Hoje vamos nos meter um pouquinho nas questões de nosso maior parceiro regional, o país de “nuestros Hermanos”: Argentina.
E o fazemos porque as ações que acontecem além de nossa fronteira sul podem repercutir aqui. Assim, nos interessa bastante a situação que resulte dos atuais embates políticos entre os até pouco tempo atrás aliados.
Além disso, embora de forma mais branda, o modelo político-sindical também é adotado no Brasil; e assim podemos tirar algumas lições.
A primeira é que sindicatos foram criados para defender os interesses dos trabalhadores que o compõe, e não de interesses de um governo, por mais que esse governo apoie os trabalhadores.
A segunda é que tal fato se da simplesmente porque quando um sindicato apoia abertamente um governo, ele deixa de ter autonomia, passando a ser instrumento de barganha de tal governo, perdendo assim não só a capacidade de se autogerir, como a de defender os interesses de seus membros junto ao governo.
A terceira é que as ações de um sindicato tem que estar atreladas aos interesses de sua categoria, e em hipótese alguma aos interesses particulares de sua liderança, sob pena de haver distorções em suas ações, como vem ocorrendo no país ao sul.
A quarta é que não sou contra o uso de um sindicato por motivos políticos, já que no afinal a articulação política é imprescindível ao fortalecimento de um sindicato, mas tal atividade política deve ter sempre em vista dos interesses dos trabalhadores que compõe o sindicato
A quinta é que há necessidade de participação efetiva dos membros de um sindicato para que o mesmo seja forte, mas tal participação deve ser crítica, para que se evitem os descaminhos rumo aos objetivos e o uso indevido da máquina sindical com propósitos outros.
E por último uma pergunta: a lei argentina mudou? Até dois anos atrás a lei argentina só permitia um sindicato por categoria, e isso se estendia à centrais sindicais, e em tese só poderia haver uma. Mas na reportagem abaixo foram citadas quatro. E o pior que pode acontecer ao movimento trabalhista é a fragmentação sindical.
No Brasil tentam com muito afinco efetivar tal cenário, e em alguns casos têm conseguido com muito sucesso.
Em nosso setor tem havido algumas batalhas intensas, já que algumas associações, apoiadas e financiadas por empresas armadoras, tentam quebrar a unidade sindical vigente.
E alguns companheiros ainda compram o discurso dos armadores, veiculado através desse pessoal que nada mais faz do que enfraquecer a categoria.
Abram o olho!
Leiam o texto abaixo publicado no Estadão:
Contra greves, Cristina lança cerco a sindicatos
Maior central sindical da Argentina se divide entre grupo
que apoia a presidente e outro, liderado por ex-kirchnerista, que a ataca
Por Ariel Palacios
Acuada por greves e ameaças de paralisações em diversos
setores, a presidente Cristina Kirchner passou a contar este mês com uma
central sindical declaradamente alinhada com sua política, a peronista
Confederação Geral do Trabalho (CGT). Enquanto isso, o caminhoneiro Hugo Moyano,
secretário-geral do sindicato original, a agora chamado
"CGT-rebelde", organiza manifestações contra aquela que foi sua
aliada por nove anos - o último protesto ocorreu dia 11.
O grupo leal a Cristina será liderado por Antonio Caló,
secretário-geral da União Operária Metalúrgica (UOM), que anunciou total
respaldo à política econômica da Casa Rosada. A central de Caló está sendo
chamada de CGT-Alsina, em referência à rua onde está, no centro portenho,
embora também seja ironicamente denominada de CGT-Balcarce, em alusão à rua
onde está o palácio presidencial.
Moyano declara-se contra os planos de mudança da
Constituição para permitir uma eventual segunda reeleição e acusa o governo de
permitir a escalada inflacionária. "No ano que vem veremos que eles (o
governo), sem o respaldo dos trabalhadores, não conseguirão manter os 54% dos
votos que tiveram nas eleições (presidenciais) de 2011 (quando Cristina foi
reeleita)!", afirmou recentemente em tom de desafio.
Famoso pela truculência e pela capacidade de mobilizar
rapidamente dezenas de milhares de caminhoneiros em poucas horas para bloquear
estradas e avenidas, Moyano foi considerado durante anos a "patrulha de
choque" do casal Kirchner. Entre 2009 e 2011 protagonizou piquetes nas
portas da gráfica do jornal Clarín para impedir a circulação dos exemplares da
empresa de mídia considerada inimiga pelo governo.
Em julho, Moyano - que acumulava um semestre de divergências
com Cristina - foi reeleito secretário-geral da CGT, a maior central sindical
do país. No entanto, a reeleição não foi reconhecida pelo governo Kirchner, que
a considerou "irregular". Irado, Moyano convocou os argentinos a
votar na oposição nas eleições parlamentares do ano que vem. Segundo o
sindicalista, Cristina "não é peronista de Perón".
A jornalista Emilia Delfino, autora de O Homem do Caminhão,
primeira biografia não-autorizada de Moyano, afirmou ao Estado que o
caminhoneiro "precisa do confronto com o governo para fortalecer seu
projeto político. Para isso usará sua força sindical. É tudo parte da mesma
equação. Se ficasse quieto, perderia protagonismo". Segundo Emilia, Moyano
tem historicamente elevada imagem negativa na população, mas desde o início de
sua briga com a presidente parte de sua imagem negativa migrou para uma percepção
"regular".
A especialista em temas sindicais sustenta que a partida de
Moyano da base aliada do governo "prejudica a presidente Cristina pois
diminui a "paz social". No entanto, Moyano também perdeu muitos
negócios com o governo ao brigar com Cristina".
Os sindicalistas alinhados com a presidente têm grande
poder, já que reúnem os principais sindicatos do país. Mas a analista também
destaca que Moyano mantém grande capacidade para fazer bloqueios em ruas e
estradas. "Ele tem essa capacidade, além de grande disposição para
usá-la", ressalta.
Além da CGT-Balcarce e da CGT-rebelde, a central sindical
conta com outra facção dissidente, que é crítica de Cristina, a CGT Azul e
Branca. O mundo sindical também conta com a Central dos Trabalhadores
Argentinos (CTA), que desde o ano passado está dividida em duas partes (uma
corrente kirchnerista e uma dissidência anti-kirchnerista).
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