Aqueles que acompanham o Blog dos
Mercantes há algum tempo, sabem que vimos dizendo frequentemente, que a falta
de Oficiais Mercantes no Brasil é uma grande falácia – os armadores nunca
reclamaram de falta de guarnição – e agora isso é “assumido” pela V.Ships, uma
das mais importantes operadoras do mundo, e que também atua no Brasil,
incluindo o setor de offshore.
Se é verdade que há algum tempo
atrás o mercado de trabalho estava equilibrado, hoje já vemos certo
desequilíbrio, com vários Oficiais Mercantes encontrando dificuldades para
conseguir embarque, e um desemprego preocupante na classe.
E mesmo assim nossos centros de
formação continuam jogando novos oficiais no mercado de trabalho, e como a
própria V.Ships afirma, o mercado marítimo de transportes se encontra em ritmo
lento de crescimento. A exceção do mercado offshore aquecido não é suficiente
para absorver toda essa mão de obra treinada, o que se comprova pelo desemprego
já comentado aqui.
Outro ponto interessante do artigo
é sobre a questão do valor dos fretes. O anúncio de que os fretes ainda não
alcançaram os valores do pré-2008, e que isso não deverá acontecer tão cedo.
Mas isso não significa que as empresas estejam tendo baixos lucros, apenas não
estão tendo os lucros absurdos que tinham antes do auge da crise, e que não
eram uma benesse apenas do setor marítimo, mas geral na economia.
Agora, com um mercado mais real,
os lucros apenas estão se ajustando num patamar mais “justo”, se é que isso
existe em economia.
Para V.Ships fretes ainda estão
baixos
Por Sergio Barreto Motta
A V.Ships, maior empresa de gestão de
navios do mundo, recebeu a comunidade marítima, em evento no Copacabana Palace,
no Rio. O diretor executivo do grupo, Robert M. Bishop, ao lado do presidente
no Brasil, Eduardo Bastos, manteve contatos com o mercado local. A esta coluna,
Bishop declarou que jamais o mercado de fretes irá se aproximar dos altos
níveis verificados antes da crise de 2008.
– Naquela época, o comércio crescia
muito, e a frota era limitada. Hoje, o mundo cresce menos, a frota
internacional é maior e ainda há muitos navios em construção. Não vejo, no
horizonte, possibilidade de retorno aos altos níveis de fretes praticados até a
crise de 2008, embora nada impeça alguma alta moderada. Definitivamente,
estamos em período de baixos lucros para as empresas de navegação.
Segundo ele, uma exceção é o mercado
específico para atendimento a plataformas de petróleo, o chamado offshore. “É a
jóia da coroa”, afirma o escocês, que, a propósito, informa ser absolutamente
contrário à saída da Escócia do Reino Unido. “Seria loucura”, diz. Destaca que,
em navegação, como em todo negócio, é essencial a credibilidade e que o Brasil
conta com empresas sérias atuando nessa área.
A V.Ships se instalou no Brasil em
1984 e hoje conta com inúmeros clientes, entre os quais a estatal Transpetro.
Há três anos, foi criada a V.Ships Brasil Offshore, que já controla nove
embarcações, sendo que duas com gestão total e, nas demais, atua na área de
pessoal, com recrutamento e controle da operação. No mundo, a empresa gere nada
menos de 1.200 navios, o que engloba 30 mil tripulantes. A maioria é de
filipinos, seguindo-se pessoal da ex-União Soviética – russos, croatas etc. – e
indianos.
Comenta Bishop que, no Brasil e no
mundo, um dos desafios é atrair gente para o mar. Admite que o charme da
profissão não é o mesmo de antes. Mesmo assim, a empresa usa sua rede mundial
para recrutar pessoal especializado e colocá-lo da melhor forma possível na
frota que gere. Em relação a poluição, afirma que o problema não está no mar,
mas em terra.
– A navegação é um meio barato e
seguro. Nos últimos tempos, os navios de petróleo, por exemplo, passaram a
dispor de excelentes meios para evitar poluição, o que inclui, é claro, pessoal
treinado.
Sobre a possibilidade de o Brasil
criar sua própria frota de navios porta-contêineres, como vem sendo discutido,
Bishop afirma ser um direito absoluto do país, mas ressalta dois entraves: a
queda nos níveis de fretes, que afasta novos investidores e o Custo Brasil. “A
gente sente o Custo Brasil não apenas na navegação, mas no dia a dia. Grande
parte das atividades apresenta um valor superior ao de outros países em
desenvolvimento e até mesmo de nações plenamente desenvolvidas”, diz. Em
relação à possibilidade de o Brasil obrigar armadores estrangeiros a se
registrarem no país, Bishop considera isso irrelevante e custoso:
– Os navios movimentam importação e
exportação brasileira. Qualquer obstáculo representaria aumento de custos, que
acabaria sendo repassado aos clientes. Os Estados Unidos impõem uma série de
obstáculos à navegação, que, no fundo, só fazem aumentar o custo para
movimentação de suas cargas, especialmente na cabotagem.
Desde 2010, a V.Ships tem 75% de suas
ações de posse do fundo canadense de investimentos Omners – com o restante na
mão dos executivos que fundaram o grupo. A sede técnica é em Glasgow e as
principais unidades administrativas estão em Londres e Mônaco. Sobre o setor de
apoio marítimo, o diretor Comercial, Leonardo Freitas, frisa que o crescimento
da nova subsidiária tem sido intenso. Dos nove barcos hoje geridos pelo grupo,
um deles é uma espécie de hotel flutuante, um flotel, com capacidade para 450
pessoas, além dos 42 tripulantes. Esse flotel em geral passa seis meses ligado
a uma plataforma da Petrobras e, no momento, se encontra acoplado à P-39, na
Bacia de Campos.
Para
Leonardo Freitas – que passou quatro anos e meio se especializando em Glasgow –
no momento há menos dificuldade para se contratar marítimos do que há um ano e
meio. No Brasil, a V.Ships Brasil é responsável pela gestão do trabalho de
2.600 marítimos. Dos marítimos contratados pela V.Ships no Brasil, cerca de 400
são estrangeiros, o que está de acordo com a legislação brasileira.
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