O texto abaixo é de O Globo, jornal que por si só já carrega uma enorme dose de suspeição, e quando trata de um assunto extremamente sério, como a crise na indústria naval e da Petrobrás, não consegue se esquivar de desinformar o seu leitor.
Vejam bem, a crise da Petrobrás NÃO é resultado da operação Lava-jato. A crise é resultado da retração mundial do setor offshore, devido ao aumento da produção terrestre da commodity, e da exploração de outras formas de extração, como o xisto norte-americano, que apresentam custos de produção muito mais baixos que o offshore, e que puxaram o preço do barril para baixo, tornando a exploração offshore deficitária.
Claro que no Brasil isso é agravado pela crise política que é criada pela Lava-jato, e ainda pela mobilização insana e anti-nacionalista pelo impeachment da Presidente Dilma.
Por outro lado, há meia verdade em dizer que a crise na Indústria Naval é devido à dependência da Petrobrás. Isso é certo, mas escondem o fato de que nossa Marinha Mercante tradicional está restrita a umas poucas embarcações, que operam em nossa costa, devido ao forte lobby que existe em prol das empresas de navegação estrangeiras, que dominam completamente nosso comércio internacional, cometendo o crime de, inclusive, fechar as portas a empresas brasileiras, para o comércio mais intenso com o continente africano, ou com algumas partes da Ásia e mesmo da América Latina.
Tudo isso poderia ser contornado se tivéssemos uma frota mercante adequada aos interesses nacionais, mas, como dissemos acima, o lobby contra não deixa.
Por último, "esquecem" de imputar a devida responsabilidade à oposição, que age de forma irresponsável, ao aumentar em muito a crise econômica, através da criação de uma crise política, que visa apenas a luta pelo poder e ao atendimento exclusivo de interesses que não são os do país.
Abram o olho.
Empregos naufragam
Bruno Rosa e Daiane Costa
Estaleiros do Rio demitiram mais da metade dos funcionários este ano. Só ontem, Eisa cortou 3 mil
As
empresas do setor naval fluminenses demitiram mais da metade dos seus
funcionários este ano. De acordo com a Confederação Nacional dos
Metalúrgicos, já foram cortadas 14 mil vagas em 2015, reduzindo para 12
mil o total de empregados no segmento. Só ontem, o estaleiro Eisa, na
Ilha do Governador, dispensou cerca de 3 mil funcionários e suspendeu as
atividades. A empresa está prestes a entrar com um pedido de
recuperação judicial. Assim que chegaram ao trabalho, os funcionários do
Eisa se depararam com os portões fechados e, sem emprego, decidiram
protestar, bloqueando parte do acesso ao Aeroporto Internacional do Rio.
Em
todo o Brasil, a situação também preocupa: do Rio Grande do Sul a
Pernambuco, já foram 28 mil demitidos este ano, reduzindo o contingente
de empregados a cerca de 54 mil trabalhadores. O setor naval vem
enfrentando sua pior crise desde os anos 1980, sobretudo, com o corte de
encomendas da Petrobras e de outras empresas do setor. Segundo
especialistas, a crise do setor começou no ano passado, quando a
Petrobras foi forçada a pisar no freio dos gastos, por causa dos
desdobramentos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga
casos de corrupção na estatal.
Com
a credibilidade afetada, a companhia passou a enfrentar dificuldade em
obter empréstimos no exterior, o que a faz reduzir os investimentos — só
entre este ano e 2016, o corte chega a US$ 11 bilhões —, suspendendo
encomendas de embarcações de apoio, navios-plataforma e sondas de
exploração.
—
A Petrobras está cortando encomendas. A Transpetro, sua subsidiária,
está fazendo o mesmo. A situação do Eisa é semelhante à de outros
estaleiros do Rio, que vêm demitindo com força ao longo deste ano. A
expectativa é de que o ano de 2016 seja pior, pois não há perspectiva de
mudanças no cenário enquanto a Petrobras não voltar a elevar seus
investimentos. Por isso, no Rio, o corte já chega a 14 mil pessoas. E,
no Brasil, as demissões atingem cerca de 28 mil pessoas, já contando
desligamentos feitos pelo Eisa — disse Edson Carlos Rocha da Silva,
coordenador nacional da Indústria Naval pela Confederação Nacional dos
Metalúrgicos e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói.
DEMITIDOS EM JULHO NÃO RECEBERAM
O
Eisa faz parte do Grupo Synergy, do empresário Germán Efromovich. O
grupo também controla os estaleiros Eisa PetroUm, em Niterói, e o
estaleiro Mauá, além da empresa de aviação Avianca. Ontem, quem chegava
para trabalhar no Eisa da Ilha, às cinco da manhã, recebia uma carta da
empresa informando sobre os cortes. “Com muita tristeza e dor nos vemos
na necessidade imediata de realizar corte de pessoal. Comunicamos por
meio desta que estamos efetuando a rescisão do seu contrato de trabalho,
dia 11/12, devendo encerrar suas atividades de forma imediata”, dizia a
carta.
