quarta-feira, 6 de julho de 2016

Agenda Neo-liberal é cada vez mais contestada, mas ainda está longe de ser afastada de nossas vidas

Diferentemente do que pregam os defensores do neoliberalismo, a agenda econômica baseada nessas premissas não promove desenvolvimento, e muito menos inclusão social. Ao contrário, concentra renda, aumenta a pobreza, tende a dificultar e diminuir o ritmo de desenvolvimento de nações mais pobres, e serve aos propósitos das nações mais desenvolvidas, que buscam drenar riquezas e recursos das nações que adotam tais medidas.

Não bastasse isso, as políticas neo-liberais foram responsáveis pelo desemprego de muitos milhões de trabalhadores ao redor do mundo, mais acentuadamente a partir dos anos 90 do séc. XX, e mais notadamente em áreas onde os países "em desenvolvimento" predominam. No Brasil fez com que toda uma geração de técnicos de alto grau se perdesse, além de ter acabado com vários setores industriais que se desenvolviam no país, como a indústria bélica (tivemos uma leve retomada com os governos petistas), indústria da informática, construção naval (onde também os governos petistas promoveram uma breve retomada), e várias outras.

Para completar, organismos de crédito internacional controlados pelas grandes potências, como o FMI, são usados para impor a agenda neo-liberal a países em dificuldades financeiras.

Agora surgem desculpas de dentro do próprio FMI pela aplicação de tais políticas, baseadas  em estudos feitos pelo próprio fundo, e que mostram a deterioração das condições sócio-econòmicas de países que aplicam tais políticas.

Mas como José Carlos de Assis em seu artigo abaixo, também não acredito que o FMI mudará sua postura num futuro próximo. Provavelmente muitos ainda amargarão os dissabores das aplicações dessas políticas nefastas, que como diz Ciro Gomes, não passam de ideologia de quinta categoria, com embasamento científico débil.

Crises no capitalismo são cíclicas e inevitáveis, a intervenção controlada evita que sejam longas e muito acentuadas. Basta ver os cataclismos econômicos produzidos pelo liberalismos e temos um bom parâmetro de comparação.

Para finalizarmos essa postagem, gostaria de lembrar que as políticas neoliberais vem sendo rechaçadas nas urnas há quatro eleições seguidas, e tenho sérias dúvidas de que a reeleição de FHC não se deveu ao medo que a população tinha à época, do retorno da inflação galopante herdada dos governos militares. Pelo que vemos só através do golpe parlamentar mesmo, porque todas as pesquisas indicam que o rechaço ao neoliberalismo, também para as próximas eleições.



FMI pede desculpas por ter imposto o neoliberalismo por três décadas

Aliança pelo Brasil
FMI pede desculpas por ter imposto o neoliberalismo por três décadas
por J. Carlos de Assis
Depois de mais de três décadas nos ensinando as virtualidades do neoliberalismo, e em muitos casos nos impondo as políticas econômicas correspondentes (Consenso de Washington), o FMI acaba de publicar em revista oficial estudo de três economistas de seus quadros sustentando que a agenda neoliberal elevou a desigualdade onde foi adotada, e não promoveu o desenvolvimento. Não sei se fico indignado, ou se aplaudo esse reconhecimento tardio daquilo que, para nós, era óbvio: o neoliberalismo promove desemprego e miséria.
Para não dizer que não falei de flores, registro os meus cumprimentos pelo trabalho de Jonathan D. Ostry, Prakash Loungani e Davide Furceri. Claro, não tenho a menor dúvida de que será desqualificado pelo ministro da Fazenda alemão, que comanda as cavalarias de ataque a qualquer tentativa de busca de alternativa ao neoliberalismo no mundo, sobretudo na Europa do euro. De qualquer modo, como se dizia entre os marxistas históricos, temos que explorar as contradições internas do inimigo!
Os economistas do Fundo, na versão que li do jornal carioca “Monitor Mercantil” – duvido que os jornalões brasileiros e a grande mídia divulguem o documento -, afirmam que “as políticas de austeridade, que frequentemente reduzem o tamanho do Estado, geram custos sociais substanciais, prejudicam a demanda e aprofundam o desemprego”. É importante assinalar que tais políticas são idênticas àquelas com que Henrique Meirelles nos ameaça de forma a acabar de estrangular a economia brasileira.
Contudo, não consigo apagar completamente as chamas da indignação. É revoltante que uma entidade multilateral dominada pelos países ricos passe três décadas e meia nos dizendo que é necessário cortar gastos públicos, fazer equilíbrio fiscal, privatizar, fazer políticas monetárias restritivas, e condicionando seus empréstimos a cumprirmos a risca esse receituário, surge de repente, sem maior aviso, para nos dizer: “desculpem-me, vocês fizeram tudo certinho (haja vista a política econômica do PT), mas estávamos errados. Mudem o foco”!
O fato é que, pelo histórico do FMI, não dá para acreditar na eficácia de documentos desse tipo como orientador de políticas. O estudo é uma manifestação marginal que será devidamente contestada dentro e fora do Fundo. Terá o mesmo destino de certas manifestações anteriores aparentemente progressistas, como a aceitação do controle de fluxo de capitais para evitar abalos financeiros das economias, e que simplesmente jamais foram incorporadas ao centro do receituário tradicional do Fundo.
Mesmo na hipótese de uma “vitória” intelectual nessa questão, não devemos alimentar qualquer ilusão. O neoliberalismo, como é também o caso das “ortodoxias” econômicas em geral, não está na esfera do conhecimento, mas na esfera do poder. A doutrina não é imposta a nós porque é mais “correta”, mas torna-se compulsoriamente “correta” pela relação de poder determinada pela grande mídia, totalmente dominada pelo capitalismo financeiro com suas práticas de agiotagem.
* * *
Acabo de assistir na tevê manifestação de um membro do TCU sustentando a ilegalidade de aporte de recursos do Tesouro para os bancos públicos, notadamente o BNDES. É inacreditável o nível de despreparo, de arrogância e de imbecilidade que está prevalecendo no setor público “concursado”. Contabilmente, a operação não gera dívida pública líquida: cria-se um passivo no Tesouro e ativo correspondente no BNDES. Funcionalmente, é a forma mais inteligente, tipicamente keynesiana, de reverter a recessão ou depressão. Foi o que aconteceu em 2009 e 2010. A dar espaço para esses burocratas partidarizados, vamos abrir mão de todos os instrumentos de reversão da depressão e do desemprego no país.
J. Carlos de Assis - Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ.


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