Recebi de um amigo um power point com o título: “Os Sete Sapatos Sujos”. Reenviei, e de outro recebi o texto completo de Mia Couto, escritor moçambicano, que foi orador na aula inaugural de uma universidade de seu país - ISCTEM. Os sete sapatos a que se refere são:
1- a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas
2- a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho
3- o preconceito de quem critica é um inimigo
4- a ideia que mudar as palavras muda a realidade
5- a vergonha de ser pobre e o culto das aparências
6- a passividade perante a injustiça
7- a ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros
Mia Couto termina seu texto com os seguintes dizeres:
“Temos que gostar de nós mesmos, temos que acreditar nas nossas capacidades. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia, numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento. Alguns acreditam que vamos resgatar esse orgulho na visitação do passado. É verdade que é preciso sentir que temos raízes e que essas raízes nos honram. Mas a auto-estima não pode ser construída apenas de materiais do passado.
Na realidade, só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho, pela obra que formos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Ou melhor, fomos empobrecidos pela História. Mas nós fizemos parte dessa História, fomos também empobrecidos por nós próprios. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.
Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros.“
O texto de Mia Couto é longo e vem de um país africano, mas é envolvente e oportuno e cabe exatamente em nosso bolso atual. Para quem quiser conhecer o texto inteiro, basta visitar o atalho abaixo. Tirando o português de Moçambique, que é diferente do nosso, o texto nos traz muitas familiaridades.
Quem quiser saber mais, clique aqui.
Grandes verdades. Gostei!
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