quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Blog dos Mercantes pergunta: julgamento ou caça às bruxas?

Há poucos meses tivemos o julgamento dos acusados pela tragédia do Costa Concordia, ocorrida em janeiro de 2012, quando encalhou em uma pedra e virou com mais de 4.000 pessoas a bordo, matando 32. 

Foram condenados cinco dos acusados, mas o Comandante da embarcação permanece como réu aguardando o desenrolar de escaramuças judiciais, na tentativa de reduzir a pena de sua já provável condenação.  

E é sobre as condenações que queremos nos posicionar.

Neste primeiro julgamento tivemos quatro tripulantes e o Diretor da Unidade de Crise da empresa condenados. Não conhecemos os termos exatos que levaram o tribunal a emitir tais sentenças, mas estranha que não tenhamos outros funcionários de terra acusados pela tragédia.[

E isso porque com as novas tecnologias de comunicação, boa parte da administração, e mesmo da operação dos navios se dá desde seus escritórios em terra. E isso na grande maioria das empresas. A Costa não foge a esse comportamento.

Óbvio que gerentes e diretores não operam equipamentos ou traçam rotas, mas exercem pressão excessiva sobre oficiais, principalmente Comandantes e Chefes de Máquinas, criando frequentemente a oportunidade de decisões equivocadas e perigosas. Algumas vezes fugindo às regras de navegação e segurança.

Também estranha a condenação do timoneiro, cuja única função é levar a proa da embarcação ao rumo ordenado pelo Oficial de Serviço ou Comandante, simplesmente substituindo equipamentos eletrônicos. Dificilmente é alguém que tenha conhecimento suficiente para perceber determinados riscos.

O Blog não é, de forma alguma, contrário à condenação dos culpados, desde que se façam as devidas investigações, e que estas apontem os mesmos de forma conclusiva e definitiva. Porque dos cinco condenados até o momento, nenhum deve cumprir pena, já que na Itália penas inferiores a dois anos são suspensas. 

Portanto, ao que parece, estão tentando jogar toda a culpa sobre o Comandante do Costa Concordia, que mesmo sem uma investigação mais profunda, pode ser acusado de muitas faltas, mas não é justiça fazer com que pague sozinho por elas, pois todas são compartilhadas, e mesmo resultado da pressão de superiores.

Como disse um dos advogados envolvidos no caso, as condenações que até agora foram feitas não vão agradar aos parentes das vítimas.

E aqui vai a pergunta que não cala: nós vamos à justiça para analisar e discutir provas, definir culpados, e puni-los; ou vamos para satisfazer aos parentes de vítimas?

Olhando de longe e acompanhando apenas pela imprensa, o julgamento do Costa Concordia está parecendo mais com um tribunal medieval, daqueles que condenavam por bruxaria. E quando se condena por bruxaria, muitas escapam, algumas são condenadas sem serem bruxas, mas pelo menos uma vai para a fogueira, porque o público tem que ter sua sede por sangue saciada.

E seria bom que as autoridades brasileiras olhassem com atenção esse caso, porque as empresas que operam no Brasil são exatamente as mesmas que operam lá fora, com a diferença que aqui a navegação de cruzeiro está completamente desregulamentada. E os métodos de operação e administração das embarcações são os mesmos, às vezes piores, pois falta o marco legal e a respectiva fiscalização.

Incidentes, mais ou menos sérios, vêm ocorrendo todos os anos. Então os riscos que corremos de termos uma tragédia aqui, também são grandes. Seria bom agirmos antes que isso acontecesse.

Justiça condena cinco por naufrágio do cruzeiro Costa Concordia
idente do navio Costa Concordia63 fotos
Cinco réus no julgamento do naufrágio do navio de cruzeiro Costa Concordia, em janeiro de 2012 (32 mortos), foram condenados neste sábado (20) a penas que variam de dois anos e dez meses a um ano e seis meses de prisão, informou a imprensa.
O Tribunal italiano de Grosseto (Toscana) concedeu aos acusados o chamado "pattegiamento", que permite um acordo amigável quanto as sanções em troca de, pelo menos, o reconhecimento parcial da culpa.

O comandante Francesco Schettino, cujo julgamento foi iniciado quarta-feira, teve o pedido de "pattegiamento" negado pelo Ministério Público, que emitiu um parecer desfavorável. Mas seus advogados entraram com um novo pedido.

Quatro dos condenados, cujos advogados formalizaram as requisições de negociação de suas sentenças em maio, em uma audiência preliminar, estavam à bordo do navio no momento da tragédia, o quinto é o diretor da unidade de crise da Costa Crociere, Roberto Ferrarini.

Este último foi quem recebeu a pena mais dura, de dois anos e dez meses de prisão.

O gerente de bordo, Manrico Giampedroni, recebeu dois anos e seis meses de prisão e o oficial de bordo, Ciro Ambrosio, foi condenado a um ano e 11 meses de detenção. O timoneiro indonésio, Jacob Rusli Bin, foi condenado a um ano e oito meses, enquanto outra oficial à bordo, Silvia Coronica, foi condenada a um ano e seis meses, a menor pena.

O Ministério Público havia emitido um parecer favorável ao "pattegiamento" para estes cinco acusados.

O naufrágio do navio de cruzeiro terminou com a morte de 32 pessoas próximo a pequena ilha de Giglio, na Toscana.

Advogados do capitão Schettino consideram que a justiça tem aplicado "dois pesos e duas medidas" entre, por um lado, Francesco Schettino, e, por outro, as outras cinco pessoas que também tiveram responsabilidade no desastre.

A perspectiva da negociação das penas provocou a ira das vítimas, que querem justiça para seus mortos.

Na noite de 13 de janeiro de 2012, o navio de 114.500 toneladas atingiu um rochedo perto da costa e encalhou com 4.229 pessoas a bordo, incluindo 3.200 turistas.

Trinta e duas pessoas morreram, dois corpos nunca foram encontrados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário