sábado, 21 de setembro de 2019

Como eu digo, ele não é economista

Vejam bem, quando digo que ele não é economista é porque ele não atua como um, mesmo tendo cursado uma faculdade de economia há muito tempo atrás. Existe uma diferença sutil entre cursar uma faculdade e ser um profissional. Alguém que cursa medicina tem muito mais capacidade que eu para detectar e tratar uma doença, mas ele só se torna efetivamente médico a partir do momento que ele exerce a profissão com assiduidade e esmero. 

Paulo Guedes jamais exerceu a atividade de economisata, mas sim de banqueiro, o que não necessariamente exige conhecimentos de economia para tal. Tanto é assim que temos uma série de outros profissionais que exercem a profissão de banqueiro, mas nunca sentaram no banco de uma faculdade de economia.

Sim, é verdade que ele esteve envolvido com a equipe dos chamados "chicago boys", que se aproveitou da atrocidade humana chamada Pinochet e implantou medidas estúpidas no Chile. Essas medidas não só não melhoraram a sociedade chilena na época, como a pioraram, e muito, para as gerações posteriores. Tanto é que, mesmo governos afins a esses princípios estão desfazendo esses absurdos, porque eles têm sido responsáveis por mazelas sociais sérias e cada vez mais amplas.

E são essas imbecilidades, que apenas melhoram as condições para os negócios financeiros, que ele vem implantando no país. Acontece que, diferente do que diz o ditado, dinheiro não gera dinheiro espontaneamente, ou seja, não dá para plantar dinheiro e esperar nascer um pé de dinheiro. Para que o dinheiro multiplique ele precisa trabalhar. Isso significa produzir, seja na linha de produção de uma fábrica, seja no comércio, ou mesmo nas atividades primárias, se bem que nessas sempre há imenso subsídio estatal, devido ao alto investimento, ou a acirrada concorrência.

Mas as ações de Guedes visam tão somente o dinheiro se reproduzir pelo dinheiro, e isso não se sustenta a longo prazo. O problema citado abaixo é apenas o reflexo de investidores internacionais percebendo que o modelo brasileiro de extração de riqueza sem trabalho está próximo de se exaurir, e a equipe econômica do atual governo não consegue perceber isso, porque seu líder não é economista, e montou uma equipe de mesmo nível.

O modelo econõmico buscado por Guedes e sua equipe tende a fazer com que a economia brasileira alterne períodos curtos de baixo crescimento, com iguais períodos de retração. Esses períodos serão mais longos e intensos a depender das condições internacionais reinantes, já que se está desenhando uma economia altamente dependente dos humores econômicos internacionais.

Será um Brasil muito, mas muito aquém de seus petenciais.

E será um povo muito mais sofrido do que o atual. Até quando esse povo irá aguentar, aí reside a questão central.


Paulo Guedes é um imenso depósito de coisa alguma, diz Fernando Brito

Seu projeto econômico não consegue ser objetivo nem mesmo naquilo que apresenta como única medida para a economia: a venda de patrimônio. A saída de capital externo no mercado de ações, que disparou a partir de julho, continua acontecendo e tende a seguir assim, em razão das posições de “vendido” dos investidores estrangeiros, aponta o editor do Tijolaço


O ministro da Economia, Paulo Guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Por Fernando Brito, editor do Tijolaço – Comentou-se aqui que Jair Bolsonaro “miniaturizou” os dois superministros que, todos acreditavam, seriam os pilares de seu governo. Fez isso também com as Forças Armadas, mas é assunto para outro texto.
De Moro, tem ficado evidente, com as sucessivas investidas do presidente sobre sua área, situação agora provisoriamente em trégua, pois o ministro concordou em colocar “sob cabresto” a Polícia Federal, virtualmente impedida de investigar qualquer coisa que desagrade o clã presidencial.
Mas só agora começa a ficar evidente que Paulo Guedes, o ex-“Posto Ipiranga”, onde se encontrariam todas as respostas para as agruras econômicas do país é, de fato, um imenso depósito de coisa alguma.
Perdeu o ponto-chave de sua reforma da Previdência, que era o sistema de capitalização, capaz de formar, em mãos privadas, um imenso fundo de recursos para financiar o mercado, como sempre acontece quando é criado um mecanismo com atribuições previdenciárias. É simples: nos primeiros anos, a entrada de recursos é alta e a saída baixíssima, por se tratar de “contas novas”, cujas obrigações levam tempo para avolumarem-se.
Seu delírio de que a volta da CPMF seria capaz de permitir a desoneração de recolhimentos da Previdência nas folhas de pagamento é absolutamente frágil, como demonstra o ex-secretário da receita, Everardo Maciel, em entrevista ao Valor: para isso a alíquota teria de ser altíssima, o peso sentido por muitos e o alívio, nem tão grande, por poucos.
Na Folha, Guedes confessa que ainda está aferrado à ideia, ainda que, formalmente, diga que está sepultada:
“Evidentemente, quando as pessoas falam de CPMF, o presidente fala que não. Porque realmente não é CPMF que a gente quer, é um imposto sobre transações diferente desse. Mas, para que não haja mal entendido, morreu em combate o nosso valente Cintra”, afirmou.
O Ministério da Economia não tem liderança sobre nada do que se discute em matéria de reforma tributária e, portanto, passa a correr o risco de que saia do Congresso um “depenamento” de suas receitas já em crise.
Seu projeto econômico não consegue ser objetivo nem mesmo naquilo que apresenta como única medida para a economia: a venda de patrimônio. A saída de capital externo no mercado de ações, que disparou a partir de julho, continua acontecendo e tende a seguir assim, em razão das posições de “vendido” dos investidores estrangeiros.
Os grupos econômicos e financeiros já não contam com qualquer recuperação digna deste nome para a economia, tanto é que vêm caindo sucessivamente as previsões de crescimento do PIB no ano que vem.
De tal modo o carro vem rateando que não demora a haver possibilidade de que Jair Bolsonaro acabe por ter vontade de abastecer em outro posto que lhe prometa mais quilômetros de vantagem.

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