Deu no "Valor Econômico": Terminais de contêineres vão investir R$ 1,6 bi em ampliações (ver abaixo).
O mercado de contenedores talvez seja hoje o maior consumidor de recursos em investimentos no Brasil. A busca para que o país receba navios contenedores de grande porte não é nova, e escuto falar disso há muitos anos.
Finalmente parece que essa busca começa a ser alcançada. Se os navios de 9.000 Teus não são os maiores em operação atualmente, também não estão longe dos maiores e mais modernos em operação, e para o volume do comércio exterior brasileiro, estão mais do que adequados.
Mas muito se deve levar em conta quando se prepara um porto para receber navios deste porte: primeiro este tipo de navio não costuma fazer uma série de escalas, limitando-se normalmente ao transporte transcontinental de contêineres, e visitando um ou no máximo dois portos, onde deixa toda sua carga, e recebe carga nova. Esses são chamados hub ports. Essa carga é redistribuída em portos menores pelos chamados navios feeders que, bem menores, levam as cargas para as diferentes localidades a que se destinam.
Se os portos de Salvador e Paranaguá estão se adequando e expandindo a algo que deve levá-los bem próximo ao seus limites de exploração econômica adequadas, os dois terminais do Rio parecem que querem extrapolar estes limites. Não que haja inviabilidade técnica para as expansões propostas por suas administrações, mas são portos que têm pouca área adjacente passível de ser agregada a sua retro-área, e são portos que teriam custos altíssimos de manutenção, principalmente pela manutenção de dragagem do canal de acesso e cais. Temos que lembrar que navios com 300m de comprimento, e carregando algo em torno de 9.000 contêineres atingem calados bem maiores que os 14-15m necessários para as operações atuais.
Tais custos vêm criando obstáculos para a expansão do porto de Santos, e não deveria ser diferente para o Rio de Janeiro. Corre-se o risco de investirmos mais de R$ 1 bilhão, somados os orçamentos de ambos os terminais, e ainda termos portos economicamente pouco rentáveis, ou pior que não irão atingir seus objetivos plenos.
Portos como os listados abaixo, foram concebidos para receberem navios com outra tecnologia e de outro porte. A filosofia de transporte era outra e, hoje, não são adequados a atender as demandas modernas. Sua adequação é possível, mas sua exploração econômica plena se torna inviável.
Conheço projetos mais interessantes, mais modernos e principalmente, economicamente mais viáveis.
Veja a reportagem na íntegra:
Terminais de contêineres vão investir R$ 1,6 bi em ampliações
Os terminais de contêineres privatizados no fim dos anos 90 preparam-se para um novo ciclo de crescimento
Os terminais de contêineres privatizados no fim dos anos 90 preparam-se para um novo ciclo de crescimento. Quatro deles, situados no Rio, Salvador e Paranaguá, têm programados investimentos totais de R$ 1,6 bilhão em expansões nos próximos anos. Os recursos permitirão aumentar a capacidade de movimentação de carga. Com obras e novos equipamentos, os terminais vão se adequar para receber as últimas gerações de navios, de 7 mil e até 9 mil TEUs (contêiner equivalente a 20 pés).
Os navios de 7 mil TEUs podem ter mais de 300 metros de comprimento e mais de 40 metros de largura. No fim da década de 90, quando os terminais de contêineres foram repassados ao setor privado em concessão, o padrão era outro: os navios de contêineres tinham cerca de 180 metros de comprimento e capacidade de cerca de 2 mil TEUs. Os ganhos de escala na indústria marítima levaram os terminais a abrir um longo processo de negociação com as autoridades portuárias e com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para adequar os contratos de concessão à nova realidade.
Hoje, para atracar dois navios modernos de forma simultânea, um terminal precisa ter dois berços com cerca de 400 metros de comprimento cada um. No Rio, a expansão vai fazer com que surja o maior cais contínuo para contêineres da América do Sul, diz o empresário Richard Klien, do grupo Multiterminais.
Atualmente, o grupo de Klien mais a Libra Terminais têm, no porto do Rio, cais com 1.258 metros, extensão que aumentará 60%, chegando a 1.960 metros. No total, a Multi vai investir R$ 492 milhões em seu projeto de expansão, com recursos próprios e financiamento na modalidade "project finance", afirmou Klien.
Luiz Henrique Carneiro, presidente da MultiRio e MultiCar, empresas do grupo que movimentam contêineres e carros, respectivamente, previu que o projeto de expansão da Multi no porto do Rio deve estar pronto no segundo semestre de 2014. Carneiro disse que a expansão vai gerar ociosidade nos terminais, o que é positivo porque tende a acabar com as filas de espera de navios. O resultado, segundo ele, será o aumento da competitividade, que pode levar à redução de preços. "É a lei da oferta e da procura", afirmou.
Juntos, os terminais da Multi e da Libra têm capacidade para movimentar cerca de 1,2 milhão de TEUs por ano no Rio, número que vai aumentar cerca de 66% chegando a 2 milhões de TEUs por ano. Wagner Biasoli, presidente da Libra Terminais, também falou do projeto: "Estamos bem aparelhados para fazer a expansão porque o Rio vai precisar." No total, se prevê que a Libra vai investir R$ 763 milhões na expansão das operações da empresa no Rio. Desse total, R$ 423,2 milhões serão aplicados nas obras em diferentes etapas. Há ainda cálculo de que a empresa pode aplicar R$ 340 milhões em equipamentos e instalações, mas Biasoli disse que essa é uma "estimativa".
O executivo reconheceu que o aquecimento do mercado da construção civil representa aumento de custos acima da inflação para as obras de expansão do terminal e disse que, no caso do projeto da Libra, será importante utilizar a areia dragada de um canal que desemboca na Baía de Guanabara. Os dois projetos ainda aguardam a obtenção de licenças ambientais. O projeto da Libra tem fases que serão executadas a curto prazo, caso da ampliação do cais, mas há outras, como a expansão da retroárea do terminal em 54 mil metros quadrados, que está prevista para o médio prazo e vai depender da demanda, disse Biasoli.
No Paraná, o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) tem projeto de expansão de R$ 170 milhões que vai permitir ao terminal atingir capacidade de 1,5 milhão de TEUs por ano a partir do primeiro trimestre de 2013, disse Luiz Antonio Alves, diretor financeiro do TCP. Em 2010, o terminal movimentou 700 mil TEUs.
Em Salvador, a Wilson, Sons vai investir R$ 180 milhões para duplicar a capacidade do terminal da empresa. O Tecon Salvador, da Wilson, Sons, tem capacidade de movimentar 250 mil TEUs, segundo dados de 2010. E poderá movimentar 112% a mais, ou 530 mil TEUs por ano, a partir de março, disse Demir Lourenço Júnior, diretor-executivo do terminal.
Do total a ser investido no projeto, R$ 160 milhões serão aplicados no próprio terminal e R$ 20 milhões em depósito para contêineres vazios, com capacidade para 8 mil TEUs, situado a 17 quilômetros do porto de Salvador. Lourenço disse que a expansão do terminal inclui reforço estrutural do cais, dragagem e pavimentação de 45 mil metros quadrados do pátio atual, além da aquisição de equipamentos.
O terminal passará a ter um cais com 377 metros de comprimento e 15 metros de calado e outro com 240 metros e 12 de calado. A área total do terminal vai aumentar cerca de 60%. Lourenço disse que a expansão está sendo acompanhada de um trabalho comercial para fazer o terminal recuperar cargas, como as frutas produzidas no vale do rio São Francisco, exportadas por outros portos do Nordeste.