Lembro que
há alguns anos houve uma série de embates entre trabalhadores portuários e o
porto de Suape, em Pernambuco, arrendado para uma empresa filipina, com
histórico antisindical e de desrespeitar leis locais em várias partes do mundo.
O principal
argumento da administração do porto era de que, retirando os trabalhadores
sindicalizados, poderiam diminuir as tarifas de movimentação de carga e
melhorar a competitividade, não só do porto, mas também da economia pernambucana
e da região.
Pois bem,
após muitas escaramuças conseguiram retirar os trabalhadores portuários
tradicionais do porto, e anunciaram um pequeno recuo nos preços de suas
tarifas, mas pouco tempo após anunciaram um aumento significativo que as
elevaram bem acima dos preços praticados quando operavam com trabalhadores
sindicalizados.
Retrocederam
rapidamente quando houve uma série de reportagens e pressões, voltando a
reajustar suas tarifas para cima outra vez quando as pressões amainaram.
E aonde
queremos chegar com isso?
Simples. A
redução de custos não necessariamente se reflete na redução de preços, mas na
maioria dos casos no aumento de lucros.
Quando essa
redução de custos se dá em cima de postos de trabalho e salários de
trabalhadores, que dependem de seus empregos para sustentar a si e suas
famílias, elas ganham um caráter social e cruel.
A
MP 612/13 já teve seu prazo de vigência encerrado e não está mais válida, e a MP 595/12 dificilmente irá reduzir preços de tarifas
portuárias, e os custos de nosso comércio exterior, porque foi feita para
beneficiar a poucos empresários, criando mecanismos para uma competição desleal
e atacando diretamente os direitos de trabalhadores que historicamente
trabalham e movimentam nossa economia nos portos e terminais por todo o país.
Mas podemos
dizer que “portos secos” são apenas um paliativo, de impacto com curto prazo de
validade, se não melhorarmos o sistema de transporte intermodal como um todo.
Porque o
que mais onera a movimentação de cargas no país ultimamente são a burocracia e
demora na liberação de cargas para exportação e importação, e o sistema modal
de transporte do e para o porto.
Ou
agilizamos a liberação de nossas cargas pela alfandega, ou teremos apenas um
novo depósito nos portos secos. Assim como a opção do caminhão como modal
principal para o transporte de cargas onera os custos, congestiona e deteriora
nossas estradas e está sujeita a muitas mais variáveis do que outros modais,
principalmente em longas distâncias como no Brasil.
E nesse
meio todo, onde fica nossa Marinha Mercante? Ela mesma tem potencial para regular
o mercado de fretes e distribuir nossos produtos de acordo com nossos
interesse, não de empresas e governos estrangeiros.
Terra –
Reportagem - 24/05/2013
Novo modelo
nacional de portos secos reduz custos logísticos
Após a crise
portuária deste ano, que chegou a elevar o custo das exportações brasileiras em
até 20%, o governo resolveu tomar providências para evitar que o problema se
repita. Duas medidas recentes, a MP 595/12 - também conhecida como MP dos
Portos - e a MP 612/13, estabelecem novos critérios para a movimentação de
cargas e o funcionamento dos terminais de cargas portuárias e retroportuárias
brasileiras e prometem reduzir os custos logísticos dos exportadores.
Aprovada no
último dia 16, a MP 595/12 prevê, entre outras coisas, a abertura de 159
terminais portuários para a iniciativa privada a partir do fim do ano. As
autorizações serão dadas por chamada pública e não mais por licitação. Assim, o
governo pretende agilizar a contratação das empresas que ficarão responsáveis
pelos terminais. A medida vem ao encontro da MP 612/13, que estabelece mudanças
para as instalações alfandegadas implantadas fora de áreas de portos e
fronteiras, os chamados portos secos, que podem receber cargas importadas ainda
não liberadas ou de exportação já despachadas. Com esse novo marco regulatório,
qualquer empresa poderá instalar um recinto desse tipo, desde que obtenha
autorização da Receita Federal, ao contrário do que ocorria até agora, quando a
concessão era feita pela União.
Segundo o
vice-presidente de Marketing da Associação Brasileira de Logística (Abralog),
Edson Carillo, o impacto dessas medidas no setor portuário brasileiro será em
ampliação dos investimentos, modernização dos terminais e redução dos custos de
operações para incremento da competitividade. Para o especialista, a aprovação
da MP dos Portos traz maior competição entre terminais e, por isso, uma redução
das tarifas para as exportações.
O
especialista em logística explica que a utilização dos portos secos está mais
orientada à postergação do pagamento de tarifas e tributos, portanto, não
deverá haver uma alteração importante no uso destas áreas - além do aumento da
competitividade entre as cerca de 60 opções existentes no País. “Os portos secos
são mais indicados na importação, com possibilidade de transferência dos
materiais (ainda em regime alfandegado) para retroáreas, com tarifas mais
baixas àquelas praticadas nas regiões portuárias”, afirma Carillo.
Alívio na
região portuária sobrecarregada
Portos
sobrecarregados, espaços insuficientes e logística em geral ineficiente
acarretam perdas de tempo, dinheiro e, principalmente, competitividade dos
produtos brasileiros no mercado internacional. Com as medidas anunciadas pelo
governo, abre-se espaço para que os portos secos sejam uma alternativa viável
para melhorar a situação. Com os portos secos, as exportações já chegam ao
porto marítimo prontas para o embarque, diminuindo tráfegos, esperas e
burocracias no local de embarque. Enquanto para as importações tiram-se os
produtos dos portos com pouco - e caro - espaço de armazenagem.
Com a crise
portuária brasileira, que congestionou os portos, sem espaços para movimentação
e armazenagem de contêineres, os portos secos tornam-se uma alternativa viável,
barata e eficaz para incrementar o comércio exterior e melhorar a
competitividade das empresas brasileiras. Além disso, eles promovem o
escoamento das mercadorias desembarcadas na zona primeira e oferecem serviços
adicionais aos quais os portos não estão preparados para executar.
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