"No fim tudo dá certo
se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim".
(Fernando Sabino)
Minha primeira experiência com problemas a bordo foi em março de 2002. Eu havia recém-assumido as funções de inspetor de Bandeira de Conveniência da ITF (BDC), quando o navio Milleniun Scorpion chegou ao Rio de Janeiro e entrou em contato com a ITF solicitando ajuda devido a atraso de salários. Fui a bordo verificar a denúncia e me deparei com uma situação bem complicada.
Os salários estavam atrasados entre seis e 10 meses, dependendo do tempo de embarque de cada tripulante.
Nenhum dos tripulantes que tinham sido rendidos nos últimos meses havia recebido seus pagamentos e depois de vários contatos com o armador só tinham obtido promessas. Além disso, os suprimentos estavam acabando (incluindo medicamentos) e a praça de máquinas apresentava vários problemas que punham em risco a embarcação, a navegação e a vida dos tripulantes.
Dois deles apresentavam problemas médicos e o armador havia recusado prestar-lhes assistência.
Depois de verificados os problemas a bordo entramos em contato com o armador, que se recusou a resolver o problema alegando falta de recursos. Acionamos o Ministério do Trabalho, através de sua Inspetoria do Trabalho e a Marinha do Brasil, por meio do Port State Control (PSC), que notificaram o armador para resolver os problemas técnicos e trabalhistas a bordo, além de deterem a embarcação até que as questões mais graves fossem sanadas. Também conseguimos que os tripulantes enfermos fossem encaminhados e recebessem tratamento médico adequado; e que o afretador adiantasse parte do frete, que foi usado para pagar uma pequena parcela dos atrasados e adquirir rancho e medicamentos.
A situação perdurou por cerca de cinco meses e foi solucionada após uma série de negociações e intervenções de autoridades e sindicatos.
Os tripulantes ao final conseguiram receber seus atrasados e foram repatriados.
Este caso foi relativamente curto e teve um final feliz. Muitos outros se prolongam por anos, com as tripulações afastadas de suas casas, sofrendo privações e algumas vezes não chegando a bom termo.
Aos poucos chegaremos a ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário