domingo, 12 de julho de 2020

Perdoar o PT?

O Grupo Globo, através de seu jornal impresso O Globo, estendeu uma bandeira branca ao PT. Isso veio através da coluna de Ascânio Sêleme, ex-diretor, e atual articulista do jornal.

Antes de tudo, isso mostra o desespero dos Marinho, já que Bolsonaro não tem conseguido atacar diretamente a Platinada, porém tem atendido pleitos de algumas concorrentes, e não da Globo. Ou seja, cessaram as benesses à rede carioca, enquanto outras viram seu apoio governamental aumentar, o que claramente contraria os interesses dos Marinho.

E por que a Globo quer uma trégua com o PT? Porque ela vê a besteira que fez, já que o PT jamais foi contra as políticas econômicas defendidas pelo maior grupo de mídia do país, enquanto a atual política não só não atende a todas as necessidades desse grupo, como ainda se concentra apenas em uma parte minoritária da grande burguesia nacional. Aí eles vêm com essa história de perdoar o PT, porque o PT, esperam eles, voltará à política que mais interessa aos Marinho.

Mas são duas situações distintas que eles precisam entender. A primeira é que eles levaram 14 anos construindo um sentimento antipetista, e isso não se desfaz do dia para a noite, ainda mais quando grande parte dessa desconstrução se reflete diretamente nas condições de trabalho, e na mesa do trabalhador brasileiro. Então teria que ser feito um trabalho muito difícil de reconstrução do partido.

O segundo ponto a ser considerado é que em política não existe perdão, em política existe correção de curso, e o PT demonstra não ter entendido nada, e muito menos demonstra ter nenhuma tendência a rever suas posições, que o levaram a situação do golpe, e ao ódio de parte significativa da população brasileira.

É verdade que alguns nomes importantes do partido já demonstraram essa mudança de rumo, como Paulo Paim, Suplicy, Jacques Wagner, Camilo Santana, etc, mas a cúpula comandante do partido se recusa a mudar suas diretrizes, se recusa a demonstrar que entendeu o que se passou, e se recusa a mudar os rumos do partido.

Verdade que 30% da população brasileira é de esquerda, mas isso não significa ser petista. Vejam boa parte dos quase 30% dos votos válido que Haddad obteve no primeiro turno de 2018 não foi ideológico, mas por gratidão e necessidade. Eles foram dados devido a ampliação do programa bolsa família, e alguns outros programas que melhoraram a vida dos mais pobres, mas esses votos estão migrando para Bolsonaro, porque existe propaganda, ainda que mentirosa, que Bolsonaro estaria aplicando políticas com essas características.

Entendam, o PT não está sendo rejeitado pelo que ele fez, mas pelo que ele segue fazendo. Ou muda, ou seguirá na mesma situação. Dificilmente o perdão da Globo será suficiente para retirar o partido de seu voluntário exílio.


Globo acena bandeira branca ao PT e diz que "é hora de perdoar" o partido

 Publicado dia 11/07/2020 às 06h26min
 
    
Acossada pelo bolsonarismo: Proposta de armistício foi feita pelo colunista Ascânio Sêleme, que dirigiu o jornal e é ainda um de seus principais articulistas

247 – O jornal O Globo, dos irmãos Marinho, enviou neste sábado uma proposta de paz ao Partido dos Trabalhadores, alvo de uma perseguição midiática e judicial liderada pelo grupo nos últimos anos, que promoveu um golpe de estado em 2016, contra a ex-presidente Dilma Rousseff, e uma eleição presidencial manipulada em 2018, uma vez que os direitos políticos do ex-presidente Lula foram artificialmente subtraídos por um processo de lawfare.

A bandeira branca partiu do jornalista Ascânio Sêleme, que já dirigiu o jornal e hoje é um de seus principais articulistas, na coluna "É hora de perdoar o PT", em que ele argumenta que o partido já foi punido com o impeachment de Dilma e a prisão de seus principais líderes. No artigo, Ascânio argumenta que é preciso reconhecer que 30% dos eleitores brasileiros são de esquerda e que o PT é a principal força político-partidária deste campo.

O aceno de paz, no entanto, não envolve ainda nenhum tipo de autocrítica da Globo por seu papel no golpe de estado de 2016, que abriu espaço para a ascensão do bolsonarismo – fenômeno que hoje ameaça o grupo de comunicação. Desde que chegou ao poder, Jair Bolsonaro tem adotado postura hostil à mídia tradicional e tem estimulado o crescimento de grupos rivais, como a CNN, aparentemente ligada ao empresário Edir Macedo.

Em seu texto, o colunista do Globo também argumenta que não faz sentido isolar o PT, dada a sua expressividade na sociedade brasileira. "Este agrupamento político, talvez o mais forte e sustentável da história partidária brasileira, tem que ser readmitido no debate nacional. Passou da hora de os petistas serem reintegrados", diz ele, que não menciona a devolução dos direitos políticos de Lula. Ascânio também afirma que "o ódio ao PT não faz mais sentido".

Foi este ódio, semeado pela Globo e outros meios de comunicação, que degenerou no bolsonarismo, um fenômeno que envergonha o Brasil aos olhos do mundo e que ameaça a própria Globo.

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