A empresa inglesa de equipamentos marítimos Sea-Kit está testando uma embarcação totalmente automatizada, sem nenhum tripulante a bordo, e que inclusive teria condições de realizar algumas operações mais complexas do que o tradicional transporte de carga sem nenhuma intervenção humana a bordo. Ano passado os noruegueses também já iniciaram testes com embarcações automatizadas, que realizaram navegação e atracação sem intervenção humana.
Claro que até que a frota mundial esteja totalmente automatizada ainda levará um tempo, mas seguramente a profissão de marítimo irá se restringir gravemente nas próximas décadas. Algumas atividades ainda demandaram a presença humana, principalmente aquelas relacionadas ao transporte humano e de animais, mas a maioria estará operando sem a presença de tripulantes.
Uma das mais tradicionais profissões humanas pode estar vendo seu ocaso.
Mas os marítimos não são os únicos, a automatização ameaça os empregos de outros trabalhadores no setor de transporte também. Claro que algumas novas funções serão criadas, mas nem de longe elas compensarão os postos de trabalho perdidos.
Pode demorar um pouco mais, um pouco menos, mas a tendência é essa.
O navio Maxlimer, com apenas 12 metros de comprimento, listras brancas e amarelas balançando na costa do Reino Unido, à primeira vista parece só mais uma embarcação. Mas tamanho não é documento; e a máquina pode ser o veículo marítimo mais importante do mundo atualmente. O Maxlimer está pronto para se tornar a primeira embarcação de superfície não tripulada, ou USV, a atravessar o Oceano Atlântico. A viagem pode dar largada a uma série de inovações oceânicas: navios cargueiros sem tripulação; petroleiros não tripulados e lanchas robóticas, por exemplo.
Maxlimer é totalmente robótico e autônomo. A embarcação foi desenvolvida pela SEA-KIT, uma empresa de tecnologia marítima da Inglaterra. Mirando em contratos potencialmente lucrativos de apoio à exploração de petróleo e gás no mar (offshore), o objetivo da companhia era produzir um navio flexível, mais barato e seguro do que os as plataformas de extração tripuladas.
Sem a necessidade de suportar uma tripulação humana, um navio USV robótico pode dedicar mais espaço e capacidade aos próprios equipamentos que o constitui. Além disso, como não precisa lidar com fatores humanos, como fome, cansaço ou doença, pode navegar a uma velocidade de 13 quilômetros por hora por, potencialmente, nove meses seguidos. "Ele é robusto, adaptável e tem um alcance enorme", disse o diretor da SEA-KIT, Ben Simpson. O navio pode transportar até 2,5 toneladas de carga útil.
O navio robótico também é barato. "As embarcações da SEA-KIT usam menos de cinco por cento do combustível necessário para operar um navio oceânico padrão", disse o diretor de operações da SEA-KIT, Neil Tinmouth, ao portal The Daily Beast. Tinmouth acrescenta que a invenção é "um divisor de águas quando se trata da pegada de carbono e do impacto ambiental dessas operações".
O Maxlimer é controlado remotamente por um controlador humano que comanda o navio do porto via rádio. No oceano aberto, o veículo segue de forma autônoma os sinais gerados por um GPS e transmite dados em tempo real por meio de múltiplos links de satélite. O sistema eletrônico para controle remoto foi fornecido por uma empresa de segurança norueguesa. A máquina foi lançada em 2017 e passou por testes ao longo dos últimos dois anos que mostraram resultados animadores.
Em maio passado, a embarcação autônoma fez uma rápida viagem de carga entre a Inglaterra e a Bélgica, transportando ostras e cerveja. Depois, o navio-robô partiu para a Noruega, o que Tinmouth descreveu como "primeira inspeção de oleoduto no mar comercial totalmente não tripulada" usando sensores de bordo e um pequeno drone submarino. "As missões permitiram que nossa equipe em terra operasse e testasse a embarcação em vários cenários e estados do mar, tanto de dia quanto de noite", explicou Tinmouth ao Daily Beast.
Agora, a empresa prepara o USV para a desafiadora travessia no Atlântico, que deve durar por volta de 30 dias, prevista para dar início no primeiro semestre de 2020. Com o Maxlimer completando com sucesso a viagem, a SEA-KIT pretende começar a expandir a tecnologia, pensando em desenvolver "um USV maior e com recursos adicionais".
A curto prazo, a SEA-KIT foca suas pesquisas e tecnologias no mercado de energia: realização de levantamentos oceânicos, apoio a plataformas de petróleo e gás e turbinas eólicas e inspeção de oleodutos. Indo além disso, os navios autônomos têm outros usos potenciais.
A Marinha dos Estados Unidos (EUA) e várias outras frotas navais líderes, por exemplo, já experimentam navios de guerra não tripulados. De forma ampla, a indústria de transporte marítimo – empresas que operam milhares de navios que transportam a maior parte da produção mundial – está, a passos lentes, recorrendo à ideia de embarcações cada vez mais autônomas. A Administração Marítima dos EUA (Marad, na sigla em inglês) também "não vê um salto para a autonomia total tão breve", informou o governo norte-americano ao Daily Beast.
Por outro lado, há pelo menos um trabalho que a Marad gostaria de atribuir totalmente aos robôs: a limpeza de derramamento de óleo no mar. "Uma área de derramamento marítimo pode ser um ambiente perigoso para as pessoas, [porque] pode haver potencial para incêndio/explosões, e um ser humano operando uma embarcação em uma área de derramamento pode ficar exposto a substâncias químicas perigosas ao inalar fumaça tóxica", explicou a agência. Por isso, a Administração defende que retirar humanos desses ambientes permitindo a operação remota da plataforma de extração pode ser muito mais seguro.
Com esse objetivo, a Marad e a SEA-KIT fecharam parceria para desenvolver uma embarcação robótica para limpeza de óleo no mar. Navios parcial ou totalmente autônomos deverão funcionar rigorosamente bem para que o órgão regulador os aprove. "Todo avanço em direção à autonomia deve aumentar a segurança, caso contrário, a Marad não será a favor disso", afirmou o governo dos EUA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário