Aquilo que
o Blog dos Mercantes vem denunciando nos últimos anos vem cada vez se fazendo
mais nítido, com mais elementos e mais transparente a todos aqueles que
quiserem ver. Mais uma vez o presidente do Sindmar, Severino Almeida (leia matéria abaixo), vem a
público denunciar o crescente desemprego de marítimos, com luz sobre os
Oficiais e Eletricistas Mercantes, seus representados; a política desastrosa de
formação desses profissionais, que vem acontecendo em ritmo muito mais intenso
do que a necessidade do mercado; desrespeito a leis e regras na contratação de
embarcações estrangeiras, com a maior empresa estatal envolvida; os problemas
sociais advindos de política tão equivocada; e o erro econômico-contábil de que
navios estrangeiros são mais baratos, embora o pareçam em um primeiro momento.
A tão bem
feitas colocações, o Blog tomará a liberdade de acrescentar mais algumas. A
primeira é a já batida, mas ainda verdadeira e atual: um país do tamanho do
Brasil, e com suas características econômicas e geográficas, não pode se dar ao
luxo de prescindir de uma frota mercante própria, moderna e grande o suficiente
para manter seu comércio e o transporte de seus produtos.
A segunda é
o tiro de bazuca que damos em nossos pés com política tão equivocada. No
momento em que nossas contas externas se encontram tão deterioradas, com a
evasão de divisas a ritmo galopante, agudizamos este processo em centenas de milhões
de dólares mensais com o afretamento de navios estrangeiros, exportando, além
de divisas, empregos e desenvolvimento.
Isso em nome de um lucro de curto prazo.
A terceira,
mas não menos importante, é o risco de jogarmos 10 anos de investimentos no
ressurgimento de nossa indústria naval pelo esgoto. Perderíamos não só os estaleiros e suas
instalações, que ociosos acabariam abandonados e sucateados. Perderíamos também
anos do treinamento e experiência de milhares de profissionais, o conhecimento
técnico adquirido neste período, a possibilidade de seguirmos desenvolvendo
tecnologia e conhecimento a ponto de chegarmos a atuar como players neste
seleto mercado. Lembrando que nenhum país dominou a indústria naval em curto
tempo, e embora 10 anos pareça um prazo longo, não o é para esta indústria.
A quarta é
o risco de voltarmos a patinar na desesperança e apatia que já vivemos. Isso em
nome de um tecnicismo contábil-administrativo equivocado e comprovadamente
defeituoso. Não deu certo nos anos 90, não dará agora.
A quinta é
o contrassenso de um governo que precisa recuperar credibilidade e
popularidade, mas tem insistido em tomar uma série de decisões, que se
considerarmos o efeito cascata, virão a prejudicar milhões de brasileiros.
Tirando a
visão deturpada do custo mais baixo de navios estrangeiros afretados, não
consigo ver nenhum outro argumento lógico por tal opção.
Mas fica a
critério daqueles que nos acompanham acrescentarem outros argumentos contra tal
decisão.
Líder
marítimo critica gestão de Graça Foster
Por Sergio
Barreto Motta
Recentemente,
esta coluna publicou informações, atribuídas a fontes, no sentido de que a
Petrobras estava se posicionando contra o aluguel de navios – de bandeira
brasileira – de sua subsidiária Transpetro, em favor do aluguel (afretamento)
de unidades estrangeiras. Sobre a questão o presidente do Sindicato dos
Oficiais de Marinha (Sindmar), Severino Almeida, confirmou a informação. Disse
ele: “Na gestão de Graça Foster a Petrobras está claramente contra o uso de
navios nacionais. Prefere os estrangeiros, porque, em uma visão imediatista,
têm preço mais baixo.”
