Navio de José Carlos Fragoso Pires abandonado na Baía de Guanabara
Foto do sítio www.istoedinheiro.com.br
O Blog dos Mercantes não é, de forma alguma, contra a livre iniciativa.
Afirmamos isso porque existe uma forte tendência de que as pessoas acreditem
que alguém que defende um Estado regulador e fiscalizador é, necessariamente,
estatizante.
Na verdade a ideia de que o Estado atue de forma mais eficaz na
normatização e fiscalização da economia, tem justamente a ideia oposta a de uma
estatização, pois todas as vezes em que a economia entra em crise o Estado é
chamado a intervir, e, em via de regra, repassa altos valores oriundos dos
cofres públicos a empresas privadas, privatizando assim o público, ou
adquirindo empresas falidas, estatizando o privado.
Se, ao contrário, realizasse uma ação mais eficaz na prevenção de
problemas, através da normatização e fiscalização, muita coisa poderia ser
evitada, diminuindo na verdade os gastos com operações salva-vidas financeiros,
ou com problemas sociais causados por falências.
Basta ver que os valores disponibilizados pelos diversos Estados
europeus, asiáticos e americanos, na tentativa de frear e diminuir os problemas
causados pela famosa crise de 2008, e cujos reflexos ainda se fazem sentir em
vários segmentos econômicos, são no mínimo próximos à riqueza gerada pelo período
de expansão.
A economia não é algo uniforme, e constantemente apresenta situações em
que empresas se apresentam em dificuldades financeiras. E isso pode acontecer a
qualquer momento, mesmo em períodos de expansão da economia como um todo, ou de
um setor específico.
E quando uma ou muitas empresas apresentam problemas, esses normalmente têm seu lado mais trágico no social, embora o lucro acumulado durante o período de existência da(s) empresa(s) esteja devidamente privatizado.
Como a Marinha Mercante faz parte do mundo real, embora seja muito pouco
visível para a sociedade em geral, de vez em quando somos surpreendidos por
problemas gerais ou pontuais. Um exemplo muito bom de problema geral foi a
crise dos anos 90, quando nossa frota encolheu drasticamente e ficou limitada a
pouquíssimas embarcações. Nessa época o desemprego entre marítimos atingiu
índices assustadores, e muitos companheiros tiveram inclusive que mudar de
profissão.
Um bom exemplo de caso pontual é o caso da reportagem abaixo.
Saudações Marinheiras!
A Nau da Insensatez
Por Felipe Carneiro
Afundado em dívidas, o armador José
Carlos Fragoso filho abandona um navio com 400 toneladas de óleo nos tanques
para apodrecer no meio da baía de Guanabara. Ao ignorar o problema, joga a
responsabilidade nas costas - e no bolso - de todos os cariocas.
Navios abandonados são um problema
crônica na Baía de Guanabara. Recentemente a Secretaria Estadual do Meio
Ambiente mapeou 52 embarcações largadas por seus antigos proprietários para
apodrecer no meio de um dos cartões-postais mais famosos da cidade. Destas, 21
já foram removidas pela secretaria às costas do contribuinte. Na semana passada
essa conta aumentou, com mais um barco acrescentando à lista. E que barco: um
cargueiro de 133 metros de comprimento por 23 de largura e 8000 toneladas de
peso, com centenas de milhares de litros de combustível nos tanques prestes a
poluir as águas, já bem sujas. Agora a Marinha e os órgãos ambientais, com a
ajuda da Transpetro, correm para evitar o pior, organizando uma grande operação
para impedir vazamentos e remover o entulho encalhado.
Em meio à confusão, chama atenção a placidez
com que o proprietário do navio, José Carlos Fragoso Filho, de 80 anos, encarou
o acidente. Mergulhado em dívidas, ele tem dilapidado seu patrimônio para pagar
contas. O cargueiro, até recentemente arrendado à vale, havia sido hipotecado
ao BNDES. Devolvido pela mineradora perdeu a serventia e foi abandonado no mar.
Daí a encalhar e adernar junto à Ponte Rio-Niterói foi só questão de tempo.
"Como está hipotecado quisemos repassá-lo ao banco, mas eles não
aceitaram", afirmou Fragoso Filho ao jornal O Globo. "Sugerimos que o
vendesses ou afundassem. Já me considero fora desse negócio! Não tenho mais
condições de gerir isso." Pelo visto, agora o problema é de todos os
cariocas.
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