terça-feira, 19 de abril de 2016

Da Série: Não Se Deixe Enganar

O que o custo da mão de obra tem a ver com isso?

Primeiro partimos da seguinte situação: desde o ano passado que os trabalhadores não conquistam aumentos reais de salário, salvo pouquíssimas categorias.

O artigo da Gazeta do Povo passa o tempo todo falando de problemas de infraestrutura, baixo investimento e manutenção e ampliação da malha intermodal, o que aumenta o custo pelo uso do transporte rodoviário (como prioritário), e aumento do tempo de viagem pela má manutenção das estradas.

Abaixo destaquei o parágrafo onde o artigo elenca alguns dos fatores que aumentaram o custo da logística de transporte. Nesse elenco de fatores, não tenho o menor medo de apontar o fator mão de obra especializada como ínfimo na construção do custo do transporte, e foi colocado aí apenas para tentar legitimar o arrocho salarial que o empresariado brasileiro vem tentando impor nos últimos anos.

"Resende destaca que entre os fatores que mais influenciaram na evolução dos gastos com logística estão o aumento da burocracia, restrição para distribuição nas regiões metropolitanas, custo com mão de obra especializada, aumento dos preços dos combustíveis e falta de infraestrutura de apoio nas estradas, que tem um peso forte nas despesas logísticas."

Alguns dos fatores são muito mais lesivos na construção desse custo, como restrição de distribuição nas regiões metropolitanas, ou falta de infraestrutura nas estradas, mas o título do artigo é mão de obra (o seu salário), e combustível (Petrobrás).

Não seja ingênuo. Estão mentindo para você.



Mão de obra e combustível inflam gastos com logística

O cenário de recessão, com baixo investimento e queda no consumo, ajudou a potencializar os gastos do setor produtivo com logística.

No ano passado, quase 12% da receita das empresas foi consumida com despesas de transportes e armazenagem, segundo levantamento feito pela Fundação Dom Cabral, com 142 empresas de 22 segmentos industriais. Em 2012, esse porcentual estava na casa de 10,54% e em 2014, em 11,5%.

Na média, os custos do ano passado tiveram um avanço real (descontada a inflação) de 1,8% comparado ao do ano anterior. Em alguns setores, no entanto, o aumento das despesas com logística foi mais perverso e corroeu de forma expressiva o ganho das companhias.

No setor de metalmecânica, os gastos cresceram 60% (de 5% para 8,01%); na mineração, 58% (de 8,5% para 13,43%); farmacêutico e cosméticos, 56% (de 5% para 7,79%); e papel e celulose, 48% (de 13% para 19,25%).

“Houve uma combinação muito desfavorável para as empresas em 2015: as receitas caíram e os custos logísticos continuaram a subir”, diz o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, um dos coordenadores do levantamento.

Segundo ele, os gastos com logística subiram mais entre as empresas com
faturamento entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. Para esse grupo de companhias, os custos avançaram 30%.

Resende destaca que entre os fatores que mais influenciaram na evolução dos gastos com logística estão o aumento da burocracia, restrição para distribuição nas regiões metropolitanas, custo com mão de obra especializada, aumento dos preços dos combustíveis e falta de infraestrutura de apoio nas estradas, que tem um peso forte nas despesas logísticas.

Entre as empresas pesquisadas pela Fundação Dom Cabral, 80% afirmaram que usavam, predominantemente, o transporte rodoviário para movimentar suas cargas, sejam de produtos acabados ou de matéria-prima. O problema é que, com o ajuste fiscal do governo federal, os investimentos em infraestrutura rodoviária despencaram.

Houve uma combinação muito desfavorável para as empresas em 2015: as receitas caíram e os custos logísticos continuaram a subir.

Paulo Resende?

O orçamento caiu de R$ 22 bilhões para R$ 15 bilhões. E apenas 15% desse
montante foi pago, segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Resultado: 57% das estradas pavimentadas continuam em condições ruins e elevando os gastos das empresas.

“A cada ano nossa infraestrutura fica mais deficitária e nosso custo logístico
piora”, diz o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz. Segundo ele, o Brasil precisaria investir, ao menos, duas vezes mais do que o volume atual só para manter a infraestrutura. “Isso sem contar o que seria necessário para melhorar a qualidade das estradas, portos e ferrovias.”

Segundo ele, até 2014, o país gastava US$ 2.224,40 por contêiner exportado enquanto o custo dos concorrentes foi de US$ 1.058,05 e dos países mais competitivos, como EUA, Cingapura, Japão e Coreia do Sul, de US$ 1.003,37. “A tendência é piorar, pois continuamos sem investir em infraestrutura.”

O professor da Dom Cabral concorda. Ele explica que o avanço de 1,8% do custo médio em 2015 só não foi maior porque alguns setores apresentaram recuo nos gastos. A queda, no entanto, não é uma boa notícia, diz Resende. Ele explica que muitas empresas, ao perceberem redução na receita, cortaram custos e desmobilizaram toda infraestrutura de transporte, fechando armazéns, vendendo frotas de veículos e terceirizando toda a parte de transportes. Com isso, o custo fixo da logística passa a ser uma despesa variável.

US$ 2.224

por contêiner exportado foi o gasto médio das companhias brasileiras em 2014. O custo dos principais concorrentes foi de US$ 1.058 e o dos países mais competitivos, de US$ 1.003 Adriano Thiele, diretor executivo de operações da JSL, uma das maiores empresas de logística do País, confirma essa tendência: “Esse movimento tem sido comum nos momentos de dificuldade econômica, em que as empresas precisam aumentar a
eficiência.” Segundo ele, o grupo, que tem crescido 26% ao ano, vem conquistado novos contratos com empresas que já são clientes. “Sempre começamos com operações pequenas e, aos poucos, vamos assumindo outros serviços. Assim, eu fico com o custo fixo dele.”

Para o professor Paulo Resende, num primeiro momento, essa migração pode representar vantagens. Mas, quando a economia reagir, as empresas terão dificuldade para retomar esses ativos, pois perderam capacidade logística. Além disso, com a atividade aquecida, a demanda por serviços de transporte aumenta e os custos tendem a subir.

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