Em julho
tivemos uma série de manifestações, que coincidiram com a Copa das
Confederações, e acabaram tendo grande visibilidade internacional. As demandas
eram difusas, e provavelmente fruto de uma incerteza que vem crescendo no seio
de nossa população, derivada da já crônica ineficiência do governo em prover os
serviços básicos de sua obrigação; dos seguidos escândalos de corrupção que
atingem todos os partidos; dos maus resultados econômicos dos últimos tempos; a
sensação de entreguismo por parte do governo, seja pela Lei da Copa que dá
direitos especiais à FIFA, seja pela abertura de nosso mercado de trabalho a
estrangeiros (sentimos isso fortemente na Marinha Mercante e no Offshore).
Tudo isso,
mas não limitado a isso, criou um caldo grosso de indignação que levou a
população às ruas.
Mesmo
rechaçados por parte daqueles que aderiram às passeatas das redes sociais, cujas
reinvindicações eram difusas e a adesão era “espontânea”, tivemos um segmento
de nossa sociedade que também foi para as manifestações com pautas bem definidas e bandeiras
antigas: as Centrais Sindicais.
Com
reinvindicações claras como a redução da jornada de trabalho, regras para
evitar que empresas burlem o vínculo empregatício com a terceirização de
trabalhadores diretos, ou ainda regras mais justas e melhores condições de
aposentadoria para os brasileiros, os sindicalistas voltaram às ruas, mostrando
que o movimento sindical não está morto e continua lutando por suas bandeiras
na busca de melhores condições de vida aos trabalhadores brasileiros.
O momento
de maior calor já passou. A hora agora é de pensarmos se vamos nos organizar em
reinvindicações claras, ou se seguiremos difusos. O movimento sindical é um
meio, a política partidária também. Precisamos aprender a canalizar nossas
pretensões através dessas instituições. As manifestações populares podem ser o
estopim, e uma forma democrática, mas é apenas pontual. Através das
instituições é que as forças se articulam e poderemos concretizar nossos
anseios e construir um país melhor e mais justo. Isso é parte da democracia.
E nesta sexta as Centrais Sindicais voltaram às ruas para dar seu recado novamente.
E nesta sexta as Centrais Sindicais voltaram às ruas para dar seu recado novamente.
Leiam matéria abaixo.
Centrais
sindicais se fizeram ouvir no país
Por Adalberto
Cardoso*
As centrais
sindicais foram às ruas na quinta-feira com uma pauta classificada por alguns
como "corporativa" e restrita a "temas trabalhistas", de
interesse de uma minoria. Essa interpretação erra o alvo. Jornada de trabalho e
regras de aposentadoria, dois dos temas salientes da convocação das centrais,
são afeitos a todos os que ganham a vida trabalhando.
Na ponta do
lápis, 55 milhões de brasileiros contribuem para a Previdência Social, e cerca
de 123 milhões de pessoas vivem em famílias nas quais pelo menos um membro
contribui. Além disso, 40 milhões de brasileiros trabalham 44 horas por semana
ou mais, e 103 milhões vivem em famílias em que pelo menos um membro trabalha
essa jornada (dados da Pnad-2011, última disponível).
Trabalhar
menos e se aposentar com decência são conquistas civilizatórias universalizadas
no século XX nos países mais ricos, mas permanecem uma promessa no Brasil. E
são demandas históricas de nosso sindicalismo.
Julgadas
contra o pano de fundo das jornadas de junho, que levaram mais de um milhão de
pessoas às ruas, metade delas jovens de 24 anos ou menos (segundo a pesquisa do
Ibope), a manifestação puxada pelas centrais sindicais e outros movimentos
organizados pareceu um fracasso. Outro engano.
Os avanços
mais evidentes das administrações petistas ocorreram no mercado de trabalho.
Foram quase 20 milhões de empregos formais criados em dez anos, isto é, 20
milhões de novos contribuintes para a Previdência Social.
O ganho de
renda das famílias entre 2002 e 2011 também foi expressivo, de mais de 35% em
termos reais, tendo chegado a 80% em alguns estados do Nordeste, ainda segundo
a Pnad. A inflação recente, que atinge mais fortemente os mais pobres, porque
puxada sobretudo pelos alimentos, vem corroendo em parte esses ganhos, mas a
maioria das categorias tem conseguido aumentos de salários acima dos índices
oficiais de inflação, segundo o Dieese.
Ou seja, se
há insatisfação de parcelas da população quanto à sua qualidade de vida, essa
insatisfação não parece ter origem no mercado de trabalho. E, no entanto, as
centrais sindicais, com uma pauta com viés de classe (e não difuso como as
jornadas de junho), fizeram-se ouvir no país inteiro, com passeatas em todas as
capitais e centenas de cidades, bloqueios de estradas e acesso a portos e, no
caso do Rio, confronto com a PM, que vem utilizando violência excessiva contra
os manifestantes. Não colocaram um milhão de pessoas nas ruas. Mas mostraram
que continuam ativas e que são capazes de causar prejuízos à economia e aos
poderes públicos, seu principal recurso reivindicatório. (*Professor e
pesquisador do Iesp-Uerj)
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