O discurso de Jair Bolsonaro na ONU foi um verdadeiro desastre, mas um desastre direcionado, e jamais completo. Isso é fácil de explicar quando vemos que se fartou de se utilizar de mentiras (às vezes meias verdades), de deformações, de má-interpretações, de ideologismo barato, de ataques desnecessários e baixos a outros países, de subserviência, de claras tentativas de alianças com gente que está sendo devidamente escorraçada dos governos de seus respectivos países.
As mentiras aparecem quando coloca os índios com os mesmos interesses que nós. Ele mesmo desmente ao mostrar que são mais de 70 nações indígenas, e que elas apresentam interesses e graus de aculturação distintos. As meias verdades ao falar sobre Amazônia e sua importãncia, em nacionalismo, em autodeterminação, soberania, e não interferência, mas logo em seguida diz que vende tudo no Brasil, diz que tenta interferir em assuntos internos de outros países da região, que coloca o Brasil cada vez mais dentro da dinâmica econômica internacional.
As má-interpretações aparecem quando mostra dados corretos, mas parciais, ou tira conclusões completamente equivocadas dos mesmos, quando fala de área utilizada para produção de alimentos em países da Europa e do Brasil. Dos países europeus dá a área total utilizada, mas do Brasil apenas a utilizada pelo agronegócio, deixando de fora as áreas usadas para produção de alimentos interno, da pecuária, e de outras culturas menores.
O ideologismo barato se concretiza na questão do socialismo/comunismo, nos ataques baratos à esquerda (que de esquerda tem pouco), nas defesa de uma liberdade religiosa parcial, já que internamente não apoia ou adota tal defesa.
Os ataques desnecessários ficam nítidos quando fala de pedidos de sanções ao Brasil. Ora, isso gerou o atrito com Macron, que foi, e é, muito mal conduzido por esse governo desastrado e desastroso.
A subserviência fica muito clara quando coloca os EUA e Trump em várias partes de seu discurso, e às vezes os israelenses e a seu líder de extrema diretia Benjamin Natanyahu, ou a Macri. Fica clara aos elogios baratos, gratuitos, desnecessários, e imerecidos a esses países e seus líderes de extrema direita.
As tentativas de alianças estão contidas nos elogios acima, quando Natanyahu perdeu as eleições em Israel, Trump tem processo de impeachment aceito na Câmara Baixa do Congresso Americano, quando Macri deve ser defenestrado já no primeiro turno da eleição argentina.
Mas o discurso de Bolsonaro não foi feito para ser correto, com interpretações corretas dos fatos, baseado em real autonomia, na verdadeira autodeterminação do Brasil, ou mesmo honesto. Nem mesmo o discurso de Bolsonaro foi feito para ser bem recebido por sua parcela de alucinados apoiadores internos, e pela extrema direita mundial, ou ao menos parte dela.
Em suma, o discurso foi um completo desastre para nós, porque foi crivado de mentiras, deturpações, ataques desnecessários a outros países, foi subserviente, desrespeitoso, mas teve gente que gostou.
Depois disso tudo precisamos ver como vão se desenrolar as relações internacionais do Brasil, porque os maus acordos comerciais que ele assinou já vazaram água, as sanções, ainda que timidamente, já começaram, as ameaças de sanções já subiram de tom, e não se resumem ao desastrado presidente francês, o problema é saber se elas realmente aumentarão de nível, ou ficarão somente nas ameaças.
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