sábado, 28 de maio de 2011

Bate-bola com os Mercantes: Ofereçam boas condições e teremos tripulantes em todas as categorias para embarcarem


O Blog dos Mercantes recebeu o comentário acima do Luiz C. Leal no post "Esse é mesmo o N/M "Vale Brasil"? e faço questão de destacar aqui.


 Caro Leal,

Obrigado pelo comentário. Quando escrevemos, o que buscamos é justamente isso, o debate. Seus argumentos levaram a isso, por isso a resposta vai em uma nova postagem.

Essa é a questão: social. Primeiro porque não podemos esquecer nunca o lado social. Dificilmente não encontraremos produtos e serviços mais baratos, e muitas vezes melhores que os nossos, no exterior. Segundo, porque a Vale, quer queiram, quer não queiram, foi erguida com dinheiro público, e entregue a preço irrisório para a iniciativa privada. O mínimo que se poderia esperar era que ela revertesse algo em prol do país que a gerou.

Quanto a prazos e preços, são problemas que temos e devemos enfrentar, para que possamos um dia voltar a ter o parque industrial voltado para o setor marítimo que já tivemos, e políticas equivocadas de nossos governos nos fizeram perder. Sobre estaleiros, teríamos condições de atender à solicitação, se não para a construção de todos os barcos, ao menos de parte dele. Mas, uma vez mais, faltou vontade política. O que aconteceu foi que perdemos a OPORTUNIDADE de desenvolver ainda mais nosso parque industrial.

Tripulantes não quererem embarcar para a China? Até poucos anos atrás tínhamos muitos companheiros embarcados em navios da própria Vale, em viagens para a China, Japão, e muitas vezes passavam todo o embarque de nove meses sem vir ao Brasil. Detalhe que esses embarques eram feitos baixo o regime BDC, mas com a diferença de que o dólar era muito mais valorizado à época.

Os mesmos argumentos usados por você foram e são muito usados, por armadores europeus, para explicar a falta de tripulantes de seus países a bordo dos navios. Italianos, franceses, ingleses, alemães, etc desapareceram de bordo, e a desculpa era exatamente essa: eles não queriam embarcar. Nos meus últimos anos como Inspetor da ITF, tive a oportunidade de visitar navios em que encontrei tripulantes italianos, alemães e franceses, e embarcações embandeiradas nestes países. Isso devido à política pública de incentivar o retorno de seus nacionais para bordo de embarcações também nacionais. Por enquanto isso se restringe a oficiais, mas já há um movimento forte para levarem outros tripulantes europeus para bordo novamente.

Tudo depende das condições de embarque que se oferecem, das cláusulas sociais, do salário. Ofereçam boas condições e teremos tripulantes em todas as categorias para embarcarem, bastará treiná-los.

Não discuti a decisão da Vale sobre o ponto de vista empresarial, cujo objetivo é alcançar lucros altos e imediatos para seus acionistas. Discuti sim, sob o ponto de vista do meu país, porque cada vez que um desses barcos atracar em São Luis, levará literalmente 400.000 t do meu país, embora sem deixar nada em troca, a não ser uns poucos dólares, que beneficiarão a ainda menos pessoas.

Se vamos continuar perdendo empregos, indústrias e riqueza para outros países, vai depende de decisões políticas de nosso governo. Não há vocação de nenhum país para nada, a não ser aquelas que a natureza lhe concedeu. O resto é feito através de escolha e trabalho.

E tudo isso depende de vontade e decisão política.

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