segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Golpismo barato e covarde não é o mesmo que com Collor

É de conhecimento público que foi autorizado a abertura do processo de impeachment contra a Presidente da República, Dilma Roussef, pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Como afirmou o jurista Adilson Dallari, a decisão de Cunha é legal, mesmo que seja absolutamente anti-ética. O Presidente da Cãmara recebeu um pedido de abertura de processo de impeachment, e cabia a ele decidir por abrir ou não o processo. O fato se torna anti-ético pois vem exatamente na sequência da decisão do PT em votar pela cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara. 

A atitude de Cunha vem apenas corroborar a decisão petista, mesmo que ela não seja ilegal.

A decisão de Cunha coloca Dilma na possibilidade se ser a segunda presidente a ter seu mandato abreviado por um processo de impeachment. Mas diferente do que o ex-Presidente e atual Senador Collor afirmou em entrevista, as duas situações são completamente distintas. Collor era um presidente com uma representação parlamentar insignificante, precisava de acordos com praticamente todos os partidos grandes para manter uma base parlamentar, mas sua própria fraqueza o colocava no lado fraco da corda. Os vôos do "Morcego Negro", junto com pressão popular, crise econômica, da esmagadora maioria da classe política, da imprensa, e da própria elite brasileira, rapidamente fizeram essa aliança  se desfazer em pó: Collor caiu.

Dilma não tem a maioria no Congresso, mas ao contrário de Collor, tem um partido, que se não é mais o maior, ainda é um dos três maiores, e empresta a ela bastante peso nessa balança. Sua base aliada, de modo geral, também não está com Dilma devido a acordos precários, mas principalmente por convicção ideológica, não de implantação de um regime comunista no país, mas sim de um estreitamento da distância entre os mais pobres e os mais ricos. Tal qual durante o período de Collor, hoje também vivemos uma crise econômica, mas diferente daquela, a atual foi atiçada e aprofundada por disputas políticas que visam projetos de poder, e não o melhor para o país.

Dilma também já recebeu apoio público de boa parte da liderança política brasileira, consolidada pela nota em apoio à Presidente, emitida em conjunto por todos os Governadores do Nordeste, e que denúncia o golpismo, o egoísmo e a miopia política do Presidente da Câmara ao aceitar o processo de impeachment. Fora isso ainda deverá receber apoio de vários estados do Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país, que devem mobilizar suas bancadas para apoiarem a legalidade, e a ordem normal e democrática da alternância de poder no país.

Tudo isso além de seguir tendo expressivo apoio popular, mesmo com a crise econômica, a campanha midiática da imprensa brasileira contra a figura da Presidente, de Lula e do PT, e as seguidas denúncias de corrupção e tentativas infrutíferas de ligar os nomes de Dilma e Lula a ela.

Como se vê e coloquei acima, a situação é bastante diferente. Claro que Dilma e seu governo não estão em uma posição confortável, mas acredito que o pior que irá acontecer, é um acirramento das tesões políticas, com uma maior paralisação dos trabalhos parlamentares, e consequente aprofundamento das crises econômica, política e institucional que vivemos.

Não vejo o atual processo com chance de êxito, e acredito que os próprios iniciadores do mesmo tenham a mesma visão que eu. Mas com certeza o processo já será o suficiente para piorar drasticamente a situação brasileira. 

As esperanças da oposição devem repousar nisso, e no achismo de que após um período tão negro na vida do país. não restará opção à população, que não seja a mudança no poder. 

A opção imediatista seria bem mais difícil e traumática, porque passaria por uma prova concreta de corrupção por parte da presidente, ou pelo esfacelamento da base política que a apóia, Qualquer uma das duas opções poderia ser suficiente para promover a vitória da oposição no processo de impeachment. Mas acho essas opções bastante difíceis de se concretizarem.

Então o que temos é um cenário bastante sombrio, em que as disputas políticas em torno do processo de impeachment irão dominar a vida do país, e deverão refletir de forma bastante negativa em nossa economia, e dependendo da evolução dos fatos, nas ainda frágeis instituições democráticas do país.

Seria muito bom que alguns setores de nossa sociedade aprendessem um pouco sobre o que é democracia, e que pudéssemos ter um embate político macro mais voltado aos interesses nacionais, e menos a individuais.

Utopia minha? Talvez. Mas ainda acho que Dilma não cai, e que o desenrolar disso será ruim para o país, mas seu final poderá trazer algo de positivo.

A nota abaixo foi retirada do sítio Brasil 247

"Diante da decisão do Presidente da Câmara dos Deputados de abrir processo de impeachment contra a Exma Presidenta da República, Dilma Roussef, os Governadores do Nordeste manifestam seu repúdio a essa absurda tentativa de jogar a Nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional. Gerações lutaram para que tivéssemos plena democracia política, com eleições livres e periódicas, que devem ser respeitadas. O processo de impeachment, por sua excepcionalidade, depende da caracterização de crime de responsabilidade tipificado na Constituição, praticado dolosamente pelo Presidente da República. Isso inexiste no atual momento brasileiro. Na verdade, a decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade. Diante desse panorama, os Governadores do Nordeste anunciam sua posição contrária ao impeachment nos termos apresentados, e estarão mobilizados para que a serenidade e o bom senso prevaleçam. Em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda."

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