terça-feira, 9 de outubro de 2012

Antaq deveria pensar em solução geral e de longo prazo para o sistema portuário brasileiro


Deu no Diário Catarinense: "Complexo Portuário quer espaço para receber grandes navios".

A expansão pretendida para o porto de Itajaí-Açu deve levar em conta questões técnicas, mas também condições locais, características da região e até mesmo o lado social, que talvez seja o mais fácil de resolver.

Na verdade o porto vem sendo assolado por enchentes que causam prejuízos às suas instalações e chegam a deixá-lo parado por semanas.

O porto também é localizado dentro de um rio, que sofre constante assoreamento, o que eleva consideravelmente o custo de manutenção, tanto do canal de acesso, quando da bacia de manobras.

Por último temos a questão social com os pescadores, que talvez seja a mais fácil de resolver, fazendo a remoção de instalações e moradias para alguma área apropriada.

Talvez seja o caso de a Antaq começar a pensar em uma solução mais geral e de longo prazo para o sistema portuário brasileiro.

A matéria na íntegra:

Complexo Portuário quer espaço para receber grandes navios

Por Dagmara Spautz

Após 60 anos operando navios na mesma área de manobras, o Complexo Portuário do Itajaí-Açu estuda a possibilidade de instalar uma nova bacia de evolução para atender à operação de navios maiores e mais carregados.

A superintendência do Porto de Itajaí considera a adequação necessária para permitir que os terminais locais possam competir em condições de igualdade com outros portos - algo essencial para manter a movimentação de contêineres e o fluxo econômico na região.

A obra, que pode chegar a um custo de R$ 100 milhões, pagos com recursos públicos, dependerá da desapropriação de áreas em Navegantes. A previsão é que a nova bacia de evolução fique pronta em 2014, e que garanta ao complexo a adequação ao mercado por pelo menos 10 anos.

A empreitada deve permitir operações com navios de até 336 metros de comprimento e 48,2 de largura. Hoje, os terminais de Itajaí e Navegantes trabalham com cargueiros de até 272 metros e recebem embarcações maiores em caráter experimental. Terminais concorrentes, como o de Itapoá, estão aptos a receber cargueiros com até 335 metros de comprimento.

Os estudos de viabilidade para a nova bacia de evolução de Itajaí iniciaram em 2010 e, de lá para cá, quatro possibilidades foram levantadas. Duas acabaram descartadas pelas condições desfavoráveis de vento e correnteza. Restaram, como alternativas, o uso de uma área verde, localizada ao lado do porto, ou o alargamento do rio em frente ao Centreventos de Itajaí, em Navegantes - que, até agora, se mostrou a opção mais viável.

A ideia é que os navios entrem pela barra e façam um giro de 180º bem em frente ao atracadouro da Vila da Regata, que recebeu os barcos da Volvo Ocean Race. Depois, os cargueiros seguirão de ré até os berços de atracação.

O esquema foi montado com base em simulações feitas por técnicos da empresa holandesa Arcadis, contratada pelos terminais Portonave e APM Terminals para avaliar as melhores alternativas.

- Fizemos simulações de entrada e saída, tanto com maré cheia quanto baixa. As conclusões revelaram que existe possibilidade de navegação segura - diz Luitze Perke, engenheiro da Arcadis.
As simulações foram apresentadas aos práticos que atuam no complexo, segunda-feira. Até o final do ano, novos testes serão feitos - desta vez no Itajaí-Açu.

Porto perde receita
Superintendente do complexo portuário, Antônio Ayres dos Santos Junior diz que a abertura de uma nova área de manobras é essencial para manter a competitividade dos portos de Itajaí e Navegantes, já que os armadores têm dado preferência a navios cada vez maiores e com mais capacidade para contêineres. A chegada dos grandes cargueiros, porém, deve impactar na receita do porto, que recebe por atracação.

A dragagem que aprofundou o canal, concluída no final de 2011, possibilitou a entrada de navios um pouco maiores do que os que vinham operando em Itajaí. Com isto, segundo Santos Junior, o porto perdeu rendimento.

Em compensação, a movimentação de contêineres, que impacta em toda a cadeia portuária, cresceu 42%.

- Se há uma única manobra, mas com muita carga, ganha-se em produtividade - diz o superintendente da APM Terminals no Brasil, Ricardo Arten.

Aumento no canal pode permitir navios maiores desde já
A Capitania dos Portos de Itajaí pediu que a superintendência do Complexo Portuário produza um novo estudo sobre as condições do canal de acesso, para avaliar se as operações estão seguras. Embora o tamanho padrão para os navios que entram nos portos de Itajaí e Navegantes seja de 272 metros, os terminais têm recebido, em caráter experimental, cargueiros de até 294 metros.
O argumento da Marinha é que as operações têm sido feitas com base em um estudo de 2009, e, desde então, o canal passou por uma nova enchente, em 2011, e por obras de dragagem.

- É preciso atualizar os dados se o porto tiver interesse em trabalhar com um navio maior como padrão - diz o delegado da Capitania dos Portos de Itajaí, Fernando Anselmo Sampaio.
Superintendente do Complexo Portuário do Itajaí-Açu, Antônio Ayres dos Santos Junior diz que o estudo deverá ser feito junto com uma nova verificação de profundidade, que está em vias de ser contratada. A previsão é que a verificação, que deve ser financiada pelos terminais privados, fique pronta 30 dias após a assinatura do contato.

A intenção da superintendência é que o complexo possa, antes mesmo das obras de uma nova bacia de evolução, receber navios com até 300 metros de comprimento.

- A ideia é alargarmos pontos do canal, para que alguns desses navios maiores possam entrar desde já - diz Santos Junior.

Moradores não acreditam em desapropriação
Lar de centenas de moradores de Navegantes, a área que para os técnicos parece a melhor opção para uma nova bacia de manobras deve significar, para a comunidade do Pontal, o transtorno da desocupação. Há pelo menos três décadas, a margem esquerda do Rio Itajaí-Açu em frente ao Centreventos, reconhecida como área portuária, foi tomada por casas simples e galpões de pesca, que servem de espaço para preparar os barcos e descascar o camarão.

Por ali, o anúncio de que a área pode ser desapropriada para dar lugar à bacia de evolução não é novidade.

- Vivo aqui há mais de 20 anos e desde aquela época sempre ouvi que o porto iria pegar a área de volta. Não acredito mais que isto vá acontecer - diz Antônio Roberto de Lima, 38 anos.
Mesmo quem se conforma com a possibilidade de sair do local confessa que sentirá falta da vista privilegiada do Itajaí-Açu, em meio ao canal de acesso dos navios. Pescador aposentado, obrigado a deixar o trabalho por problemas de saúde, que o forçaram a sessões periódicas de hemodiálise, Darci Francisco da Silva, 59, mata a saudade do mar observando os barcos pesqueiros atracados perto de casa.

- Onde vão colocar os pescadores, as embarcações? Não tem como um pescador sair daqui para morar em outro bairro - diz.

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