terça-feira, 29 de março de 2016

Reestruturação a caminho

Aos poucos a Petrobrás e a Sete Brasil vão se reestruturando e se preparando para os próximos anos. Isso não significa que os investimentos estejam voltando com força, ou que as empresas estejam prontas para recuperar a pujança que tiveram há poucos anos atrás. Na verdade as empresas seguem em prossesso de recuperação e de desinvestimento, seguindo a tendência internacional do setor offshore, que enfrenta forte recessão em todo o globo.

Mas aos poucos o setor vem se recuperando, e as empresas estão buscando estarem prontas para retomar os investimentos quando o mercado estiver novamente propício a isso.

Quem trabalha com elas consegue notar que muita coisa mudou no último ano, e que o desinvestimento é grande, e que elas estão reagindo.


Valor Econômico – Reportagem – 31/08/2015

Sete Brasil alcança consenso com Petrobras

Graziella Valenti

A Sete Brasil finalmente traçou junto com a Petrobras o caminho para poder dar sequência à reestruturação financeira e operacional que começou a negociar em abril, após o BNDES suspender o financiamento ao projeto.

Na ocasião, venciam os empréstimos-ponte fornecidos por diversos bancos, liderados pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, num total de US$ 3,6 bilhões. Sem o banco de fomento, a companhia precisou encolher as encomendas de sondas e procurar outra forma de se financiar.
Após meses de negociação e um impasse, Sete e Petrobras resolveram, na sexta-feira, ceder uma parte do que cada uma julgava ideal para que o consenso fosse alcançado. Era isso ou abandonar a empreitada.

O acordo foi obtido em uma reunião na sede da Petrobras, com a presença do presidente da estatal, Aldemir Bendine, e dos demais sócios da Sete. O encontro levou cerca de uma hora. A Petrobras possui, direta e indiretamente, 10% da holding de sondas.

Em 2012, o BTG Pactual tornou-se o principal acionista da Sete, com 30% do capital, seguido pelo Bradesco, Santander e outros bancos (com fatias menores), além do fundo estatal FII-FGTS e das fundações Previ e Petros, entre outros.

Em novo plano, ficou acordado que a Sete Brasil construirá 19 sondas, das 28 inicialmente planejadas. Mas quatro delas serão vendidas, possivelmente, à Kawasaki.

Das 15 sondas que será dona, a Sete vai operar cinco, por meio de uma joint-venture com uma empresa internacional do ramo. A companhia queria ficar com sete unidades sob seu cuidado.

Dessa forma, a Sete dividirá com esse operador um ganho da ordem de R$ 2 bilhões, a ser obtido em um período de 15 anos. Antes desse acerto, essa receita seria despesa para a Sete, pois era pagamento ao operador. Agora, paga de um lado e recebe - e divide - do outro.

Criada apenas para construir as sondas para exploração do pré-sal pela Petrobras, a Sete poderá ser também operadora sozinha após comprovar, em alguns anos, sua capacidade. Então, não será mais necessária a joint-venture que pode ou não ser mantida. O novo modelo não altera o custo do projeto à Petrobras, que pagará a mesma taxa diária de afretamento pelas sondas, hoje em US$ 460 mil. Mas muda o retorno da Sete. É uma forma de compensar a perda com a reestruturação.

A rentabilidade inicial do projeto sofreu uma série de contratempos, como o custo dos recursos, a perda de escala com a redução do total de sondas, além da diluição do ganho com a capitalização que fará em breve. Diversos dos acionistas já reduziram em seus balanços o valor atribuído à Sete. O próprio BTG Pactual já fez dois ajustes.

No novo plano, além de se tornar operadora (via joint-venture), a Sete também terá um sócio do ramo e que capitalizará o negócio.

Essa foi justamente a outra questão resolvida na reunião de sexta-feira. As outras dez sondas da Sete serão operadas por uma única empresa. Essa companhia, também uma operadora internacional, injetará R$ 1,9 bilhão no projeto - diretamente nas sondas e também na própria empresa.

A Petrobras queria que as sondas fossem operadas em grupos com, no máximo, cinco unidades. A estatal parecia inflexível, mas entendeu a importância do volume para atrair o novo sócio e cedeu.

O consenso alcançado entre Sete e Petrobras ainda precisa ser colocado no papel. A expectativa é que isso seja rapidamente concluído, para que se possa dar foco aos acordos com os bancos e também para a capitalização.

A Sete já tinha obtidos com os bancos financiamentos para US$ 6,5 bilhões - US$ 4 bilhões em dinheiro novo e o restante para alongamento do débito vencido. É provável que US$ 1 bilhão da dívida atual seja amortizado.
As dívidas novas serão fornecidas pelo mesmo grupo de bancos que concedeu o empréstimo-ponte - portanto, com os públicos à frente, segundo o Valor apurou.

Apesar de o BNDES ter decidido não ser financiador direto da Sete Brasil, boa parte dos recursos novos virão do banco de fomento - indiretamente, via repasses.

A Sete Brasil só terá receita quando as sondas começarem a operar e tiver direito, então, aos pagamentos da Petrobras pelo afretamento. A expectativa é que isso ocorra ao fim de 2016.

O argumento técnico usado para criar a Sete Brasil foi evitar que a Petrobras tivesse de arcar com o custo das sondas que seriam construídas.
As encomendas para o pré-sal foram feitas dentro da política instituída durante o governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) de conteúdo nacional. Para isso, foi feita a revitalização da indústria naval brasileira, com a criação de cinco estaleiros. E para justificar o feito, a Petrobras encomendou numa só tacada 28 sondas - por meio de duas licitações.

A Sete Brasil ficaria responsável pela construção das sondas, num total de US$ 25 bilhões. A empreitada caiu para US$ 13 bilhões, com todas as fontes novas de recursos mais os investimentos já feitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário