A busca de se criar um fato derivado de uma falácia gera momentos em que se confundem e acabam por soltar os verdadeiros motivos que os levam a tomar tal posição. No nosso caso, a reportagem veiculada no Guia Marítimo de 25/05/2011 (ver abaixo) é um exemplo clássico do que está acontecendo em nosso setor.
O problema todo é o famoso custo operacional, que, embora não leve a um prejuízo, como alegado abaixo, leva sim a uma diminuição do lucro exorbitante a que os armadores estrangeiros estão acostumados com a exploração de sistema de Bandeiras de Conveniência.
E como sabemos que esse custo operacional mais alto não leva a um prejuízo?
Simples: qualquer empresa que opere por tempo tão prolongado gastando mais do que arrecadando, vai à falência. E mesmo que um armador tivesse muito dinheiro em caixa, e pudesse se manter operando no vermelho por muito tempo, a opção seria fechar a empresa atual e abrir uma nova, com contratos atualizados e lucrativos. Vi acontecer algumas vezes, durante meu período como inspetor.
Por fim, a última e grande falácia do momento: a falta de tripulantes, principalmente oficiais. A reportagem afirma que existe atualmente um déficit de 288 tripulantes. Se isso estivesse ocorrendo, e com uma conta muito favorável aos armadores, teríamos 20 embarcações paradas por falta de tripulação. Comissões de parlamentares estariam visitando as embarcações paradas e eles estariam alardeando aos quatro ventos os nomes e posições aonde esses barcos estão aguardando tripulantes para poderem operar. Mas como isso não ocorre, esses navios continuam singrando os mares brasileiros, transportando mercadorias e prestando serviços de apoio na exploração de petróleo.
O que ocorre, e vai ocorrer sempre, são casos pontuais, como o desembarque emergencial de tripulantes por motivos de doença ou acidentes de trabalho. Como as empresas não mantêm tripulantes em stand by, para suprir essas necessidades, leva-se um tempo até que se consiga outro tripulante, e este seja deslocado até a embarcação.
Este tipo de situação ocorre, seja no mercado doméstico brasileiro, seja no mercado internacional das BDCs. Presenciei este tipo de situação diversas vezes quando atuava como Inspetor da ITF, e agora também já presenciei este tipo de situação a bordo.
Não podemos nos deixar enganar com falsos argumentos, e muito menos nos deixar levar para posições contrárias aos nossos interesses. O que precisamos são melhores condições de salários, sociais e de respeito por parte dos armadores.
Guia Marítimo – Reportagem - 25/05/2011
Mercado costeiro do Brasil enfrenta falta de tripulação
Navios que operam na costa do Brasil estão sofrendo com a falta de funcionários capacitados, o que leva a um número de surpresas desagradáveis para as companheiras petroleiras e operadoras, que esperavam capitalizar a grande reserva de petróleo do país.
Navios que operam na costa do Brasil estão sofrendo com a falta de funcionários capacitados, o que leva a um número de surpresas desagradáveis para as companheiras petroleiras e operadoras, que esperavam capitalizar a grande reserva de petróleo do país.
A cada ano, cerca de 500 funcionários são treinados no Brasil, mas o número não é suficiente para atender à demanda do mercado costeiro brasileiro nem do elemento humano requerido para as operações de suportes aos navios costeiros.
De acordo com o vice-presidente do OSM Group, Jan Morten Eskilt, os custos com pessoal surpreendem as empresas que chegam ao país: "Como empresa administradora, vemos os armadores se moverem para o Brasil e se esquecendo que estão dispondo embarcações em um mercado doméstico. Eles ficam surpresos com os custos operacionais e, mais ainda, com os custos com pessoal. Nesse ponto, muitas empresas têm tido problema", enfatizou.
Com os custos operacionais permanecendo incertos e a maioria dos contratos de charter a longo prazo sendo acertada apenas com aumentos de preços com base na inflação, os ganhos diários podem ficar abaixo dos custos operacionais o que, consequentemente, levaria os armadores a terem dificuldade de pagar os custos capitais.
Olhando para o crescimento do negócio costeiro do Brasil e o número de funcionários necessários para servir ao setor, o ano de 2011 já tem déficit de 288 profissionais - um número que deve aumentar para ao menos 1.339 funcionários em 2014 e que só deve sair da escassez em 2020
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