terça-feira, 8 de novembro de 2016

Futuro do país nas mãos de quem só vê interesses particulares

Para quem acompanha nosso Blog dos Mercantes, perceberá que esta reportagem, veiculada no Estadão, tem tudo a ver com aquilo que falamos constantemente aqui nesse espaço: não há economia sem ação do Estado.

Isso porque os interesses econômicos das empresas são privados, e não haverá investimentos ou dispêndio de capital para investimento, caso o retorno não seja aquele que o investidor, ou financiador, espera. Nesse caso interesses da população, e do país, podem ser seriamente prejudicados porque os capitalistas, que "presumivelmente", deveriam atender a todas as necessidades da sociedade, através da livre iniciativa, não vêm seus interesses de ganho atendidos satisfatoriamente, e deixam vazios espaços que precisam ser ocupados

Sendo assim, muitas vezes o próprio desenvolvimento econômico da Nação acaba por ser freado, pela própria mesquinhez do "deus mercado". E é nesse hiato que se cria entre interesses da população e da iniciativa privada, que o Estado atua, como forma de promover bem-estar, desenvolvimento e riqueza.

O problema de se deixar tudo nas mãos da iniciativa privada, se traduz no que se vê abaixo. E olha que o caso é de investimentos que costumam ser altamente rentáveis, e cuja infraestrutura básica já está pronta, precisando apenas de remodelação. Imaginem se os investimentos fossem realmente novos, para criar nova infraestrutura?



Bancos privados ameaçam não financiar novas concessões

Fernando Nakagawa e Lu Aiko Otta

Instituições financeiras dizem que não estão dispostas a correr mais risco se tiverem perdas com os projetos atuais

Bancos privados dizem que não pretendem financiar as novas rodadas de concessões em infraestrutura se os problemas dos atuais empreendimentos lhes trouxerem perdas. Segundo o executivo de uma dessas instituições, a oferta de crédito para as próximas rodadas poderia cair drasticamente e o governo sabe dessa possibilidade. “Por isso, há esforço em tentar mitigar esse risco.”

Segundo esse executivo, as grandes casas - Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander-têm exposição bilionária por terem oferecido garantias para a concessão dos empréstimos-ponte do BNDES. Assim, se as empresas não conseguirem o crédito de longo prazo, essas garantias serão executadas e bancos terão de absorver essas perdas.

Ciente desse risco de calote, o Banco Central já vem monitorando o mercado para garantir que eventuais perdas sejam provisionadas. As provisões, porém, estão longe de cobrir totalmente as possíveis perdas.

Questionado sobre a possibilidade de um impasse, o executivo de outro banco privado reconheceu que as instituições privadas poderiam, no limite, oferecer crédito privado de longo prazo. O problema, comenta, é que isso não resolveria o problema, já que as condições seriam muito diferentes das prometidas pelo BNDES. “A um consórcio saudável, seria possível oferecer crédito de dez anos com juro atrelado ao Certificador de Depósito Interbancário (CDI).

O problema é que essas concessões foram pensadas para ter crédito atrelado à Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) mais um pequeno spread”, diz o executivo. O CDI acompanha a taxa Selic que atualmente está em 14,25%. Já a TJLP está em 7,5%.

A mesma preocupação sobre o futuro das concessões é vista nas próprias concessionárias. “Sem resolver a terceira rodada de concessões, não tem as seguintes”, afirmou o ex-ministro dos Transportes César Borges, atual presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. Ele se refere às concessões rodoviárias do governo de Dilma Rousseff, conduzidas por ele próprio. “Não adianta fazer roadshow, porque vão perguntar por que não está dando certo e por que agora vai ser diferente.”

Os ministros dos Transportes, Maurício Quintella, de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, e o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, estão nesta semana em Londres, apresentando as novas concessões a investidores do mercado financeiro e a operadores de infraestrutura. Na semana que vem, farão o mesmo em Tóquio.

Mas nem todas as concessionárias estão com o empréstimo-ponte vencido. A BH-Airport, que administra Confins, por exemplo, ainda está recebendo parcelas do financiamento de R$ 405 milhões autorizado em 2015. Nas rodovias, a concessionária MGO, que administra trecho da BR-050 entre Minas e Goiás, é uma exceção e conseguiu o financiamento de longo prazo do BNDES.

• Menos recursos

No governo de Dilma Rousseff O BNDES financiava até 70% do valor do empreendimento. Agora, essa participação foi reduzida para 50%, no caso das rodovias, e 40%, no caso dos aeroportos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário