O erro no inglês foi proposital, assim como o erro dos analistas políticos de plantão, todos afinados com um discurso liberal patético. Vamos analisar o fato como ele precisa ser analisado.
Putin é o líder de uma grande potência. Economicamente a Rússia não tem uma importância tão grande, mas militar e estrategicamente é inegável que representa muito e, se valendo disso, acaba por aumentando sua influência em outros setores. Bolsonaro, coitado, tem muitas e sérias necessidades de reconhecimento por parte de outros políticos, da população, etc, embora seja medíocre ao máximo, no pior sentido da palavra.
Putin tem total domínio da situação acima. As acusações de "ditador", "populista", "truculento", etc, podem caber ou não ao líder russo, mas nenhum dos analista de cunho liberaloide de nossa imprensa tem em mente o que eles tanto pregam: o respeito a outras culturas, e a genialidade alheia. A cultura russa não é a dessa democracia ocidental carcomida em suas entranhas por corrupção e fisiologismo, mas está muito mais tendente a objetivos coletivos, e a estados fortes. Isso é cultural, e eles não tentam exportar ou impor aos outros suas maneiras de pensar, eles respeitam. Então, respeitem eles também.
Putin também é uma raposa política, extremamente bem assessorado, e que trabalha muito, se prepara muito, e está sempre atento para se e quando as oportunidades aparecerem. Ora, Bolsonaro é um fraco, covarde, mas precisa o tempo todo tentar provar o oposto. Trump fazia isso, massageava o ego de Bolsonaro, e em troca ganhava a submissão canina de um ser patético. Lembram do "I love you"? Pois é. Trump também ganhava vantagens econômicas enormes, em detrimento de todo e qualquer interesse legítimo do povo brasileiro.
Pois bem, a derrota de Trump deixou um Bolosonaro abandonado, perdido. e Putin, com sua assessoria, detectou isso perfeitamente, e reagiu rápida e precisamente à situação (como é característica da administração russa). Uma aproximação com o incapaz Presidente brasileiro pode não gerar uma situação de subserviência como aconteceu o o ídolo norte-americano, mas pode minar a influência dos ianques sobre o continente americano, e diminuir as pressões sobre Venezuela, Bolívia, Argentina, e outros governos latino-americanos que têm tendências a uma maior aproximação com a Rússia, e que voltam a se formar no continente. De quebra pode gerar alguns lucros econômicos também.
A jogada de Putin foi de mestre, ainda mais num momento em que a situação interna dos americanos deixa Biden numa sinuca de bico. Se apoia as ações de Bolsonaro, perde apoio de sua base interna e de aliados internacionais importantes, se vai contra as ações do brasileiro agrada seus apoiadores internos e externos, mas abre espaço para a aproximação russa.
Encontros com o DEM
Ciro Gomes se encontrou com Rodrigo Maia: "Que crime!". Conversou com Lula: "Tem que se ajoelhar". O PT recebeu apoio de bolsonarista: "Traidor!". O PT se aliou ao PSDB: "PT é direita". O PCdoB apoiou projeto tal: "Vendidos!". E por aí vai.
Enquanto um monte de reformistas do capitalismo brigam para saber quem é "menos" direita", as últimas eleições municipais mostraram que essa briga só faz atrapalhar o próprio campo de atuação desses partidos. Não é que o povo não compartilhe de muitas de suas ideias, mas claramente os mútuos ataques está fazendo com que a população fique extremamente ressabiada, e que o campo perca força. Isso se traduz no que vou falar abaixo.
Progressismo regride
Se Bolsonaro e o Bolsonarismo regrediram, seus mais ferrenhos opositores também. Apesar de o PDT ter repetido a posição de maior partido do campo em número de vereadores, e ter sido o que mais conquistou prefeituras, fato é que os números são inferiores ao último pleito municipal. Nesse campo quem se destacou percentualmente foi o PSOL, que aumentou 59% sua bancada municipal, mas em números foi apenas de 56 para 89 vereadores eleitos.
Em número de prefeituras conquistadas esse quadro também fica claro, mesmo que o campo ainda concorra no segundo turno de algumas cidades. Se somarmos todo o campo não devemos chegar a 30% de governos municipais conquistados.
Como eu disse quem cresceu foi a direita extrema. Aqueles partido absolutamente fisiológicos, que estão com Bolsonaro em tudo, menos em seus arroubos agressivos e autoritários. Mas as pautas contra os trabalhadores e a população têm seu aval, e às vezes até mesmo interferem para aperfeiçoar os retrocessos.
Verdade que a derrota de Bolsonaro foi importante, mas ela teve o efeito colateral de reduzir ainda mais o campo progressista, e de ter fortalecido o fisiologismo. Não que ele fosse fraco em nível municipal, mas ele cresceu, e se disfarçou nos novos partidos que substituem aqueles que já vinham apresentando sinais de desgaste.
Isso não significa que o Brasil vai eleger um "Biden" em 2022, mas, mais do que nunca, quem se eleger não governará sem "os Biden". E o impeachment, ou a cassação da chapa, não serão opções descartadas pelos bravos democratas do "não importa quanta farinha tenha, ela tem que ser toda minha".
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