Para quem acha que falamos sós,
vejam abaixo o texto Milton Lourenço, e que pede mais investimentos em
hidrovias. Com todos seus argumentos bem colocados, ele apenas se esqueceu de
dizer que é o meio de transporte mais barato, de manutenção mais barata e,
devido às características do país, também necessita dos menores investimentos
para ser desenvolvido.
Podemos dizer o mesmo do setor
aquaviário como um todo. É só vermos o que exportamos de moedas estrangeiras
para pagar afretamentos externos, e vemos que poderíamos operar nossa própria
frota de Longo Curso, ampliar a de Cabotagem, e ainda melhorar a
empregabilidade e a distribuição de renda no país, com efeitos colaterais como
melhora na balança comercial, diminuição da poluição, de engarrafamentos, etc.
O transporte aquaviário é uma
decisão inteligente. Só não vê quem não quer.
Revista Portuária –
Artigo - 15/08/2014
Hidrovias: um sistema mal aproveitado
Milton Lourenço*
SÃO PAULO - Em 2013, ano da aprovação do novo
marco regulatório portuário (Lei nº 12.815), o Porto de Santos movimentou 114
milhões de toneladas contra 33 milhões de toneladas em 1993, quando foi
promulgada a antiga Lei dos Portos (nº 8.630). Para 2024, a previsão é que
movimente 195 milhões de toneladas, mas há estimativas que prevêem 229 milhões.
Dentro da atual matriz de transporte, que
privilegia o transporte rodoviário, será impossível dar conta de tamanha
demanda. A única saída estaria em aumentar a participação das ferrovias no
transporte de carga dos atuais 15% para pelo menos 60%. Para tanto, seria fundamental
concluir o Ferroanel, que liga o Norte ao Sul do País, mas que, embora seja
projeto da década de 1950, ainda está longe de sua conclusão.
E mais: é urgente pavimentar a BR-163,
especialmente no Pará, onde a maior parte dessa estrada é de terra batida,
deslocando o transporte de grãos do Centro-Oeste para o Norte, especialmente
para o porto de Santarém, com o objetivo de desafogar os portos de Santos-SP,
Paranaguá-PR, São Francisco do Sul-SC e Rio Grande-RS.
Para tanto, é preciso que muitas obras que
exigem investimentos de longo prazo saiam do papel, como, por exemplo, a
hidrovia Teles Pires-Tapajós, que facilitaria o escoamento no chamado corredor
Norte. Só que o ritmo de investimento em logística no País tem sido lento
demais. Basta ver que hoje o Brasil aplica 2,1% do seu Produto Interno Bruto
(PIB) na melhoria da infraestrutura de transporte, ao passo que a China gasta
7,3% e a Índia 5,6%, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria
(CNI).
O problema é que as dificuldades são muitas,
as obras incontáveis e os recursos não abundam num país cheio de carências em
setores essenciais. Isso significa que é necessário estabelecer prioridades, já
que será impossível fazer tudo de uma só vez. Uma prioridade seria investir
maciçamente no potencial hidroviário do País, que hoje é subaproveitado.
Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), apenas 5% do que
o Brasil produz são escoados por rios.
Já estudo preparado pela Confederação Nacional
dos Transportes (CNT) mostra que de 63 mil quilômetros de extensão de rios,
41.635 são de vias navegáveis, das quais apenas 20.956 economicamente
aproveitáveis, ou seja, 50,3%. Para a CNT, faltam manutenção e investimento em
eclusas, abertura de canais, dragagem e outras obras imprescindíveis. No ano
passado, de R$ 5,2 bilhões autorizados para investimento, o governo federal só
conseguiu aplicar R$ 2,4 bilhões, ou seja, 46%.
O mesmo estudo aponta que seriam necessários
investimentos estimados em R$ 50 bilhões para deixar a infraestrutura em
hidrovias em boas condições. Em outras
palavras: se o governo aplicasse efetivamente o que costuma reservar em
orçamento, nem em uma década essa meta seria alcançada. Como não consegue aplicar
por ano sequer a metade do que prevê, nem em 20 anos o Brasil terá um sistema
hidroviário eficiente.
* Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação
Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
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