Deu no Diário Catarinense: "Complexo Portuário quer espaço para receber grandes navios".
A expansão pretendida
para o porto de Itajaí-Açu deve levar em conta questões técnicas, mas também
condições locais, características da região e até mesmo o lado social, que
talvez seja o mais fácil de resolver.
Na verdade o porto vem
sendo assolado por enchentes que causam prejuízos às suas instalações e chegam
a deixá-lo parado por semanas.
O porto também é
localizado dentro de um rio, que sofre constante assoreamento, o que eleva
consideravelmente o custo de manutenção, tanto do canal de acesso, quando da
bacia de manobras.
Por último temos a
questão social com os pescadores, que talvez seja a mais fácil de resolver,
fazendo a remoção de instalações e moradias para alguma área apropriada.
Talvez seja o caso de
a Antaq começar a pensar em uma solução mais geral e de longo prazo para o
sistema portuário brasileiro.
A matéria na íntegra:
Complexo Portuário quer espaço para
receber grandes navios
Por Dagmara Spautz
Por Dagmara Spautz
Após 60 anos operando navios na mesma
área de manobras, o Complexo Portuário do Itajaí-Açu estuda a possibilidade de
instalar uma nova bacia de evolução para atender à operação de navios maiores e
mais carregados.
A superintendência do Porto de Itajaí
considera a adequação necessária para permitir que os terminais locais possam
competir em condições de igualdade com outros portos - algo essencial para
manter a movimentação de contêineres e o fluxo econômico na região.
A obra, que pode chegar a um custo de R$
100 milhões, pagos com recursos públicos, dependerá da desapropriação de áreas
em Navegantes. A previsão é que a nova bacia de evolução fique pronta em 2014,
e que garanta ao complexo a adequação ao mercado por pelo menos 10 anos.
A empreitada deve permitir operações com
navios de até 336 metros de comprimento e 48,2 de largura. Hoje, os terminais
de Itajaí e Navegantes trabalham com cargueiros de até 272 metros e recebem
embarcações maiores em caráter experimental. Terminais concorrentes, como o de
Itapoá, estão aptos a receber cargueiros com até 335 metros de comprimento.
Os estudos de viabilidade para a nova
bacia de evolução de Itajaí iniciaram em 2010 e, de lá para cá, quatro
possibilidades foram levantadas. Duas acabaram descartadas pelas condições
desfavoráveis de vento e correnteza. Restaram, como alternativas, o uso de uma
área verde, localizada ao lado do porto, ou o alargamento do rio em frente ao
Centreventos de Itajaí, em Navegantes - que, até agora, se mostrou a opção mais
viável.
A ideia é que os navios entrem pela
barra e façam um giro de 180º bem em frente ao atracadouro da Vila da Regata,
que recebeu os barcos da Volvo Ocean Race. Depois, os cargueiros seguirão de ré
até os berços de atracação.
O esquema foi montado com base em
simulações feitas por técnicos da empresa holandesa Arcadis, contratada pelos
terminais Portonave e APM Terminals para avaliar as melhores alternativas.
- Fizemos simulações de entrada e saída,
tanto com maré cheia quanto baixa. As conclusões revelaram que existe
possibilidade de navegação segura - diz Luitze Perke, engenheiro da Arcadis.
As simulações foram apresentadas aos
práticos que atuam no complexo, segunda-feira. Até o final do ano, novos testes
serão feitos - desta vez no Itajaí-Açu.
Porto perde receita
Superintendente do complexo portuário,
Antônio Ayres dos Santos Junior diz que a abertura de uma nova área de manobras
é essencial para manter a competitividade dos portos de Itajaí e Navegantes, já
que os armadores têm dado preferência a navios cada vez maiores e com mais
capacidade para contêineres. A chegada dos grandes cargueiros, porém, deve
impactar na receita do porto, que recebe por atracação.
A dragagem que aprofundou o canal,
concluída no final de 2011, possibilitou a entrada de navios um pouco maiores
do que os que vinham operando em Itajaí. Com isto, segundo Santos Junior, o
porto perdeu rendimento.
Em compensação, a movimentação de
contêineres, que impacta em toda a cadeia portuária, cresceu 42%.
- Se há uma única manobra, mas com muita
carga, ganha-se em produtividade - diz o superintendente da APM Terminals no
Brasil, Ricardo Arten.
Aumento no canal pode permitir navios
maiores desde já
A Capitania dos Portos de Itajaí pediu
que a superintendência do Complexo Portuário produza um novo estudo sobre as
condições do canal de acesso, para avaliar se as operações estão seguras.
Embora o tamanho padrão para os navios que entram nos portos de Itajaí e
Navegantes seja de 272 metros, os terminais têm recebido, em caráter
experimental, cargueiros de até 294 metros.
O argumento da Marinha é que as
operações têm sido feitas com base em um estudo de 2009, e, desde então, o
canal passou por uma nova enchente, em 2011, e por obras de dragagem.
- É preciso atualizar os dados se o
porto tiver interesse em trabalhar com um navio maior como padrão - diz o
delegado da Capitania dos Portos de Itajaí, Fernando Anselmo Sampaio.
Superintendente do Complexo Portuário do
Itajaí-Açu, Antônio Ayres dos Santos Junior diz que o estudo deverá ser feito
junto com uma nova verificação de profundidade, que está em vias de ser
contratada. A previsão é que a verificação, que deve ser financiada pelos
terminais privados, fique pronta 30 dias após a assinatura do contato.
A intenção da superintendência é que o
complexo possa, antes mesmo das obras de uma nova bacia de evolução, receber
navios com até 300 metros de comprimento.
- A ideia é alargarmos pontos do canal,
para que alguns desses navios maiores possam entrar desde já - diz Santos
Junior.
Moradores não acreditam em
desapropriação
Lar de centenas de moradores de
Navegantes, a área que para os técnicos parece a melhor opção para uma nova
bacia de manobras deve significar, para a comunidade do Pontal, o transtorno da
desocupação. Há pelo menos três décadas, a margem esquerda do Rio Itajaí-Açu em
frente ao Centreventos, reconhecida como área portuária, foi tomada por casas
simples e galpões de pesca, que servem de espaço para preparar os barcos e
descascar o camarão.
Por ali, o anúncio de que a área pode
ser desapropriada para dar lugar à bacia de evolução não é novidade.
- Vivo aqui há mais de 20 anos e desde
aquela época sempre ouvi que o porto iria pegar a área de volta. Não acredito
mais que isto vá acontecer - diz Antônio Roberto de Lima, 38 anos.
Mesmo quem se conforma com a
possibilidade de sair do local confessa que sentirá falta da vista privilegiada
do Itajaí-Açu, em meio ao canal de acesso dos navios. Pescador aposentado,
obrigado a deixar o trabalho por problemas de saúde, que o forçaram a sessões
periódicas de hemodiálise, Darci Francisco da Silva, 59, mata a saudade do mar
observando os barcos pesqueiros atracados perto de casa.
- Onde vão colocar os pescadores, as
embarcações? Não tem como um pescador sair daqui para morar em outro bairro -
diz.
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