terça-feira, 7 de abril de 2020

Mandetta vai, Mandetta fica...

Ontem vimos mais um lance da queda de braço entre Bolsonaro e a "Junta Governativa". A tentativa de demitir Mandetta ontem foi apenas isso. Mandetta deverá ser demitido, não hoje, assim como não foi ontem, mas apenas quando Bolsonaro se sentir suficientemente forte para assinar sua demissão, até lá ficaremos nesse ioiô, nessa queda de braço sem sentido, numa hora inapropriada.

Nessa disputa para ver quem manda temos várias outras situações, e todas engatilhadas na direção do Presidente. Rodrigo Maia não arquivou, O Ministro do STF Marco Aurélio Mello enviou para o Subprocurador Geral da República os pedidos de prisão contra o Presidente, os meios de comunicação acirraram os ataques contra o Presidente nos últimos tempos, e a depender do desenrolar dos acontecimentos, vão acirrar ainda mais, até mesmo Ronaldo Caiado abandonou Bolsonaro.

Tudo isso aí em cima são sinais de que Bolsonaro está cercado e, no momento, sem mandato. Mas a situação não está definida, porque só devemos ter uma ação decisiva após a pandemia ter sido definitivamente controlada. Por isso o Presidente tem chances de reverter o quadro, mas para isso precisa conquistar algumas forças que ele perdeu nos últimos meses: as ruas, a maioria da classe média, quase a totalidade do oficialato das Forças Armadas, e também parte dos Praças, teve sua base parlamentar dissolvida no ácido que sua boca destilou e suas ações distribuíram por todo esse tempo de governo, e parte significativa do empresariado produtivo. Mas reverter todo esse apoio é muito difícil.

Por óbvio que Bolsonaro pode acelerar as coisas, e forçar uma decisão já. Para isso basta demitir Mandetta, ou assinar a Medida Provisória para reabertura do comércio. Mas ele não é maluco, e sabe que está estremamente enfraquecido no momento, então não irá precipitar o desfecho, mas seguirá com esse jogo de tentar retormar o terreno perdido. Seus atuais opositores - e parte significativa deles já foi sua base de apoio - também não têm interesse em precipitar tal desfecho, porque isso seria mais um ponto poderoso de agravamento das crises econômica, política, social, e talvez até da sanitária que vivemos, e que deveremos ter naturalmente agravadas nas próximas semanas.

Caindo Bolsonaro essa ala circense e absolutamente alucinada do Governo estão com os dias contados. Resta saber o que a área incompetente, mas considerada "técnica" pelo "mercado" terá de futuro. Ficando Bolsonaro a tendência é que a área circense seja fortalecida, e a "técnica" seja substituída, já que estes se alinham agora contra o Presidente.

Mas de toda essa situação podemos afirmar duas coisas: a primeira é que é extremamente difícil para Bolsonaro reverter o quadro atual. E não adianta tentar colocar a culpa em forças ocultas, em boicotes a seu governo, porque tudo isso foi criado pelo próprio Bolsonaro. Ele nunca esteve cercado por grandes mentes, mas as poucas que tinham um mínimo de bom-senso, de interesse em trabalhar pelo país, e que o cercavam, mas que foi rapidamente alijado da administração pública, ficando apenas os circenses, e os representantes de determinados segmentos econômicos - que só trabalham por esses segmentos.

O segundo ponto é que podemos afirmar que o país não suportará mais 2 anos e meio de uma situação indefinida como esta. A crise eterna e constantemente alimentada pelo próprio Presidente da República está causando fissuras profundas e de difícil reparação no tecido social do país. Racismo, sexismo, ódio de classe, diferenças regionais, enfim, tudo está sendo acirrado de forma perigosa, e o Brasil, de um país bastante tolerante, está se tornando um lugar de ódio e cisões. Esse processo precisa ser freado.


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