terça-feira, 22 de julho de 2014

Blog dos Mercantes observa os Brics com atenção

Fora um desenvolvimento econômico mais robusto nos últimos anos, que os colocou bem mais próximos de nossas sociedades líderes economicamente, além de ainda terem um potencial de crescimento bastante amplo, os Brics não têm grandes semelhanças. E essas diferenças são bastante amplas, indo desde as já badaladas diferenças “culturais”, até objetivos econômicos, comerciais e políticos.

A Rússia busca deter os avanços de EUA-UE sobre a hegemonia regional que ainda tem, e ao mesmo tempo recuperar um pouco da liderança mundial que tinha nos tempos de URSS. Sua política, tanto interna como externa, é truculenta, e frequentemente recorre à força bruta (nada diferente de outras nações).

A China busca consolidar sua liderança mundial, recém-adquirida, e barrar os avanços regionais de Índia, Japão, e até da Coréia do Sul, enquanto também busca manter a Coréia do Norte sob controle. Tarefa hercúlea, mas vem sendo bem executada, principalmente em regiões mais distantes.

A Índia busca se posicionar como liderança regional, mesmo objetivo de Brasil e África do Sul, com a diferença que tem a China a seu lado, o que dificulta bastante seu trabalho. O Brasil é dificultado, sobretudo pelos EUA, que insistem em manter todos os países do Continente sob seu cajado, política equivocada quando pensamos na complexidade das relações internacionais de hoje. A África do Sul é atrapalhada por todas as grandes potências, incluindo a China.

No texto abaixo, tirado da Folha de São Paulo, podemos encontrar mais alguns pontos de divergência e demanda dentro do próprio grupo, e entre o grupo e outros.

E com tantas discrepâncias, assim mesmo eles tentaram implantar um banco de crédito conjunto, estilo Banco Mundial, além de um fundo de resgate, estilo FMI, fazendo concorrência direta a essas instituições, que ao longo dos anos vêm sendo utilizadas como forma de controle pelas potências já estabelecidas. Um passo gigantesco, e que pode definitivamente retirar dos atuais trilhos a relação de poder pelo mundo afora. Isso tudo sem ter ainda resolvidas as maiorias de suas dissidências internas.

Será interessante vermos como implementarão isso, de forma a alavancar o desenvolvimento humano de todos esses países (no fundo esse é o desenvolvimento que importa), e que ainda é bastante atrasado em todos, se impondo sem causar traumas, em uma estrutura que mal se reorganizou após o período de “Guerra Fria”.

E no meio de toda essa disputa, além das antigas que já conhecemos, o Brasil precisa defender seus interesses, aumentar seu comércio, sem perder empregos e valor de seus produtos, o que é ambicionado por China e outros países pontualmente, expandir e consolidar sua área de influência, sem criar desnecessários atritos com outras potências, ou acirrar os já existentes.

Hércules, o deus grego, pegaria um arco com uma aljava de flechas, um porrete numa mão, uma espada na outra, e resolveria todos esses problemas de forma truculenta. Mas a diplomacia internacional mudou um pouco, desde que ele andou cortando cabeças e derrotando feras pela face da terra...


