quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Blog dos Mercantes adverte: livre Lucro; prejuízo social

Navio de José Carlos Fragoso Pires abandonado na Baía de Guanabara
Foto do sítio www.istoedinheiro.com.br

O Blog dos Mercantes não é, de forma alguma, contra a livre iniciativa. Afirmamos isso porque existe uma forte tendência de que as pessoas acreditem que alguém que defende um Estado regulador e fiscalizador é, necessariamente, estatizante.

Na verdade a ideia de que o Estado atue de forma mais eficaz na normatização e fiscalização da economia, tem justamente a ideia oposta a de uma estatização, pois todas as vezes em que a economia entra em crise o Estado é chamado a intervir, e, em via de regra, repassa altos valores oriundos dos cofres públicos a empresas privadas, privatizando assim o público, ou adquirindo empresas falidas, estatizando o privado.

Se, ao contrário, realizasse uma ação mais eficaz na prevenção de problemas, através da normatização e fiscalização, muita coisa poderia ser evitada, diminuindo na verdade os gastos com operações salva-vidas financeiros, ou com problemas sociais causados por falências.

Basta ver que os valores disponibilizados pelos diversos Estados europeus, asiáticos e americanos, na tentativa de frear e diminuir os problemas causados pela famosa crise de 2008, e cujos reflexos ainda se fazem sentir em vários segmentos econômicos, são no mínimo próximos à riqueza gerada pelo período de expansão.

A economia não é algo uniforme, e constantemente apresenta situações em que empresas se apresentam em dificuldades financeiras. E isso pode acontecer a qualquer momento, mesmo em períodos de expansão da economia como um todo, ou de um setor específico.

E quando uma ou muitas empresas apresentam problemas, esses normalmente têm seu lado mais trágico no social, embora o lucro acumulado durante o período de existência da(s) empresa(s) esteja devidamente privatizado.

Como a Marinha Mercante faz parte do mundo real, embora seja muito pouco visível para a sociedade em geral, de vez em quando somos surpreendidos por problemas gerais ou pontuais. Um exemplo muito bom de problema geral foi a crise dos anos 90, quando nossa frota encolheu drasticamente e ficou limitada a pouquíssimas embarcações. Nessa época o desemprego entre marítimos atingiu índices assustadores, e muitos companheiros tiveram inclusive que mudar de profissão.

Um bom exemplo de caso pontual é o caso da reportagem abaixo.

Saudações Marinheiras!


A Nau da Insensatez

Por Felipe Carneiro

Afundado em dívidas, o armador José Carlos Fragoso filho abandona um navio com 400 toneladas de óleo nos tanques para apodrecer no meio da baía de Guanabara. Ao ignorar o problema, joga a responsabilidade nas costas - e no bolso - de todos os cariocas.

Navios abandonados são um problema crônica na Baía de Guanabara. Recentemente a Secretaria Estadual do Meio Ambiente mapeou 52 embarcações largadas por seus antigos proprietários para apodrecer no meio de um dos cartões-postais mais famosos da cidade. Destas, 21 já foram removidas pela secretaria às costas do contribuinte. Na semana passada essa conta aumentou, com mais um barco acrescentando à lista. E que barco: um cargueiro de 133 metros de comprimento por 23 de largura e 8000 toneladas de peso, com centenas de milhares de litros de combustível nos tanques prestes a poluir as águas, já bem sujas. Agora a Marinha e os órgãos ambientais, com a ajuda da Transpetro, correm para evitar o pior, organizando uma grande operação para impedir vazamentos e remover o entulho encalhado.

Em meio à confusão, chama atenção a placidez com que o proprietário do navio, José Carlos Fragoso Filho, de 80 anos, encarou o acidente. Mergulhado em dívidas, ele tem dilapidado seu patrimônio para pagar contas. O cargueiro, até recentemente arrendado à vale, havia sido hipotecado ao BNDES. Devolvido pela mineradora perdeu a serventia e foi abandonado no mar. Daí a encalhar e adernar junto à Ponte Rio-Niterói foi só questão de tempo. "Como está hipotecado quisemos repassá-lo ao banco, mas eles não aceitaram", afirmou Fragoso Filho ao jornal O Globo. "Sugerimos que o vendesses ou afundassem. Já me considero fora desse negócio! Não tenho mais condições de gerir isso." Pelo visto, agora o problema é de todos os cariocas.

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