Em audiência na
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal foram
ouvidos tripulantes, parentes de tripulantes e o presidente do Sindmar, Severino Almeida. Na ocasião foram abordados diversos pontos de problemas que
ocorrem a bordo dos luxuosos navios que acorrem à costa brasileira todos os
anos.
O Senador Paulo Paim,
que preside a Comissão do Senado, aproveitou para cobrar de autoridades de
saúde e do trabalho uma mais ampla e frequente fiscalização a bordo destas
embarcações.
Algumas ações nesse
sentido já estão sendo tomadas, incluindo a participação do Itamaraty e da
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.
Todas essas ações, que
podem ser lidas com maiores detalhes na reportagem abaixo de Sergio Barreto
Motta, são válidas, mas seriam muito mais eficazes se já tivéssemos um marco
legal que regulasse esse subsetor da Marinha Mercante.
Senador
Paim denuncia abusos nos transatlânticos
Por
Sergio Barreto Motta
Inúmeras
denúncias foram feitas, nesta segunda-feira, na Comissão de Direitos Humanos e
Legislação Participativa do Senado Federal, durante reunião sobre maus tratos
aplicados a tripulantes brasileiros pelas companhias estrangeiras que exploram
o serviço de turismo marítimo. O presidente dessa comissão, Paulo Paim (PT-RS),
se disse indignado com as informações sobre trabalho escravo e informou que deu
entrada em dois projetos para impedir abusos. Paim revelou que irá convocar a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que explique por que
liberou, previamente, os navios que ainda não aportaram no Brasil, dando-lhes um
salvo conduto antecipado.
Paim
afirmou que, quando há processos na justiça, as empresas, todas com sede em
paraísos fiscais, juntam documentos em idioma estrangeiro para procrastinar os
casos e adiar condenações. Para o senador, não há dúvidas de casos de trabalho
escravo, humilhações, assédio moral, assédio sexual e agressões diversas à lei
brasileira. Segundo Paim, nos contratos feitos apenas para a temporada
brasileira, exige-se que 25% da tripulação seja nacional, e para driblar essa
situação as empresas fazem contratos mais longos, como se os tripulantes fossem
atuar por período maior, e, terminada a temporada nacional, iniciam pressões e
humilhações para que os brasileiros desistam dos contratos mais longos.
Rosângela
Bandeira, mãe de Camila, tripulante que morreu a bordo do MSC Musica, disse que
há uso de drogas, sexo profissional e aviltamento moral dos tripulantes.
Afirmou que os seguranças, contratados de empresas israelenses, ajudam os
oficiais a criarem um clima de opressão em relação aos tripulantes brasileiros.
Um bailarino que atuou a bordo, Arthur Souza, deu comovido depoimento. Declarou
que o que ocorre nos navios é similar a trabalho escravo. Acentuou que, se um
profissional quiser desistir da temporada, é obrigado a pagar a própria passagem
de volta e a passagem de ida de seu substituto, o que resulta, com outros
gastos, em dispêndio de US$ 10 mil.
O
senador Paim agradeceu as informações recebidas do presidente do Sindicato dos
Marítimos, Severino Almeida. Segundo Paim, toda a mobilização teve início com
denúncias de Severino, a quem qualificou de um lutador incansável contra as
arbitrariedades das empresas proprietárias dos transatlânticos. Alexandre
Castro, presidente da Associação de Brasileiros Tripulantes em Navios de
Cruzeiro, elogiou o trabalho do Senado. Raul Vital Brazil, do Ministério do
Trabalho, revelou que está sendo feito um esforço em conjunto com o Itamaraty
para evitar problemas para tripulantes brasileiros, que são obrigados a assinar
contratos com base em paraísos fiscais.
Por
sua vez, Aloysio Gomide, do Itamaraty, salientou que já existe uma cartilha
para defender o trabalhador brasileiro que atua no exterior e que se pretende
editar uma cartilha especial para os cerca de 4 mil brasileiros que trabalham
em navios estrangeiros. “O Itamaraty considera os tripulantes brasileiros grupo
vulnerável a arbitrariedades”, disse Gomide, frisando que foi pedido apoio da
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Paim
informou que o Ministério Público do Trabalho pretende fiscalizar esses navios
na atual temporada de verão – que vai de outubro a abril – e lembrou que o
Itamaraty pode receber denúncias 24 horas por dia, no plantão consular. Por
fim, o deputado estadual Jefferson Fernandes (PT-RS) conclamou as assembleias
legislativas a se envolverem na questão.
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