No Brasil, Brics tentam deixar de ser só uma sigla
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
13/07/2014 02h00
 Os líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reúnem a partir de terça (15) em Fortaleza para tentar provar que os Brics não são apenas uma sigla que junta países emergentes com muito pouco em comum.
Com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, idealizado para ser uma alternativa ao Banco Mundial, e o Arranjo Contingente de Reservas, espécie de "FMI do B", os Brics querem mostrar que têm algo concreto que os une.
Mas toda essa união de propósitos na área econômica não se repete em espinhosos temas políticos, tais como as ações da Rússia na Ucrânia e a reforma do Conselho de Segurança da ONU, que serão abordados de forma cuidadosa.
O banco dos Brics terá capital de US$ 50 bilhões, que pode ser ampliado para US$ 100 bilhões, para financiar projetos de infraestrutura e sustentabilidade em países emergentes, sem se submeter às imposições dos países ricos no Banco Mundial.
Já o arranjo contingente irá funcionar como um fundo de emergência de US$ 100 bilhões que pode ser sacado pelos países do bloco em crises de balanço de pagamentos.
"A legitimidade dos Brics depende da realização desses projetos concretos, depois de seis anos de existência do grupo que estava apenas na retórica", diz Adriana Abdenur, professora de Relações Internacionais da PUC-Rio.
No comunicado que está sendo elaborado, com cerca de 60 parágrafos, o clube destaca a "preocupação com a não implementação das reformas" nas organizações multilaterais, segundo a Folha apurou.
A reforma para aumentar o poder dos países emergentes no FMI, uma grande bandeira dos Brics, foi vetada pelo Congresso dos EUA.

A mudança acordada em 2010 ajudaria a refletir a maior importância que o grupo passou a ter no mundo.
EM ABERTO
Algumas questões estão em negociação. A China faz pressão para ter dominância no banco e queria ter mais capital que os outros países.
Por enquanto, prevaleceu a ideia de participações iguais. Mas a chinesa Xangai faz lobby fortíssimo para sediar o banco.
Segundo uma fonte ligada ao governo chinês, seria um importante "símbolo político" a China sediar um banco multilateral.
Mas a África do Sul também está na disputa, reivindicando a sede como forma de estimular o desenvolvimento no país mais fraco do bloco.
Outra aresta a ser aparada refere-se à Organização Mundial de Comércio. Índia e África do Sul ameaçam desistir do acordo de facilitação de comércio fechado na reunião de Bali, em dezembro.
O acordo pode desburocratizar o comércio mundial e, embora modesto, salvou a OMC da irrelevância. O governo brasileiro luta para que os parceiros não recuem.
Índia e África do Sul argumentam que vão ter que arcar com os custos de implementação e o acordo só ajuda os países ricos a venderem para os pobres. O assunto será discutido por ministros nesta segunda (14).
A delicada situação de isolamento da Rússia, alvo de sanções e fuga de capital após a anexação da Crimeia, é outro abacaxi.
Os russos querem que o comunicado da cúpula inclua um repúdio às sanções impostas ao país.
A presidente Dilma Rousseff terá reunião com Putin e não quer desagradá-lo.
O Brasil tem interesses comerciais. A Rússia é o segundo maior importador de carne bovina brasileira e pode comprar ainda mais para reduzir suas importações de EUA e UE.
Segundo a Folha apurou, o comunicado deve condenar "sanções econômicas que violem o direito internacional". As punições de UE e EUA contra a Rússia não tiveram aval da ONU.
REPRESSÃO RUSSA
Mas a condenação está em um parágrafo separado daquele que menciona a crise na Ucrânia, que será abordada com o habitual cuidado diplomático, sublinhando a necessidade de diálogo e de evitar uma escalada.
Todo esse esforço para não melindrar a Rússia deve desagradar entidades de direitos humanos. "Queremos que Dilma apoie a sociedade civil russa, que tem sofrido enorme repressão no governo Putin", diz Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil.
A linguagem sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU também deve ser bastante neutra, porque a China e Rússia já são membros permanentes e têm restrições à entrada de países como Índia e Japão.
O evento teve de ser dividido, o primeiro dia em Fortaleza e o segundo, em Brasília, porque a capital cearense não tinha suítes presidenciais suficientes para abrigar os chefes de Estado da América do Sul que vêm no dia 16.
No dia 16 de manhã, Dilma terá encontro com Narendra Modi, novo primeiro-ministro da Índia. No dia 17, o presidente chinês, Xi Jinping, faz visita de Estado.

Devem ser assinados mais de 40 atos. Entre eles, exportação de 40 aeronaves da Embraer para a China.

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