Já mostramos aqui a vergonha que foi a participação patética de Thomaz Zanotto, carregado de ódio, preconceito, racismo, e uma ideologia ultrapassada e comprovadamente prejudicial. A participação de qualquer um que vai a um evento entre empresários, é buscar investimentos e parcerias comerciais e produtivas. Para isso é necessário confiança, estabilidade política, legal e empatia. O Que vimos foi exatamente o contrário. Resultado, acredito, saiu de lá com os bolsos vazios.
E é isso o que expressa a reportagem abaixo, do Valor Econômico. Enquanto nossa plutocracia seguir atuando como se o Brasil fosse um feudo, e que eles são os barões que têm direitos, enquanto o povo apenas está aí para servi-los, seguiremos nos espasmos de avanços, com longos hiatos de estagnação e atraso.
Talvez nossos políticos não se preocupem com isso, mas nós sim, porque isso impacta em empregos, salários e qualidade de vida.
Estrangeiro ainda tem receio de investir em concessões
Victória Mantoan e Fernanda Pires
Não é hora de investir no Brasil.
É essa a percepção de alguns investidores estrangeiros da
área de infraestrutura, que veem oportunidades "melhores" nos
vizinhos latino-americanos, conforme especialistas ouvidos pelo Valor que
têm com clientes no exterior. Crise política, dificuldade de financiamento
e insegurança jurídica fruto de mudanças de marcos regulatórios compõem a
"tempestade perfeita" que repele o investidor de infraestrutura
no país.
No momento em que o governo interino de Michel Temer
seleciona as suas primeiras concessões, questões importantes de modelagem
ainda estão em pauta. Conforme antecipou na segunda-feira o Valor PRO,
serviço de informação em tempo real do Valor, o primeiro lote deve englobar
os aeroportos de Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis, o trecho
rodoviário entre as cidades de Jataí (GO) e Uberlândia (MG) e o terminal de
passageiros do porto de Recife - em um pacote que deve exigir investimentos
de R$ 12 bilhões.
Tirando casos isolados como o chinês CCCC, que desembarcou
no Brasil com a promessa de comprar parte do futuro porto privado da
WTorre, em São Luís (MA), os empresários enxergam com ceticismo a
iniciativa do governo de deslanchar as concessões de transporte - tidas
pelo presidente interino Michel Temer como a tábua de salvação para reanimar
a economia.
Embora menores, países como Colômbia, Peru ou Chile oferecem
ambiente considerado mais amigável, seguro e transparente quanto às regras
do jogo. Essa foi a principal leitura que Fernando Marcondes, sócio do
escritório L.O. Baptista-SVMFA, percebeu em uma reunião com investidores de
vários países, principalmente Estados Unidos e Canadá, que aconteceu no
exterior no início do mês.
Um dos problemas é a incerteza política. Segundo Marcondes,
investidores estrangeiros citam exemplos de instabilidade na postura do
governo, dentre elas as mudanças nas regras do setor elétrico anunciadas em
2012. Outro problema enfrentado diz respeito a financiamento. "O
contrato diz que o risco de financiamento é da concessionária",
explica, ao mesmo tempo em que o investidor depende do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sem que este garanta que vai
financiar os projetos.
Já para Bruno Werneck, sócio da área de infraestrutura do
escritório Mattos Filho, as concessões brasileiras conseguem atrair
investidores estrangeiros, já que "alguns desses ativos são muito
bons, como os aeroportos", mas ele concorda que esse interesse é menor
que o potencial, não fossem todos os problemas enfrentados pelo país.
Além da incerteza quanto ao papel do BNDES nos projetos, ele
destaca que os estudos preparados pelo governo são muito otimistas em
relação a projeção de receita futura e que não tem sentido manter o
controle da taxa de retorno em um país com taxa de juros a 14,25%. "O
cenário macro atrapalha, embora não inviabilize", diz. "A grande
questão é que o investidor tem opções e nós criamos modelo muito amarrado
que gera inseguranças."
Para Werneck, uma via para mitigar o risco cambial seria
indexar parte da tarifa à variação de uma moeda estrangeira ou a uma cesta
de moedas. Ou, para não passar esse risco para a tarifa, indexar a
remuneração do investidor (neste caso, o governo assume o risco). "Há
a certeza do retorno na moeda do investidor e a possibilidade de se
financiar em qualquer lugar."
Para Marcondes, uma alternativa seria a adoção de mecanismos
jurídicos que reduzam a dependência de quem está no poder. Ainda não estão
claras, porém, quais mudanças serão feitas no programa de concessão da
presidente afastada Dilma Rousseff - mas o aceno é que serão alterações de
fundo, com redução da ingerência política.
O primeiro episódio foi a suspensão do leilão das seis áreas
em portos do Pará marcado para o dia 10 de junho devido ao baixo interesse.
O ministro dos Transportes, Mauricio Quintella, ouviu o empresariado, que
aponta problemas técnicos e de insegurança jurídica nos editais e minutas
do contrato há meses. Essa é a segunda vez que o leilão de portos no Pará é
adiado - originalmente estava marcado para o dia 31 de março, mas o governo
postergou por problemas técnicos no envio de respostas a pedidos de
esclarecimentos.
Além disso, entre a confecção dos editais, em 2013, e o
momento do leilão o cenário mudou, o que ensejaria mudança de parâmetros,
como a movimentação de cargas. A mesma avaliação fazem grupos outrora
interessados no leilão da "rodovia do Frango", que cortará os
Estados do Paraná e Santa Catarina e que estaria próximo de sair. A demanda
de tráfego estaria superestimada, lastreada em um PIB que não mais se
confirmará.
Entre as licitações com mais chance de sucesso, avaliam os
especialistas, estão as dos aeroportos. Diferente de portos, por exemplo,
onde há a possibilidade de se fazer um empreendimento privado, o
interessado em operar aeroporto depende da abertura de licitação pelo
Estado. "Em aeroportos, existe demanda reprimida muito grande",
diz Werneck, em comparação com rodovias, que avalia ser "mais sensível
à economia".
Entre as licitações com mais chance de sucesso, avaliam os
especialistas, estão as dos aeroportos