segunda-feira, 27 de junho de 2011

Transporte aquaviário, a saída para o Brasil

As palavras do deputado federal Júnior Coimbra fazem eco imediato no Blog dos Mercantes. O artigo veiculado esse mês na Folha de S. Paulo (ver íntegra abaixo) é importantíssimo quando alerta, mais uma vez, para a necessidade de o país mudar seu padrão de transporte e abrir mais espaço para os transportes ferroviário e hidroviário.

O transporte hidroviário, que apresenta os menores custos, é o menos agressivo ao meio ambiente. Possibilita ainda o transporte de grandes partidas de carga de uma só vez, além de ser aquele que necessita de maior crescimento relativo, praticamente necessitando dobrar sua participação no transporte de carga até o ano 2023. Se pensarmos que a quantidade de cargas deverá continuar crescendo até lá, podemos também projetar que o crescimento absoluto desse modal seria de mais de 100% nesse período.

Faltou ao deputado mencionar a melhora dos portos brasileiros, e a falta de um incentivo maior à nossa Marinha Mercante, como forma de tirar melhor proveito das mudanças feitas no transporte “in land”. Quem sabe o Brasil não consegue realmente entrar no século XXI, no setor do transporte, lá pelo ano 2025?

Eis a íntegra do artigo publicado na Folha:

Com dimensões continentais e grande rede hidrográfica, o país deve construir malha hidroviária mais compatível com essas características 
 
O modelo de desenvolvimento nacional, adotado durante muitas décadas, privilegiou o sistema rodoviário para a movimentação de cargas, em detrimento de outros modais com enorme potencial a ser explorado em um país com a extensão territorial e com as condições geográficas do nosso.

Por essa razão, hoje, apesar de seus notórios problemas, as rodovias brasileiras concentram quase 60% do trânsito de cargas, enquanto ferrovias e hidrovias recebem só 25% e 15% desse trânsito, respectivamente, em números aproximados. É essa situação de desequilíbrio que precisa ser revertida.

Segundo as análises apresentadas no plano nacional de logística e transportes, a participação do modal rodoviário deveria cair, até 2023, para 33%, ao passo que o ferroviário deveria crescer para 32% e o hidroviário para 29%. Assim, a eficácia do sistema de transporte, em seu conjunto, seria maximizada pela contribuição de cada modal, de acordo com as distâncias e perfis de carga que lhes sejam mais adequados.

Tal eficácia, evidentemente, teria reflexo direto sobre os custos, barateando não apenas os produtos direcionados ao mercado interno mas também aqueles destinados à exportação. Embora a pauta de exportações brasileiras venha se diversificando, é inegável a importância do papel desempenhado pelo binômio agroindústria-mineração, que tem impulsionado o desenvolvimento das regiões norte e centro-oeste nos últimos anos.

Mesmo assim, por exemplo, a maior parte dos produtos agrícolas colhidos nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Pará e Tocantins precisa ser transportada por caminhões até os portos do sudeste, com elevados custos de frete.

Vindos no sentido inverso, os insumos agrícolas também são encarecidos pelo transporte. Assim, os agricultores sofrem duplamente com o preço do frete, perdendo competitividade tanto para produzir quanto para escoar a produção.
Grande parte dessa movimentação de carga poderia ser feita pelos portos do norte e do nordeste, como Belém e São Luís, se já estivessem em plena atividade os multimodais e as hidrovias, como as do Araguaia-Tocantins e a de Tapajós.

Além disso, na viagem de retorno dos trens e dos barcos, haveria a possibilidade de trazer combustíveis e fertilizantes a custo menor que o do transporte em carreta, como é feito hoje em dia.

Os dados apresentados nos fazem refletir sobre o quanto nosso país perde em termos de recebimento de divisas, em geração de renda e em arrecadação de impostos por não ter condições, ainda, de competir em padrão de igualdade em um mercado pelo qual circula us$ 1 trilhão ao ano.

Pelas razões expostas, acredito que um país de dimensões continentais como o nosso e possuidor de uma das maiores redes hidrográficas do mundo tem até o dever de investir na construção de uma malha hidroviária compatível com tais características.

* Júnior Coimbra, jornalista, é deputado federal e vice-líder do PMDB na Câmara.

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