quinta-feira, 16 de abril de 2020

Braga Neto assume o governo?

O Ministro Chefe da Casa Civil, Braga Neto, criou um grupo para coordenar ações de recuperação da economia, devido ao coronavírus. O grupo é formado por quinze Ministérios, sendo um titular e um suplente, indicados pelos Ministros de cada pasta. O grupo tem por objetivo propor à Casa Civil procedimentos e mudanças, que levem a facilitação de contratação de pessoal, abertura e fechamento de empresas, desburocratização, etc. Ou seja, procedimentos que facilitem investimentos, e colaborem pela reativação da economia.

Isso tem duas frentes principais, sendo uma mais imediata e outra mais de longo prazo. A mais imediata é a proposta de ações para combater o coronavírus, já que em qualquer guerra, qualquer situação de calamidade, a primeira coisa que se faz é justamente coordenar esforços, com o objetivo de implementar políticas que atendam os anseios da sociedade da melhor forma possível, de forma equilibrada, e tendo em conta amplos aspectos da situação. Ou seja, não adianta apenas salvar as pessoas, se acabo totalmente com a economia, ou vice-versa. Não adianta atender os dois lados, e destruir um setor fundamental da sociedade, e assim vai. Como em qualquer crise dessa magnitude alguém irá perder mais, sairá mais prejudicado, e é justamente por isso que se reúne um grupo composto por representantes de várias áreas, porque assim é possível sopesar o impacto de cada ação nas diversas áreas, e tomar a decisão menos danosa para todos.

Aquela que vem mais de longo prazo é a organização da economia pós pandemia. Não tem jeito, seja qual for a forma que organizarmos a sociedade, e as respostas à pandemia neste momento, o fato é que teremos recessão econômica. A diferença é que  a recessão pode ser maior ou menor, a depender das respostas que dermos agora. Então esse grupo tem também a responsabilidade por apresentar propostas para serem usadas na retormada da economia, e provavelmente para projetar a economia, utilizando nossas potencialidades de forma mais racional, e diminuindo os efeitos de nossas debilidades, ao mesmo tempo que buscamos reduzi-las.

Isso tudo recai em nossa postagem de sete de abril. Vejam, dia seis tinha sido dada como certa a demissão de Mandetta. De lá para cá a situação piorou um pouco, porque a epidemia vem avançando, e porque as ações e omissões do Presidente Bolsonaro vêm tirando as pessoas de casa, o que gera um potencial sanitário-social explosivo na atual situação.

Mas ao mesmo tempo que a situação se deteriorou, ela também se estabilizou. Bolsonaro segue firme no discurso de flexibilizar o isolamento social, algo que, na prática, já conseguiu. Ele também segue respaldado no discurso de que o erro será sempre de Governadores e Prefeitos, e ele deixou isso claro em todas as suas declarações, apesar das ameaças vazias de assinar um "decreto" para liberar a abertura do comércio, etc. Se forem poucas mortes, ele tinha razão, e a crise econômica será culpa dos outros, mas se forem muitas mortes, nada poderia ser feito, e as mortes e a crise econômica será culpa dos outros.

Só que suas declarações estão sendo copiadas por Mandetta, que ao mesmo tempo força sua demissão. Se forem poucas mortes, Mandetta dirá que seu trabalho foi bem feito, agradecerá o apoio de Governadores e Prefeitos, e sairá de herói. Se forem muitas morte, agradecerá o apoio de Governadores e Prefeitos, dirá que foram boicotados pelo Presidente, e que não são culpados.

No fundo ambos buscam apenas desculpas para as catástrofes que se abaterão sobre o país, e elas se abaterão. A crise econômica será enorme, e será tanto maior, quanto menor for o isolamento social, e a crise sanitária-social também, e essa também será tanto maior, quanto menor for o isolamento social.

Para completar temos forças importantes que não se preocupam com Mandetta, mas que querem derrubar Bolsonaro urgentemente. No momento existe a desculpa de que a popularidade do Presidente ainda não se dissolveu o suficiente, mas a verdade é que ela não tem muito mais o que cair. Bolsonaro já perdeu praticamente tudo o que podia,, para que seja tomado um processo de impeachment, ou para que o  PGR Augusto Aras mude sua posição e entre com pedido de ação criminal por crime comum - e já são vários - mas agora estamos no meio de uma pandemia, e não é hora de aprofundar ainda mais uma crise política.

Mandetta já é diferente. Ele também está queimado, ele também não deve ficar, mas seria um erro estratégico trocar o Ministro da Saúde neste momento, ainda mais porque esse Ministro não dá motivos técnicos para seu afastamento. O próprio Bolsonaro sabe disso. Mas Mandetta também deve sair, porque seja Bolsonaro, seja seu substituto, nenhum deles deverá manter o Ministro, depois de todas as rusgas criadas, e de todas as farpas trocadas, afinal de contas, um segue sendo chefe, e o outro subordinado, por mais que o subordinado tenha razão.

Para que algum dos dois saia no momento, apenas uma catástrofe por culpa direta dele poderá decretar sua saída. Salvo esta hipótese, o mais provável é que a situação dos dois seja decidida depois, porque as forças apenas aguardam que o tsunami coronavírus passe, para que as ações sejam tomadas.

Enquanto isso o "primeiro ministro" Braga Neto vai agindo, vai dando alguma ordem a esse caos.


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