sábado, 24 de agosto de 2013

Dificuldades Derivadas da Falta de Visão Estratégica



Num tempo em que precisamos aumentar nossas exportações e melhorar os resultados de nossa balança comercial, é um sério problema para o país o custo excessivo dos fretes cobrados no transporte entre Brasil e África, bem como o tempo que leva um contêiner para ser transportado por esse percurso.

Alguns dos motivos para isso estão relacionados na reportagem abaixo, mas podemos acrescentar também a falta de concorrência que existe neste segmento de transporte.

Mas isso não se dá porque as empresas engajadas nesse transporte queiram prejudicar o país ou estejam empenhadas em evitar que tenhamos contatos mais próximos com o continente a leste. 

Na verdade as empresas buscam apenas o lucro máximo possível, melhorando seu desempenho operacional, inclusive com a melhoria da sinergia entre as diversas linhas exploradas pelas mesmas. A falta de concorrência é apenas um meio de aumentar seus lucros, pois já que não há concorrência, na visão delas é melhor aumentar a ocupação de seus navios, mesmo a um custo mais alto ao cliente, do que abrir novas linhas e terem todas subutilizadas (talvez).

A criação de um hub port no nordeste não significa a criação de linhas de comércio diretas para a África, porque estamos em um círculo vicioso. Não temos linhas porque temos poucas cargas e o frete se torna alto, e podemos ler a sequência ao contrário também. Algo como a velha máxima do ovo e da galinha. Quem nasceu primeiro?

Bem, essa situação está assim agora, mas podemos indicar os pais dela e sua data de nascimento: os governos de tendências neo-liberais que se instalaram no país na década de 90 do século passado e que desmantelaram nossa Marinha Mercante.

Mais que isso, acabaram com as empresas estatais (nos resta apenas a Transpetro) e com as possibilidades que tínhamos de intervir diretamente no mercado de fretes, com a possibilidade de abrir novas rotas comerciais, de incentivar e criar novas oportunidades para nosso comércio e indústria.

Porque, para um país, ter uma Marinha Mercante nacional arvorando sua bandeira é mais que um simples negócio. É a possibilidade de geração de empregos, de criação de oportunidades, de soberania nacional.

Certo, os interesses comerciais e a busca por lucros de empresas de navegação estrangeiras nos impedem de melhorar nosso comércio com a África, mas a falta de visão estratégica de nosso governo nos impede até mesmo de driblar esse tipo de dificuldade.

Valor Econômico – Reportagem - 24/05/2013

Ligação precária trava crescimento dos negócios

O comércio entre Brasil e países africanos, em sua quase totalidade, é feito  por via marítima. Mesmo assim, em que pesem a proximidade física, os laços  culturais e os esforços governamentais, não existem conexões diretas e regulares  entre as duas regiões. A carga pesada, composta sobretudo por commodities  transita em petroleiros e graneleiros contratados para esse fim, por viagem ou  tempo. Os demais produtos, transportáveis em navios porta-contêineres, seguem  roteiro caótico. Em geral, se o destino é a costa oeste africana, o trajeto  envolve transbordo em algum porto europeu.

"É um transporte caro e demorado que trava o crescimento dos negócios entre  as regiões", diz Altair Maia, pesquisador e consultor internacional. Segundo  ele, a costa Leste africana é mais bem servida por navios que saem do Brasil  para a Ásia e Oceania e fazem escala em países como África do Sul, Moçambique e  Tanzânia. Já a costa Oeste, mais próxima do Brasil, permanece isolada.  "Porta-contêineres que partem do Brasil para a Europa passam a menos de 500  milhas da costa africana mas não fazem escalas porque o volume de carga por  viagem não compensa", diz.

Como consequência, um transporte que poderia ser feito em cinco a sete dias  demora de 35 a 100 dias, dependendo do destino. O importador africano ainda tem  de enfrentar a multiplicação dos custos do frete decorrente das baldeações. "Um  contêiner não refrigerado custa mais de US$ 4 mil para países como Guiné-Bissau,  Serra Leoa, Libéria e Congo, e para a Europa custa a metade disso", diz  Maia.

O especialista defende a transformação de portosdo Nordeste em hubs a partir  dos quais mercadorias de todo o país seriam enviadas a algum porto africano, por  rotas já existentes.

As conexões incipientes, tanto marítimas quanto aéreas, implicam desperdício  de oportunidades sobretudo para a manufatura brasileira, afirma José Augusto de  Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "A África  tem tudo para ser um grande mercado consumidor de nossos produtos manufaturados,  e no entanto é muito pequeno", diz Castro.

Na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Wagner Ferreira Cardoso,  secretário-executivo do conselho de infraestrutura, defende a geração de um  círculo virtuoso em que a ampliação dos transportes resulte em mais volumes e  economia de escala. "O aumento da escala é decisivo para a redução do custo e  atração de novas empresas de navegação para o tráfego", diz Cardoso.

Ele diz que a ligação entre países melhorou com a aproximação comercial entre  Brasil a África, e destaca iniciativas como o Fórum IBAS, que promove a  cooperação entre Índia, Brasil e África do Sul. "O esforço do IBAS trouxe  benefícios como o acordo de transporte aéreo de passageiros e de cargas entre  Brasil e África do Sul que define quantidade de voos, tipos de aeronaves, número  de empresas aéreas que podem prestar serviços e definição das tarifas, entre  outros aspectos", diz.


Nenhuma companhia brasileira tem voos para a África. Segundo a Embratur, 92,3  mil turistas africanos visitaram o Brasil em 2012 (97% por via aérea), ou 1,6%  do total de turistas recebidos no país, naquele ano. A Anac calcula em 300 mil  passageiros a participação da África no tráfego aéreo internacional do Brasil,  1,7% do total.

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