Vamos apenas fazer algumas considerações antes de entrarmos no caso de Itaipu propriamente dita. Essas considerações têm por objetivo criar condições para uma comparação com o que se faz no mundo todo com grandes empresas e seu uso como forma de exportar visões e influência geopolítica e na política interna. Esse é o jogo no mundo capitalista de gente grande. Sim, temos países que não fazem isso, mas eles também não têm empresas gigantescas de alcance global, às vezes nem mesmo regional. O Brasil, embora menos que antes, ainda as tem. E precisa ter mais.
Também antes de entrarmos mais decididamente em nossas considerações vou responder a uma pergunta que se faz no artigo abaixo. O dono do bar no Rio de Janeiro irá ajudar a financiar estradas em vários pontos do país, seja por impostos, taxas, ou embutidos na tarifa de energia. A tão idolatrada iniciativa privada não faz investimentos vultosos como a construção de uma estrada, ficando essa parte sempre para governos, e os governos se financiam das formas litadas acima e de algumas outras, mas a conta cai sempre no bolso do indivíduo. O problema do Brasil é que os indivíduos que mais podem contribuir com o pagamento dessa conta jamais participam disso, ficando todo o encargo aos que têm menos condições para isso.
Pois bem, feitas essas considerações, a denúncia de que a tarifa de energia deveria ser bem mais baixa, e de que o PT vem usando uma tarifa artificialmente inchada para exercer influência geopolítica e para tentar se viabilizar politicamente em regiões onde perdeu muito espaço nos últimos anos é séria, ainda mais se as ações visarem única e exclusivamente o objetivo político-partidário, e os objetivos da sociedade brasileira ficarem em segundo plano (algo que o PT foi mestre em fazer durante seus 14 anos no governo).
Outro ponto importante a se observar está contido no próprio artigo abaixo, e nesse ponto está certíssimo, já que um dos objetivos é oferecer energia com o custo mais barato possível para a população. Por isso mesmo o Brasil já deveria ter retomado o controle tanto da Petrobras quanto da Eletrobras, já que ambas são fundamentais para proporcionar essas tarifas baratas de energia, mas têm praticado preços bem acima dos mínimos possíveis devido ao controle privado que apresentam hoje (sim, a Petrobras também atende aos interesses de seus acionistas privados em detrimento dos interesses do povo e do país).
Minha última consideração é que cabe aos governos dos países destinarem recursos para atenderem demandas, fortalecerem seus países, melhorarem a vida de seus cidadãos, e projetarem sua influência geopolítica sobre outros países. Não entrarei aqui sobre a análise das projeção geopolítica, mas todos os países, em maior ou menor grau, buscam se projetar geopoliticamente.
Então fica muito difícil dizer se o que o PT vem fazendo com a Itaipu e a conta de luz com base no artigo abaixo, que é crivado de ideologia barata, e não diz com clareza quais são as ações que o PT vem realizando através desse programa "Itaipu Mais Que Energia".
Apesar disso podemos apontar alguns equívocos no meio. A Itaipu poderia até ser usada como forma de projeção geopolítica, mas como eu já disse antes, o objetivo primário da empresa é o fornecimento da energia mais barata possível ao povo brasileiro. Essa energia barata não tem objetivo apenas no cidadão, no indivíduo, mas principalmente na estrutura produtiva do país, bastando ver o estrago que o aumento substancial no custo da energia fez e segue e fazendo na economia europeia. Inclusive, um dos objetivos geopolíticos chinês é garantir energia barata para mover suas indústrias.
Então seria mais interessante que o governo brasileiro se utilizasse de recursos vindos de fontes mais claras, e que impactassem menos num custo essencial no processo produtivo de qualquer país. Esses recursos poderiam vir dos impostos, de taxas cobradas especificamente para esses fins, ou outro recurso que não viesse de tarifas embutidas numa taxa de energia.
Mas o problema do governo brasileiro é que ele é refém em duas frentes. A primeira frente é um sistema que começou lá atrás, com Fernando Collor, e foi se aperfeiçoando e aprofundando ao longo do tempo, incluindo os primeiros 4 governos petistas no período. Esse sistema é a ocupação dos espaços de poder por uma elite rentista e seus representantes técnico-políticos.
A segunda frente desse problema é a perda paulatina de poder da Presidência da República, que perdeu proeminência, importância e poder, enquanto tinha suas prerrogativas apropriadas por um Congresso cada vez mais fisiológico e um Judiciários cada vez mais corporativista e intervencionista.
Então fica assim: ainda que o governo petista do momento esteja agindo corretamente (construir estrada, projetar poder geopolítico, etc), embora nada no artigo abaixo o confirme, ele o faz pelo meio errado, porque perdeu completamente o poder efetivo e a governabilidade.
Essa situação não é de agora, ela é um processo que desaguou nessa condição, e que teve participação do próprio PT e de seu "pragmatismo", uma vez que o partido tem por objetivo poder sem mexer com estrutura. Isso é comprovado pela prática petista durante todo esse período, e por declarações de vários de seus principais dirigentes, incluindo o próprio Lula e seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O problema é que o PT, mesmo após o impeachment de Dilma Roussef, mostra que não aprendeu nada, e segue com o mesmo tipo de política que busca tão somente administrar um sistema criado para atender os interesses dos mais abonados, enquanto dá uns poucos e minguados alentos aos mais necessitados.
Por tudo isso, mesmo que o PT esteja fazendo isso pelos motivos certo, ele o faz pelos meios errados, e esse é mais um ponto fraco a ser atacado em caso de interesses dos que ora dominam realmente o governo brasileiro.
A expansão da área e o orçamento robusto sustentam a criação do programa “Itaipu Mais que Energia” para atender todos os 399 municípios do Paraná e outros 35 do Mato Grosso do Sul
ALEXA SALOMÃO E CATIA SEABRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Causou desconforto no setor de energia a ampliação da área de influência da hidrelétrica de Itaipu no lado brasileiro. A região com direito a receber projetos socioambientais e de infraestrutura passou de 55 para 434 municípios, levando o gasto para quase R$ 1 bilhão (US$ 193,9 milhões). Especialistas questionam o uso político e geopolítico de Itaipu com o dinheiro da conta luz.
A expansão da área e o orçamento robusto sustentam a criação do programa “Itaipu Mais que Energia” para atender todos os 399 municípios do Paraná e outros 35 do Mato Grosso do Sul. Originalmente, eram beneficiadas áreas próximas a bacias hidrográficas de rios na região. Agora, até cidades na praia.