quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sindmar no Monitor Mercantil

O Primeiro Presidente do Sindmar, Severino Almeida, deu entrevista interessante ao Monitor Mercantil, que foi veiculada em 24 de novembro último. Os temas tratados vão desde a crise político-econômica que vem solapando a economia nacional no último ano, e que no setor de Marinha Mercante vem sendo mais severa que em outros segmentos, passando por treinamento de pessoal, crise da Lava Jato, e chegando ao problema dos navios de Cruzeiro, que entra ano, sai ano, navegam por nossas costas e causam problemas ao meio-ambiente, passageiros e tripulantes, ficando quase que impunes, devido a falta de um marco legal que regule o sub-setor no país.

Vale uma lida.

Monitor Mercantil – Reportagem – 24/11/2015

Crise é política e fictícia

Marcelo Bernardes

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), Severino Almeida Filho, um dos gargalos que o segmento enfrenta é o de infraestrutura. O setor portuário, por exemplo, apesar de ter recebido investimentos em sua estrutura, segundo ele, ainda necessita de investimentos para ser competitivo. “Nós ainda sofremos muito as consequências de uma mentalidade 'rodoviarista', sob o ponto de vista político ainda não eliminada no modal de transporte no Brasil. Nós temos dificuldades que não são pequenas, são históricas e difíceis de se corrigir”, disse, ressaltando que o excesso de burocracia na atividade afugenta investidores. Além disso, frisou que o setor carece de um órgão regulador.

Em entrevista ao MONITOR MERCANTIL, Severino Almeida fala sobre o setor, inclusive sobre a falta de treinamento de profissionais para atuarem em navios de cruzeiros, e afirma que o país passa por uma crise fictícia – por interesses políticos – e que não há indefinição no Congresso, apenas uma política de dificultar.

Como o Sindmar analisa o atual momento político/econômico do país?

– Estamos vendo de forma preocupante. Os interesses políticos, aparentemente, estão bem acima dos nacionais. Essa crise que nós estamos vivendo, apesar de fictícia, é muito séria porque está difícil de se governar dessa forma. Não acredito nessa campanha “Fora, Dilma!”, que não vai sair, mas tem prejudicado o nosso setor. Prefiro Dilma a sem ela.

O que quer dizer com fictícia?

– Quero dizer que é uma disputa política. As eleições foram vencidas pelo partido da Dilma, com uma diferença muito pequena, o que estimulou muito a criação de toda essa ficção.

Em sua opinião, essa indefinição política no Congresso está ou não prejudicando vários setores, inclusive o da Marinha Mercante?

– Acho que não há indefinição. Acho que há uma política de dificultar. O Brasil não está assim. Isto para mim está muito definido, muito claro. Não vejo indefinição. Agora, por que está efetivamente atrapalhando o nosso setor? Porque o nosso setor cresceu ao longo do Governo Lula e depois com a Dilma em cima de condições políticas bastante estáveis e vários investimentos foram necessários. E hoje, nós não vemos condições para isso. O principal ator no nosso setor é a Petrobras, e todos sabem disso, e a estatal petroleira está sofrendo as consequências da política que está se fazendo em cima dessa Operação Lava Jato. Nós, como consequência disso, estamos sofrendo bastante.

O setor tem registrado demissões?

– Sim. Tem havido bastante. Na Marinha Mercante, por conta dos desinvestimentos da Petrobras, no nosso setor, pelo menos, 3 mil já foram demitidos.

Quanto a variação cambial, o dólar nas alturas beneficia ou não o setor?

– Há aspectos positivos e negativos. Por exemplo, os nossos salários e nossos gastos em termos de impostos sobre mão de obra brasileira, nós ficamos mais baratos, porque a referência que o armador costuma fazer – já que o armador nacional praticamente inexiste – a referência de custo sempre é o dólar. Porém, as empresas que fizeram alguns investimentos tendo o dólar como referência estão hoje numa situação difícil. A coisa só não está pior porque o “bunker” (consumo de óleo das embarcações) reduziu bastante. Nós estamos com preço extremamente baixo, considerando o que tínhamos há pouco tempo. No horizonte, o preço do “bunker” não demonstra que vai subir. Isso é um aspecto bastante positivo.

Quais são os gargalos do setor?

– Acho que o principal gargalo é de infraestrutura, apesar de ter havido bastante investimentos na estrutura portuária, mas ainda há muito o que desejar nessa área. Acho que a gente sofre com isso. Nós ainda sofremos muito as consequências de uma mentalidade “rodoviarista”, sob o ponto de vista político ainda não eliminada no modal de transporte no Brasil. Nós temos dificuldades que não são pequenas, são históricas e difíceis de se corrigir. Nós ainda temos em nossa atividade, por exemplo, um excesso de burocracia terrível que assusta muito os interessados nessa atividade. Nós não temos em nossa atividade um órgão governamental efetivamente que regulamente estritamente o setor. Pelo contrário, nós temos muito cacique para pouco índio. É muito complicado e o setor sofre muito com isso.

Como está a qualificação profissional no segmento?

– Esse é o lado bom porque tem se desenvolvido. Nós temos feito, pelo menos no Sindmar, melhoria na qualificação. Nós temos, anualmente, atingido em torno de 1.400 oficiais mais bem treinados em nossos cursos. A Marinha do Brasil continua fazendo uma formação digna de reconhecimento. Acho que o Brasil, nesse aspecto, não tem esse problema.

Como o Sindmar está analisando esses incidentes que estão ocorrendo em navios de cruzeiros?

– Como sempre analisou. É um absurdo o setor de cruzeiros. O nosso país ainda não tem aquele olhar crítico, maduro, para pensar nas vantagens que este setor pode trazer para o país. Infelizmente a navegação de cruzeiro no Brasil ainda atrás mais prejuízos do que vantagens. A carga nesse tipo de navio é o passageiro. Contêineres não sentem dor, não morrem afogados, mas a carga de navio de cruzeiro sofre consequências terríveis, seja por intoxicação, seja por acidente que possa acontecer que levam ao falecimento. Essa carga necessita de uma quantidade imensa de tripulantes específicos de hotelaria e outros ramos para poder atender às necessidades dessa carga. Infelizmente, ainda estamos muito longe de um tratamento adequado para esse profissional, que cuida dessa carga tão valiosa a bordo da navegação de cruzeiro. Nesse setor, o Brasil ainda está a anos-luz de termos o que comemorar. Por enquanto, temos muito o que lamentar.

Então, falta fiscalização por parte do governo nesse setor?

– A fiscalização falta não só nesse setor. O Brasil está muito mal. Sou admirador desse setor de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, porque com tão pouca gente eles ainda conseguem fazer um trabalho elogiável, mas é muito pouco. Se multiplicarmos o que temos por dez, diria que nós iríamos começar num tamanho razoável. Hoje, o país, sob o olhar da Organização Internacional do Trabalho, nós não temos condições de cuidar bem da relação de trabalho com menos de 5.600 especialistas na segurança de trabalho. No nosso setor atua cerca de meia centena, número ridículo. E não é só o setor cruzeiros, mas em todas as relações de trabalho que existe no Brasil. O Estado, infelizmente, não está atendendo às necessidades. Deixa a desejar. E, com essa junção de ministérios, acho que não irá melhorar. As dificuldades vão continuar.

Nesse sentido, qual seria o primeiro passo do governo para começar a ver uma luz no fim do túnel?

– Do mesmo jeito que temos na cabotagem (a Lei 9.432), nós deveríamos ter uma legislação específica para cruzeiros que pudesse reunir em um coisa única um farol para o Executivo poder atuar mais eficientemente nesse setor.

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