Se alguém acha que o título deste
post é ambíguo, ou é uma crítica a um professor coreano ter recebido cerca de
USD 4 milhões em um ano de trabalho, esse alguém está bastante enganado. O Blog
dos Mercantes tem sempre cobrado a melhora de nossa educação, não apenas
qualitativamente, mas também na gama da população atendida com qualidade e a o
nível da escolaridade da população (o tempo que passamos na escola).
Sim, cobramos pelos anos em que
temos postado, e continuaremos cobrando a melhora de nossa educação, que vem
apresentando sempre níveis baixos em relação a outros países, mas isso não
significa de forma alguma inverter a situação ao outro extremo. É preciso haver
equilíbrio na vida, para que a qualidade seja garantida.
Exemplo de desequilíbrio ao
contrário é o que vem acontecendo na Coréia do Sul, aonde crianças perderam
totalmente o tempo livre para serem crianças. Esse excesso de estudo também
cria problemas de saúde nos jovens, e possivelmente criará problemas sociais na
sociedade futuramente, já que uma etapa da vida estará sendo perdida.
Então, vamos melhorar, precisamos
melhorar, mas sem exageros, porque o conhecimento acadêmico é muito importante,
e sem ele não conseguiremos jamais ter uma quantidade suficiente de mão de obra
altamente qualificada para garantir o progresso do país. Mas o conhecimento
acadêmico não é o único que conta para garantir essa mão de obra altamente qualificada,
há outros...
Professor fatura US$ 4 mi na web
e vira celebridade na Coreia do Sul
DO "FINANCIAL TIMES"
19/06/2014 02h00
Kim Ki-hoon subiu a um estrelato
que existe em poucos outros lugares fora da Coreia do Sul. Como professor de
inglês mais bem pago do país, se tornou uma celebridade.
No ano passado, faturou cerca de
US$ 4 milhões com suas aulas de idiomas on-line e US$ 10 milhões com sua
editora de livros didáticos.
O astro do ensino diz que cerca
de 1,5 milhão de sul-coreanos assistiram às suas aulas nos últimos 12 anos, e
atribui seu sucesso a um estilo de ensino envolvente e a um marketing esperto:
ele seleciona com cuidado suas aparições televisivas e compôs uma
canção pop dirigida a
vestibulandos nervosos, com o refrão "confie em mim!"
A receita de Kim é uma fração dos
US$ 20 bilhões ao ano que são gastos com aulas particulares na Coreia do Sul.
Mas ele expressa inquietação com a escala do sistema. "Não deveria haver
necessidade de educação privada."
O feroz debate em curso na Coreia
do Sul sobre o sistema nacional de educação –especialmente o imenso setor dos
cursinhos e professores particulares (hagwons)– talvez surpreenda os
admiradores do sistema do país.
Figuras como o presidente Barack
Obama elogiam a educação sul-coreana como modelo, apontando para o desempenho
das crianças nos testes de matemática, literatura e ciência da OCDE, espécie de
grupo de países ricos.
Mas na Coreia do Sul há crescente
inquietação quanto aos efeitos colaterais do uso maciço de serviços
educacionais privados. Para começar, muitas crianças estudam desde a manhã até
bem tarde depois do final das aulas regulares, sem tempo suficiente para
brincar e relaxar.
No ano passado, um estudo sobre
crianças numa área nobre de Seul constatou que mais de 1 em 7 das crianças
pesquisadas sofriam de curvatura da espinha, mais que o dobro do índice
registrado 10 anos antes. Pelo menos três quartos dos alunos de segundo grau em
Seul são míopes, e os médicos têm identificado mais e mais jovens com a
"síndrome do pescoço de tartaruga", que leva a criança a inclinar sua
cabeça para a frente ansiosamente.
E há o impacto econômico: os
custos da educação privada respondem por 12% dos gastos domiciliares, e a eles
é atribuída a culpa pela queda do índice de natalidade, um dos mais baixos do
mundo.
Sucessivos governos vêm tentando
restringir as atividades dos milhares de hagwons –agora proibidos de operar
depois das 22h.
O custo por hora das aulas foi
limitado e os hagwons foram proibidos de ensinar matérias à frente do estágio
em que uma escola as ensinaria.
Para Min Seong-won, o mais famoso
educador sul-coreano, "o sistema de educação no país está se tornando um
sistema socialista".
Min é dono de um hagwon e oferece
consultoria de planejamento educacional em programas de TV e por uma série de
livros populares.
Para ele, o desempenho do país
nos testes da OCDE prova que o sistema educacional é forte. Em 2012, eles
ficaram em quinto lugar em matemática e alfabetização. Mas em 62º na solução de
tarefas complexas, e em último no quesito "felicidade na escola".
Lee Ju-ho, ministro sul-coreano
da Educação de 2010 a 2013, diz que isso indica o impacto do estudo excessivo
sobre a saúde mental, a criatividade e a capacidade de trabalho em equipe. Se o
objetivo é que a Coreia do Sul floresça, ele diz que o país precisa tratar do
problema dos "altos gastos com a educação, que não conduzem a um avanço no
capital humano"
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