Segundo
representantes sindicais, o estaleiro vai entrar com pedido de
recuperação judicial. “A única alternativa para manter o estaleiro
funcionando é diminuir ao máximo os custos operacionais”, informava um
dos trechos da carta. Os problemas envolvendo o Eisa ocorrem cerca de
seis meses após o Eisa PetroUm (que alugava a área do Mauá) ter fechado
as portas e demitido 3,5 mil funcionários, depois de a Transpretro
cancelar a encomenda de três petroleiros. A Transpetro informou que
rescindiu o contrato com o PetroUm, em julho de 2015, devido ao não
cumprimento de entregas do estaleiro. E, até hoje, dizem os sindicatos,
os trabalhadores não receberam as indenizações. Por isso, ontem,
enquanto os colegas do Eisa eram demitidos, cerca de 150 ex-funcionários
do Eisa PetroUm fizeram uma passeata pelas ruas de Niterói para pedir o
pagamento das verbas rescisórias.
O
presidente do Sindimental-Rio, Jesus Cardoso, teme que os funcionários
desligados ontem também fiquem sem receber direitos como 13° salário,
multa e férias, além do reajuste salarial de 9,8%, que é retroativo ao
mês de outubro e ainda não foi pago.
—
Há quatro meses, a mesma empresa demitiu os metalúrgicos do Estaleiro
Mauá (Eisa PetroUm), e até hoje eles não receberam nada. A empresa já
estava com dificuldades de pagar aos funcionários. Só estava pagando até
R$ 3 mil por mês, mesmo a quem ganhava mais. Fomos totalmente
surpreendidos pelos portões lacrados com chapa de aço e a carta.
Queremos nossos direitos — diz Cardoso.
METALÚRGICOS TERÃO DE ESPERAR
Segundo
Cardoso, ontem foi feita reunião com o presidente do estaleiro, Diego
Salgado. Cardoso destacou que a empresa informou que entraria no mesmo
dia com um pedido de recuperação judicial em razão de problemas
financeiros causados por débitos de três armadores, e que os
metalúrgicos terão de esperar. Segundo fontes, o Eisa tinha contrato
para construir um navio patrulha para a Marinha e duas embarcações de
apoio para a Petrobras.
—
A empresa disse que não está conseguindo se manter, mas que restaram
alguns trabalhadores empregados que manterão o estaleiro vivo enquanto
ele tenta se recuperar — contou o presidente do Sindimetal.
Procurado
pelo GLOBO, o Estaleiro Eisa não quis dar informações sobre as
demissões e sobre o pedido de recuperação judicial. Além do Eisa, outros
estaleiros do Rio vêm cortando funcionários. Segundo Edson Carlos
Rocha, o Inhaúma, do grupo Enseada Indústria Naval, também pode ter de
demitir duas mil pessoas por conta das incertezas envolvendo os
contratos de construção de plataformas da Petrobras. Em Niterói, os
estaleiros Aliança, UTC e Vard já dispensaram mais de 1,6 mil
trabalhadores somente neste ano.
Em
Angra dos Reis, o Brasfels, que já dispensou 500, prepara o corte de
mais 1,5 mil trabalhadores até janeiro, já que não vem recebendo o
pagamento da Sete Brasil pela construção das sondas do présal, pois a
companhia ainda não assinou o contrato de afretamento (aluguel) dessas
sondas para a Petrobras. Essa indefinição vem assolando outras empresas
do setor, como os estaleiros Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde
cerca de 5 mil metalúrgicos já perderam o emprego, e Maragogipe, na
Bahia, com cerca de 7 mil demissões.
—
Essa crise já é maior que a dos anos 1980. O problema é que somos
extremamente dependentes da Petrobras. Tudo está sendo cancelado. Não há
uma perspectiva positiva. O ano de 2016 vai ser péssimo. Além disso, há
a queda no preço do petróleo e a falta de credibilidade do país, que
não consegue atrair investidores. Tudo aconteceu ao mesmo tempo —
destacou Maurício Almeida, vice-presidente da Associação das Empresas
Navais e Offshore de Niterói e São Gonçalo (Asscenon).
Já
o Sinaval, que reúne as empresas do setor, contabiliza 22 mil demissões
este ano no país. Em nota, o presidente da entidade, Ariovaldo Rocha,
informa que “o principal impacto na saúde financeira das empresas do
setor foi causado pela redução do preço do barril de petróleo, que
resultou na queda das receitas da Petrobras, o principal contratante da
indústria da construção naval. Estaleiros com contratos com a Petrobras,
Transpetro e Sete Brasil sofrem dificuldades financeiras”.
“Essa
crise já é maior que a dos anos 1980. O problema é que somos
extremamente dependentes da Petrobras. Tudo está sendo cancelado.”
Maurício Almeida - Vice-presidente da Asscenon