O jornal O Estado de São Paulo veiculou a reportagem abaixo, sobre um tema que já vinha sendo comentado extraoficialmente, mas que foi atropelado pela diretoria da Petrobrás e gerou rápida e forte reação dos representantes dos trabalhadores nos conselhos administrativos das empresas: a privatização da Transpetro.
Não sem motivo os trabalhadores reagiram dessa forma, já que a diretoria não está seguindo os trâmites usuais e corretos para a tomadas de decisão dessa monta.
Apenas três dias depois, A Tribuna veiculou reportagem em que afirma que o Sindmar denunciou o diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, por anunciar a medida sem as devidas discussões internas.
Parece que o governo petista quer repetir o pior do seu antecessor, privatizando ativos lucrativos, entregando a preço de banana, e mantendo o bagaço em mãos estatais.
Não a privatização de qualquer ativo da Petrobrás em tempo de baixa, e principalmente sem o devido processo interno.
A Tribuna – Reportagem – 21/01/2016
Venda da Transpetro é alvo de denúncia
O
diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, é alvo de denúncia
encaminhada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por infringir o
dever de “lealdade” e “sigilo” sobre negociações não comunicadas ao
mercado, em referência ao anúncio, na última sexta-feira, da análise de
uma possível venda da Transpetro.
O Estado de S. Paulo – Reportagem – 18/01/2016
Venda da Transpetro é questionada
Antonio Pita
Representantes
dos trabalhadores alegam que possibilidade não passou pelas ‘instâncias
decisórias da companhia’ e pedem esclarecimentos
Anunciada
na sexta-feira pelo diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, a
possível venda da subsidiária de logística, Transpetro, não foi
discutida ou aprovada pelo Conselho de Administração da estatal. O tema
também não passou pelo colegiado da própria subsidiária. Representantes
dos trabalhadores em ambos os colegiados divulgaram nota ontem,
solicitando “imediatos esclarecimentos” sobre a negociação, classificada
como uma “insubordinação em relação às instâncias decisórias da
companhia”.
Em
uma semana de derrocada das cotações internacionais do petróleo,
fechando em média a US$ 29, e das ações da Petrobrás no mercado
financeiro, que recuaram 21% nas primeiras semanas do ano, Monteiro
anunciou na sexta-feira a análise inicial, feita por um banco, para a
venda da subsidiária, responsável por uma frota de 54 embarcações e pela
gestão de 49 terminais logísticos, além da rede de oleodutos. A opção
por intensificar a venda de ativos de infraestrutura, com valor de
mercado sem relação com a cotação de óleo, foi um novo aceno aos
investidores. Na terça-feira, a companhia já havia anunciado cortes de
US$ 32 bilhões em investimentos, redução da meta de produção e revisão
das premissas financeiras para os próximos três anos.
Em
nota publicada em sua página, o conselheiro Deyvid Bacelar criticou a
negociação da subsidiária e o anúncio feito antes de deliberação nos
conselhos e comitês internos de análise de projetos. Bacelar ressaltou
que a “pressa em divulgar medidas não discutidas no Conselho” demonstra
“inabilidade da diretoria na análise da conjuntura política e econômica
do País”.
“As
vendas de quaisquer ativos da Petrobrás são discutidas internamente,
contudo, essas decisões passam pelo Comitê Estratégico (Coest) e,
depois, pelo Conselho de Administração (...) Reafirmo que a situação de
venda de novos ativos não foi discutida nas reuniões do Conselho”, diz o
comunicado.“A ‘publicização’ desses fatos apenas gera especulações,
afeta o ambiente de mercado,bem como o clima da companhia, comprovando
uma clara insubordinação da diretoria em relação às instâncias
decisórias da companhia”, completa.
Campanha.
Em campanha pela reeleição no colegiado da Petrobrás, Deyvid Bacelar
comparou o plano de venda de US$ 14,4 bilhões em ativos como a BR
Distribuidora, Braskem, Fábrica de Fertilizantes (Fafens) e a
Transpetro, como um “desmonte” e “privatização” da empresa, indicando
que as subsidiárias atuam em segmentos de grande rentabilidade.
O
conselheiro lembrou que no Orçamento da União para 2016 os recursos
destinados à Transpetro foram reduzidos em R$ 1 bilhão frente ao último
ano. Também na BR Distribuidora, o orçamento destinado foi reservado
“para fins de manutenção”.
Raildo
Viana, representante dos trabalhadores no colegiado da Transpetro, se
disse surpreendido com a “alarmante” notícia da venda da subsidiária
“como todos os colegas trabalhadores”. “Estou pedindo maiores e
imediatos esclarecimentos tanto à diretoria financeira da Transpetro
como também ao próprio Conselho de Administração da companhia. Registro
meu repúdio total a esta iniciativa”, reiterou.
PARA LEMBRAR
A
Transpetro foi criada em 1998, na esteira das mudanças no marco
regulatório do setor, promovidas no governo FHC, que acabaram com o
monopólio estatal no setor de petróleo. À época, a separação do braço de
logística da Petrobrás foi criticado pelos sindicalistas como um passo
para a privatização. A subsidiária é responsável pela gestão de 49
terminais logísticos, a rede nacional de oleodutos e também opera
embarcações de transporte de óleo offshore, com uma frota de 54 navios.
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