terça-feira, 22 de março de 2016

Tiro No Pé?

O jornal O Estado de São Paulo veiculou a reportagem abaixo, sobre um tema que já vinha sendo comentado extraoficialmente, mas que foi atropelado pela diretoria da Petrobrás e gerou rápida e forte reação dos representantes dos trabalhadores nos conselhos administrativos das empresas: a privatização da Transpetro.

Não sem motivo os trabalhadores reagiram dessa forma, já que a diretoria não está seguindo os trâmites usuais e corretos para a tomadas de decisão dessa monta.

Apenas três dias depois, A Tribuna veiculou reportagem em que afirma que o Sindmar denunciou o diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, por anunciar a medida sem as devidas discussões internas.

Parece que o governo petista quer repetir o pior do seu antecessor, privatizando ativos lucrativos, entregando a preço de banana, e mantendo o bagaço em mãos estatais.

Não a privatização de qualquer ativo da Petrobrás em tempo de baixa, e principalmente sem o devido processo interno.



Venda da Transpetro é alvo de denúncia

O diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, é alvo de denúncia encaminhada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por  infringir o dever de “lealdade” e “sigilo” sobre negociações não comunicadas ao mercado, em referência ao anúncio, na última sexta-feira, da análise de uma possível venda da Transpetro.

A denúncia foi feita na terça-feira pelo Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindimar). De acordo com o ofício encaminhado ao órgão regulador, as declarações revelam “abuso de poder” do diretor e causaram danos ao preço das ações da estatal. Segundo o sindicato, o tema não passou por discussões internas prévias no colegiado da Petrobras ou no conselho da Transpetro.
O Estado de S. Paulo – Reportagem – 18/01/2016

Venda da Transpetro é questionada

Antonio Pita

Representantes dos trabalhadores alegam que possibilidade não passou pelas ‘instâncias decisórias da companhia’ e pedem esclarecimentos

Anunciada na sexta-feira pelo diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, a possível venda da subsidiária de logística, Transpetro, não foi discutida ou aprovada pelo Conselho de Administração da estatal. O tema também não passou pelo colegiado da própria subsidiária. Representantes dos trabalhadores em ambos os colegiados divulgaram nota ontem, solicitando “imediatos esclarecimentos” sobre a negociação, classificada como uma “insubordinação em relação às instâncias decisórias da companhia”.

Em uma semana de derrocada das cotações internacionais do petróleo, fechando em média a US$ 29, e das ações da Petrobrás no mercado financeiro, que recuaram 21% nas primeiras semanas do ano, Monteiro anunciou na sexta-feira a análise inicial, feita por um banco, para a venda da subsidiária, responsável por uma frota de 54 embarcações e pela gestão de 49 terminais logísticos, além da rede de oleodutos. A opção por intensificar a venda de ativos de infraestrutura, com valor de mercado sem relação com a cotação de óleo, foi um novo aceno aos investidores. Na terça-feira, a companhia já havia anunciado cortes de US$ 32 bilhões em investimentos, redução da meta de produção e revisão das premissas financeiras para os próximos três anos.

Em nota publicada em sua página, o conselheiro Deyvid Bacelar criticou a negociação da subsidiária e o anúncio feito antes de deliberação nos conselhos e comitês internos de análise de projetos. Bacelar ressaltou que a “pressa em divulgar medidas não discutidas no Conselho” demonstra “inabilidade da diretoria na análise da conjuntura política e econômica do País”.

“As vendas de quaisquer ativos da Petrobrás são discutidas internamente, contudo, essas decisões passam pelo Comitê Estratégico (Coest) e, depois, pelo Conselho de Administração (...) Reafirmo que a situação de venda de novos ativos não foi discutida nas reuniões do Conselho”, diz o comunicado.“A ‘publicização’ desses fatos apenas gera especulações, afeta o ambiente de mercado,bem como o clima da companhia, comprovando uma clara insubordinação da diretoria em relação às instâncias decisórias da companhia”, completa.

Campanha. Em campanha pela reeleição no colegiado da Petrobrás, Deyvid Bacelar comparou o plano de venda de US$ 14,4 bilhões em ativos como a BR Distribuidora, Braskem, Fábrica de Fertilizantes (Fafens) e a Transpetro, como um “desmonte” e “privatização” da empresa, indicando que as subsidiárias atuam em segmentos de grande rentabilidade.

O conselheiro lembrou que no Orçamento da União para 2016 os recursos destinados à Transpetro foram reduzidos em R$ 1 bilhão frente ao último ano. Também na BR Distribuidora, o orçamento destinado foi reservado “para fins de manutenção”.

Raildo Viana, representante dos trabalhadores no colegiado da Transpetro, se disse surpreendido com a “alarmante” notícia da venda da subsidiária “como todos os colegas trabalhadores”. “Estou pedindo maiores e imediatos esclarecimentos tanto à diretoria financeira da Transpetro como também ao próprio Conselho de Administração da companhia. Registro meu repúdio total a esta iniciativa”, reiterou.

PARA LEMBRAR

A Transpetro foi criada em 1998, na esteira das mudanças no marco regulatório do setor, promovidas no governo FHC, que acabaram com o monopólio estatal no setor de petróleo. À época, a separação do braço de logística da Petrobrás foi criticado pelos sindicalistas como um passo para a privatização. A subsidiária é responsável pela gestão de 49 terminais logísticos, a rede nacional de oleodutos e também opera embarcações de transporte de óleo offshore, com uma frota de 54 navios.

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