quinta-feira, 28 de julho de 2016

Quem paga a conta somos nós.

A carga de impostos no país é muito alta, primeiro para os poucos que pagam, segundo porque para esses os serviços que deveriam estar atrelados ao pagamento desses impostos não são entregues, e acaba que temos uma bitributação no país. Mas o que isso tem a ver? 

Vejam bem, não sou contra a redução de impostos, muito menos que rediscutamos o país, mas a questão é essa, vamos rediscutir o país. Como o texto de Kiko Noguira coloca abaixo, o pacto social que produziu a Constituíção de 1988 não está exaurido, a população brasileira segue querendo que saúde, educação, aposentadoria digna, segurança sejam responsabilidade do Estado, e que atinjam a todos igualmente.

A população também está conformada, mesmo não gostando, que ela pague os impostos que garantem tais serviços, e quem tem mais pague menos, embora venha a ter os mesmos direitos a esses serviços.

O que a população não aceita de forma alguma é que esses serviços sejam de péssima qualidade, e que ricos venham reclamar do excesso de impostos que eles não pagam, aumentando a carga em cima dos que pagam para desonerá-los ainda mais. Aceita ainda menos que eles o façam da forma sórdida que tem sido feita. E de jeito nenhum aceita que eles sejam desonerados de forma a aumentar os seus ganhos, em detrimento do resto da população.

O resultado das quatro últimas eleições é claro quanto a isso. Além disso, o Estado Brasileiro é perfeitamente capaz de entregar os serviços que precisamos, na qualidade que precisamos, e na abrangência suficiente para atender a toda a população. 

Para isso começar, basta a melhoria na gestão pública, e a redução da corrupção pública e privada. Depois a gente discute redução de impostos e quais impostos.

Quem não cabe no orçamento de um governo que não foi eleito nas urnas?



Postado em 27 Jun 2016

Eles
POR LAURA CARVALHO, economista

No levantamento realizado pelos pesquisadores Pablo Ortellado, Esther Solano e Lucia Nader em São Paulo, durante as manifestações pró-impeachment do dia 16 de agosto de 2015, dois temas chamaram a atenção. Entre os manifestantes, 97% concordaram total ou parcialmente que os serviços públicos de saúde devem ser universais, e 96% que devem ser gratuitos. Já sobre a universalidade e a gratuidade da educação, o apoio foi de 98% e 97% dos manifestantes, respectivamente. “Isso é um resquício de junho de 2013”, afirmou Pablo Ortellado a uma reportagem do El País de 18/08/2015.
O resultado deste tipo de levantamento, quando somado aos resultados nas urnas das últimas quatro eleições presidenciais, sugerem que o pacto social que deu origem à Constituição de 1988 não foi desfeito. Ao contrário, as demandas nas ruas desde 2013 e nas ocupações das escolas desde 2015 têm sido por melhorias nos serviços públicos universais, e não pela redução na sua prestação.
A regra Temer-Meirelles prevê que as despesas primárias do governo federal passem a ser reajustadas apenas pela inflação do ano anterior. Se vigorasse no ano passado, e outros gastos não sofressem redução real, as despesas com saúde teriam sido reduzidas em 32% e os gastos com educação em 70% em 2015. Pior. Se o PIB brasileiro crescer nos próximos 20 anos no ritmo dos anos 1980 e 1990, passaríamos de um percentual de gastos públicos em relação ao PIB da ordem de 40% para 25%, patamar semelhante ao verificado em Burkina Faso ou no Afeganistão. E se crescêssemos às taxas mais altas que vigoraram nos anos 2000, o percentual seria ainda menor, da ordem de 19%, o que nos aproximaria de países como o Camboja e Camarões.
“A Constituição não cabe no orçamento”, argumentam seus defensores, na tentativa de transformar em técnica uma decisão que deveria ser democrática. De fato, há uma contradição evidente entre desejar a qualidade dos serviços públicos da Dinamarca e pagar impostos da Guiné Equatorial. O que esquecem de ressaltar é que os que pagam mais impostos no Brasil são os que têm menos condições de paga-los. Se os que ganham mais de 160 salários mínimos por mês têm 65,8% de seus rendimentos isentos de tributação pela Receita Federal, fica um pouco mais difícil determinar o que cabe e o que não cabe no orçamento.
O fato é que as propostas do governo interino não incluem nenhum imposto a mais para os mais ricos, mas preveem muitos direitos a menos para os demais. Os magistrados conseguem reajuste de seus supersalários, mas a aposentadoria para os trabalhadores rurais é tratada como rombo. A cultura, a ciência e a tecnologia ou o combate às desigualdades deixam de ser importantes. O pagamento de juros escorchantes sobre a dívida pública não é sequer discutido, mas as despesas com os sistemas de saúde e educação são tratadas como responsáveis pela falta de margem de manobra para a política fiscal.
Essas escolhas estão sendo feitas por um governo que não teve de passar pelo debate democrático que só um processo de eleições diretas pode proporcionar. A democracia caberia no orçamento. O que parece não caber é a nossa plutocracia oligárquica.
 

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