa migrou para uma percepção "regular".

A especialista em temas sindicais sustenta que a partida de Moyano da base aliada do governo "prejudica a presidente Cristina pois diminui a "paz social". No entanto, Moyano também perdeu muitos negócios com o governo ao brigar com Cristina".

Os sindicalistas alinhados com a presidente têm grande poder, já que reúnem os principais sindicatos do país. Mas a analista também destaca que Moyano mantém grande capacidade para fazer bloqueios em ruas e estradas. "Ele tem essa capacidade, além de grande disposição para usá-la", ressalta.
Além da CGT-Balcarce e da CGT-rebelde, a central sindical conta com outra facção dissidente, que é crítica de Cristina, a CGT Azul e Branca. O mundo sindical também conta com a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), que desde o ano passado está dividida em duas partes (uma corrente kirchnerista e uma dissidência anti-kirchnerista).

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