O Blog dos Mercantes vem sempre
enfatizando o potencial que nossas hidrovias, e também a Cabotagem, que têm de
aumentar sensivelmente a quantidade, qualidade e a área de influência no
transporte de cargas, e também de passageiros, seja no turismo, seja no
deslocamento entre regiões do país (principalmente o turismo).
Esse potencial foi agora
enfatizado pelo Valor Econômico e, embora pareçam números estratosféricos, na
verdade os valores necessários para alcançarmos um aumento substancial na
utilização das hidrovias são, na verdade, ínfimos, se compararmos com outros
modais de transporte, como o ferroviário, e o próprio rodoviário. Se contarmos outros benefícios do transporte
pela via aquática, como menor custo, menos poluição, e maior segurança, entre
outros, vemos que é uma opção inteligente e que deveria ser melhor explorada no
país.
E isso sem necessariamente
colocar o transporte rodoviário em segundo plano, ou relegar o ferroviário a
nichos, pois existe necessidade e espaço para todos os modais, e o que faz do
transporte de cargas algo realmente barato e inteligente é a racionalização e
utilização concomitante de vários modais, dependendo da distância e regiões
para onde determinadas cargas serão transportadas.
Mas com certeza o atraso que
vemos em relação aos modais aquáticos (hidrovias e Cabotagem), e o menor
investimento para torna-los opções mais viáveis e mais disponíveis ao
transporte no país, seriam indício de prioridade à navegação de modo geral.
Esperamos que isso se realize.
Hidrovias têm grande potencial de
utilização
Por Guilherme Meirelles
O Brasil conta com doze regiões
hidrográficas e 41.635 quilômetros de vias navegáveis, mas apenas 20.956 km
(50,3%) são economicamente navegáveis. Seis corredores hidroviários são
aproveitados para o transporte de cargas. O principal é o Solimões-Amazonas,
com 16.797 quilômetros, correspondentes a 80% de todo o complexo hidroviário.
Os demais são: Paraná-Tietê (1.495 km), Tocantins (982 km), Paraguai (592 km),
São Francisco (576 km) e Sul (514 km).
Em 2012, segundo a Antaq (Agência
Nacional de Transportes Aquaviários), o transporte de cargas por hidrovias
movimentou 80,9 milhões de toneladas, um crescimento de 1,4% ante o ano
anterior, quando passaram pelas hidrovias 79,8 milhões de toneladas. "É um
volume expressivo, mas há potencial para uma utilização bem mais intensa das
hidrovias, desde que se façam os investimentos necessários", afirma
Adalberto Tokarski, diretor da Antaq.
Por ser um modal em que não há
compartilhamento ou concessão com a iniciativa privada, o sistema hidroviário
necessita de investimentos públicos para ser viável economicamente, ou seja,
que permita a navegação em longos trechos sem ficar à mercê dos períodos de
chuvas (ou águas altas) e de estiagem. Para tanto, é preciso que haja um
permanente sistema de dragagens (retirada de sedimentos sólidos e lodo
acumulado) nos rios e suficiente número de eclusas - degraus que permitam a
subida ou descida da embarcação em áreas de desníveis.
De acordo com projeções feitas pela
Antaq no estudo Plano Hidroviário Estratégico, os rios brasileiros terão
condições de transportar 120 milhões de toneladas em 2031 caso sejam feitos
investimentos de R$ 17 bilhões em obras e adequações nas hidrovias ao longo de
11 anos. Hoje, diz Tokarski, os investimentos necessários esbarram na
burocracia, na demora nos licenciamentos ambientais e na falta de planejamento
e frequência na realização de dragagens.
O meio de navegação é indicado para
transporte de longa distância e cargas a granel, como soja, farelo de soja,
minérios, madeira e celulose, petróleo e produtos químicos que não necessitem
de cuidados especiais. Os principais benefícios são menor custo por unidade
transportada, redução das emissões dos gases de efeito estufa e menor consumo
de combustível.
Estudo demonstra que 6 mil toneladas
podem ser transportadas no rio por um comboio, utilizando quatro chatas e um
empurrador; por ferrovia, esse mesmo volume exigiria 86 vagões de 70 toneladas
enquanto que por rodovias seriam necessárias 172 carretas de 35 toneladas cada.
Com relação ao consumo, uma barcaça gasta 4,1 litros/tonelada a cada 1000 km, o
trem consome 5,7 litros e o caminhão, 15,4 litros.
A hidrovia mais estruturada do país é
a Tietê-Paraná, responsável pelo escoamento da produção agrícola (milho, soja e
cana) de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A hidrovia conta com 12
terminais portuários e em 2011 movimentou 5,8 milhões de toneladas de carga.
"É a única em que as dragagens são feitas com regularidade", diz o
diretor da Antaq. Desde 2012, está em andamento um plano de investimentos de R$
1,5 bilhão oriundos do PAC 2 (R$ 900 milhões) e governo estadual (R$ 600
milhões). As obras incluem extensão da hidrovia, construção de barragens,
melhoria das eclusas, novos terminais e reforma de pontes. O trabalho vai
permitir a movimentação de 11,5 milhões de cargas/ano.
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