De modo geral as eleições municipais refletiram as tendências que tínhamos no primeiro turno, e que o blogueiro aqui indicou como resultado final. Claro que os números não foram exatos, e mais claro ainda que tivemos uma ou outra surpresa (ambas as situações mais do que esperadas), mas fato é que o resultado final não se alterou tão profundamente, apenas não tendo sido alcançado da forma que se esperava.
Batidos?
São Paulo - A previsão inicial era Covas 55% x Boulos 40%, e o resultado final foi Covas 60% x Boulos 40%. Não houve grande discrepância, apenas que Boulos não conseguiu reverter nada da rejeição inicial com que partiu na disputa, e que ela era ainda maior do que indicavam as pesquisas.
Rio de Janeiro - A previsão era Paes 60% x Crivella 30%. Resultado Paes 64% x Crivella 36%. Também dentro do esperado.
Manaus - Não tinha feito previsão, mas o resultado foi David 51% x Amazonino 48%. Como eu disse era apertado. Vamos ver se o Avante seguirá o que diz, ou apenas aproveitará para ganhar espaço que não tinha no partido de onde saiu, o PTB.
Porto Alegre - Previsão Sebastião 54% x Manuela 46%. Deu Sebastião 55% x Manuela 55%. Quase batido.
Belém - Não fiz a previsão em números, mas dei favoritismo a Edimilson, com dificuldade. Resultado Edmilson 51% x Eguchi 48%. Como eu disse, a chance existia, mas era apertada. De qualquer forma o Podemos conseguiu uma capital importante.
Goiania - Previsão de Vilela 55% x Cardoso 40%. O resultado Vilela 53% x Cardoso 47%. Um pouco mais apertado, mas dentro da normalidade.
As surpresas. E são no Nordeste
Recife - A surpresa não foi a eleição de Campos frente a Marília, até porque a tendência estava bem indefinida, mas a eleição com Campos 56% a 44%. Esperava uma diferença bem mais apertada, fosse para um lado ou para o outro. E no final a briga de família tendeu a mostrar a aposta em quem já estava no poder.
Fortaleza - A previsão era Sarto 65% x Wagner 35%. A surpresa foi Sarto 51% x Wagner 48%. Ou seja, Sarto levou, mas foi apertado, e isso na base eleitoral dos Ferreira Gomes. Não a toa Ciro chamou gente do interior do estado para ajudar na reta final de campanha, porque embora as pesquisas oficiais mostrassem ampla vantagem do candidato cirista, ele sabia que estava apertado.
As forças políticas
A extrema direita - Perdeu espaço. Apesar de alguns lampejos, como em Vitória, é nítido que o bolsonarismo e seus excessos perderam espaço nessa eleição. Isso não significa que Bolsonaro seja carta fora do baralho para 2022, mas é nítido que se ele seguir nessa linha, dificilmente irá se credenciar como concorrente sério na reta final, mesmo com chances de segundo turno. A exceção é se o adversário for o PT. Aí a coisa é duvidosa.
A direita extrema - O que a galera chama de centro direita, eu chamo de direita extrema. É uma direita absolutamente direita, que não descarta golpes de estado (lembram de 2016), ainda que mantenha um discurso democrático, e busque manter a aparência de democracia. Assim finge conversar, finge escutar, mas decide apenas de acordo com seus interesses pessoais, ou de seus patrocinadores. Eles cresceram.
Petismo - Se já tinha regredido em 2018, essa tendência se agudizou agora. Verdade que teve algumas vitórias pontuais, e até recuperou algumas prefeituras históricas, mas no todo o partido de Lula regrediu, assim como o próprio Lula. Já foi dito aqui, mea-culpa em política não é ir a público elencar seus erros e pedir perdão, mas sim mudar de postura, mudar de rumo durante um tempo, deixar de buscar o protagonismo total, e reposicionar suas peças no tabuleiro político. Ou o PT revê suas posições, ou vai regredir ainda mais em 2022, e arrisca levar o campo progressista consigo para o buraco.
Pedetismo - Parece que Ciro precisa fazer alguma correção de rumo, porque a busca de ser anti-Bolsonaro e anti-PT já deu o que tinha que dar, e agora a coisa tende a perder efeito, talvez até a ter efeito contrário. Apesar de o PDT e o PSB terem tido um bom desempenho em termos nacionais, ficando os dois à frente do PT. Mesmo assim é preciso abrir o olho, porque o resultado de Fortaleza reflete a saturação dessa postura, e mostra que Ciro precisa rever alguns de suas posições. A primeira é que precisa diminuir os ataques ao PT, e isso parece já estar acontecendo.
Mas Ciro também precisa diminuir os elogios ao DEM e a alguns de seus caciques. É mais do que sabido que esses partidos são de ocasião, de que estão do lado de quem estiver no poder, e que seus posicionamentos municipais não estão nem perto de se refletir em nível nacional. Uma coisa é conversar, outra, muito diferente é ficar tecendo loas aos atuais representantes do maior partido de apoio aos 20 anos de ditadura, que a propósito, correram a apoiar Bolsonaro em 2018, e apoiam todas as pautas anti-povo do governo do Capetão.
Para 2022
Três situações têm que ser levadas em conta para as próximas eleições presidenciais. A primeira é que, mesmo unido, o campo progressista dificilmente leva no primeiro turno, mas desunido arrisca não ter ninguém no segundo (como no Rio de Janeiro). Então é preciso levar em conta uma união desde o primeiro turno, com vista a criação de uma frente ampla do campo, e que viabilize a presença de um candidato competitivo no segundo turno.
A segunda situação a se levar em conta é que o anti-petismo segue na crista da onda, e a ele se une o anti-bolsonarismo. Isso abre espaço para a criação de uma chapa competitiva da direita extrema. No momento tentam viabilizar Huck e Moro, mas eles têm dois anos, e ainda pode aparecer outro nome para viabilizar uma chapa desse campo. E esse é quem mais põe em risco as candidaturas do campo progressista.
A terceira é que Bolsonaro vive seu momento PT. Ele deve chegar ao segundo turno, mas não terá fôlego para conseguir uma reeleição, situação que muda se seu opositor for um petista, porque aí a eleição fica indefinida, e vai depender de quem tenha a maior rejeição no momento.