Segundo
Almeida, o programa EBN (de Empresa Brasileira de Navegação) morreu sem aviso
prévio – estabelecia contratação de empresas privadas para contratarem navios,
que seriam alugados por oito anos à estatal; quanto aos programas de expansão
da Transpetro – Promef I e Promef II – diz que Graça Foster não admite o Promef
III e, com muita sorte, serão recebidos os 46 navios já contratados. Os programas
prevêem 49 navios, mas resta contratar três, o que Almeida também acha que
estão esquecidos.
Sobre os
preços, afirma que, eventualmente, o navio verde e amarelo pode ser mais caro,
mas na verdade não o é, pois, sem apoio a navios nacionais, aumenta o desemprego
de metalúrgicos e marítimos, o que onera INSS, seguro-desemprego e prejudica os
filhos desses profissionais em sua formação. Além disso, com a alta recente do
dólar, até o preço mais baixo do navio alugado no exterior pode ser revertido.
Revelou que a Petrobras tem alugado navios a longo prazo – até dez anos – o que
mostra intenção firme de usar frota estrangeira. Acentuou que, em relação a
plataformas, a opção nacional parece ter sido mantida, desde o Governo Lula, ao
contrário do que ocorre com navios.
Acrescenta
haver em tudo isso algo macabro: “A entrega de navios pelos estaleiros está
atrasada. Com isso, a frota da Transpetro vai ficando mais velha do que já era
e, assim, a Petrobras passa a ter um argumento para reduzir o uso de navios
nacionais, da frota da Transpetro”. Cita que, por serem velhos, esses navios,
se ficarem sem uso, terão de ser vendidos como sucata, pois o mercado
internacional exige navios mais modernos para transporte de petróleo a grandes
distância. Sobre o preço dos navios nacionais, aceita que, após os estaleiros
terem ficado com teia de aranha, é normal que, no retorno, os preços sejam mais
altos. Ele acha, no entanto, que a diferença em relação a preços coreanos e
chineses é excessiva e prejudica todo o mercado interno.
Almeida teme
desemprego em sua classe. Afirma que, este ano, a Marinha do Brasil irá lançar
no mercado 974 oficiais de marinha mercante, mais 180 da chamada Academia
Transpetro, sendo 120 formados no Rio e 60 em Belém (PA). Diz que no dia 3 de
julho havia 251 oficiais desempregados relacionados no Sindmar e, como a
maioria procura vagas por contra própria, ele acredita que o excesso de
oficiais esteja entre 500 e 700 profissionais. Admite que a situação não é pior
em razão do mercado de barcos de apoio – offshore – onde são requisitados
oficiais tanto para unidades nacionais como para estrangeiras que ficam algum
tempo nas costas nacionais.
Na Antaq
Diante dessa
nova política da Petrobras, Severino Almeida informa que deu entrada com ofício
na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), para que seja cumprida
a Lei 9.432, que permite uso de navios estrangeiros em proporção fixa à frota
própria. Explicou que, quando a Petrobras e a Transpetro anunciavam navios em
profusão, a Antaq abriu uma exceção, permitindo à estatal afretamento extra, a
pretexto de demora na entrega de navios.
Com a nova
política da estatal para o mar, Almeida vai exigir que a Antaq cumpra
estritamente a lei e seja autorizada a alugar navios estrangeiros dentro do
teto exato permitido, sem exceções ou privilégios. Se não houver atendimento ao
pleito, o Sindmar irá à justiça.
Por fim,
Severino Almeida faz uma denúncia, que informa ser 100% confirmada por
documentos. Revela que sempre se falou em uso ilegal de marítimos estrangeiros
no Brasil, mas a prova dos fatos sempre foi dificultada. Em um caso recente, no
entanto, um marítimo espanhol forneceu ao Sindmar todas as informações. Disse
que trabalhava na sede da empresa espanhola Elcano e foi convocado a trabalhar
no Brasil, com visto indevido. O cidadão tinha visto para realizar negócios,
mas confessa, publicamente, que trabalhou em navio da Elcano na cabotagem
brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário