segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Biden e as primeiras críticas

O Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, começa a enfrentar as primeiras críticas a um seu governo que, de fato, nem mesmo começou. E é este o motivo de eu ser contra coligações exageradamente amplas num primeiro turno de eleição. Explico:

Biden conseguiu agregar em torno de si amplos setores da sociedade americana, não apenas dos democratas, mas também dos republicanos. Acontece que o bipartidarismo americano é um grande saco de gatos, algo como o MDB da ditadura, em que todos que eram contra o governo se aglutinavam em uma mesma legenda - no caso lá, são duas legendas. Além desses, Biden ainda conseguiu conquistar uma parte pequena de republicanos que estavam extremamente descontentes com a liderança de Trump. 

Acontece que a aliança em torno de Biden não foi em torno de projetos, porque mal costurada e feita no frigir dos ovos, numa busca apenas de derrubar o governo Trump. Atingiu seu objetivo, mas deixou um enorme legado de incertezas, porque apenas derrubar um governo não é pauta suficiente para uma oposição, por isso é imprescindível que aconteçam muitas conversas antes, e que os acordos eleitorais sejam claros e precisos.

Não fosse isso e Biden não estaria sendo cobrado antes mesmo de assumir o governo. Tal tipo de cobrança se dá quando uma aliança eleitoral não é feita com a devida clareza.

Esse é o motivo de eu ser contra alianças exageradamente amplas num primeiro turno de eleição no Brasil. Não dá para colocarmos progressistas e direita extrema na mesma chapa eleitoral no nível nacional. Localmente até podem se acertar em determinados casos, mas numa eleição federal os interesses e objetivos são exageradamente divergentes para propiciar uma aliança minimamente sólida. Num segundo turno, ainda mais dependendo da resposta eleitoral que cada agente político teve no primeiro turno, é mais fácil de contabilizar o peso que cada um terá numa aliança, e até onde cada negociador pode chegar. Aí, nessa situação, o objetivo de derrubar um governo é o principal, e há possibilidade de se contabilizar o que cada lado pode agregar nessa equação, deixando claro a parcela de poder que cada agente político levará. Mas também é preciso levar em consideração duas partes importantes nessa equação eleitoral em dois turnos. A primeira é a viabilidade num primeiro turno, e a segunda é a do segundo turno, e para isso é importante atentar para as simpatias, que são bem mais importantes no primeiro turno, e antipatias, que são muito mais importantes num segundo turno.

A eleição estadunidense não permite tal engenharia, mas a brasileira sim.

A eleição estadunidense obriga a entendimentos rasos como o abaixo, a brasileira pode trabalhar melhor as articulações políticas, e sair com candidaturas mais sólidas. Mas para isso é preciso que as forças oposicionistas se posicionem mais em prol do país, e menos por seus projetos de poder.

“Querido Biden: estás a brincar comigo?” Nomeações do novo Presidente para a área do ambiente geram críticas

Tanto Cedric Richmond, representante do Louisiana no Congresso que foi nomeado conselheiro de Joe Biden, como Michael McCabe, escolhido para fazer parte da equipa de transição da Agência de Proteção Ambiental norte-americana, têm um passado de ligações à indústria de combustíveis fósseis ou outras altamente poluentes. Um grupo de jovens ativistas que lutam pela defesa do clima disse-se mesmo “traído” face a uma das nomeações

Joe Biden já escolheu parte da equipa com quem irá trabalhar nos próximos quatro anos na Casa Branca mas nem todas essas escolhas foram unânimes. É o caso de Cedric Richmond, deputado do Louisiana que vai abdicar do seu lugar no Congresso para assumir o cargo de conselheiro do novo Presidente norte-americano e de director do Gabinete da Casa Branca para o Compromisso Público.

Richmond terá sob a sua responsabilidade vários dossiês relacionados com as alterações climáticas — também acompanhará de perto a resposta da nova administração norte-americana à pandemia de covid-19 e à recuperação económica —, e precisamente por isso vários ativistas pelo clima manifestaram reservas quanto à sua escolha para o cargo, dada as ligações de Richmond às indústrias de combustíveis fósseis.

De acordo com uma investigação publicada em 2019 pelo “The Guardian”, o congressista fez grandes subvenções a indústrias químicas e ligadas à exploração de gás e ao petróleo, mantendo-se “indiferente”, como escreve o jornal, a questões relacionadas com a poluição local.

Robert Taylor, líder de uma iniciativa local na área do ambiente, afirmou ao jornal britânico estar “cautelosamente otimista” com a nomeação Cedric Richmond. “Acho que, neste momento, está numa posição em que pode servir melhor os eleitores do seu distrito. Fico contente que tenha sido escolhido mas espero que use isso para nos ajudar. Gostaria de vê-lo responsabilizar as indústrias químicas que estão a causar tantos danos à região”.

O Movimento Sunrise, grupo de jovens ativistas que lutam pela defesa do clima, foi menos cerimonioso nas palavras, e referiu-se à nomeação de Richmond como uma “traição”. “Sentimo-nos traídos hoje, porque a primeira nomeação que o Presidente Biden faz é a de uma pessoa que aceitou mais doações da indústria de combustíveis fósseis durante a sua carreira do que qualquer outro democrata”, referiu o diretor-executivo da organização, Varshini Prakash, citado por vários meios de comunicação internacionais. O responsável acusou ainda o novo conselheiro de Biden “de ficar em silêncio e ignorar os encontros com as organizações da sua própria comunidade enquanto esta era afetada pela poluição e o aumento do nível das águas do mar”.

Foi na terça-feira desta semana que Joe Biden anunciou os principais membros da equipa da Casa Branca, já depois de ter nomeado o seu conselheiro Ron Klain como chefe de gabinete. Mike Donilon, conselheiro e confidente de Biden será o assessor principal, e Steve Ricchetti, um dos diretores de campanha, será um dos conselheiros do presidente, conforme noticiou o “The Guardian”. A diretora de campanha, Jen O'Malley Dillon, será chefe de gabinete adjunta e a conselheira jurídica da campanha Dana Remus assumirá o cargo de conselheira do Presidente.

Além de Cedric Richmond, há outra escolha polémica de Biden na área do ambiente. É a de Michael McCabe, escolhido para fazer parte da equipa de transição da Agência de Proteção Ambiental norte-americana. Num artigo de opinião intitulado “Dear Joe Biden: are you kidding me?” (“Querido Joe Biden: estás a brincar comigo?”, numa tradução livre em português), publicado no referido jornal, Erin Brockovich, ativista pelo clima, lembra que McCabe trabalhou como consultor da muito conhecida e poderosa DuPont numa altura em que “a empresa tentava a todo o custo obter uma licença para a utilização do C8”, ou PFOA-C8 - ácido perfluorooctanóico, inventado em 1945 nos EUA.

“Trata-se de um produto tóxico e que é usado em tudo, desde roupas impermeáveis, tecidos resistentes às manchas, embalagens para alimentos e frigideiras antiaderentes, e que está associado a problemas de fertilidade, cancro e lesões no fígado”, escreve a ativista, recordando que ainda esta semana um reputado professor de saúde pública norte-americano avisou que a utilização de certos químicos, em que se inclui o C8, pode diminuir a eficácia da vacina contra a covid-19.










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