Muita discussão entre analistas e militantes sobre quem é a grande liderança da esquerda no Brasil no momento. Esse debate era impensável até 3 semanas atrás, mas uma retroescavadeira e dois projéteis criaram um quadro político totalmente novo no país, que se bem utilizado pode começar a marcar a derrocada da extrema-direita. O problema é que, se mal utilizado, pode marcar a tomada final de poder por esse grupo.
Explico:
Até 3 semanas atrás Lula era tido como o grande líder da esquerda no Brasil. O mesmo Lula que escreveu a "Carta ao Povo Brasileiro", que colocou o Banco Central nas mãos de um banqueiro internacional e com independência, que se orgulha de dizer que os bancos nunca ganharam tanto quanto em seu governo, que pagou o juro mais alto do mundo por muito tempo, que não mexeu em absolutamente nada na estrutura de poder do Brasil. De quebra virou queridinho do mainstream internacional. Ora, ninguém vira o queridinho do sistema se não se curva e adapta a ele.
De outro lado temos os Ferreira Gomes. Ciro e Cid como os expoentes máximos da família, mas não podemos esquecer dos outros irmãos, e de toda a estrutura de poder montada no Ceará. Quem vem liderando as ações segue sendo Ciro, mas Cid ganhou bastante notoriedade depois do episódio da retroescavadeira, assim como o Governador Camilo Santana, que até agora não afinou, e irá investigar e processar todos os amotinados na polícia cearense.
O quadro é esse, mas vamos combinar uma coisa, nenhum deles é esquerda. O processo de Lula ficou bem claro. Um projeto econômico confuso, com misturas estranhas de rentismo exacerbado, com pitacos mal pensados de keynesianismo.
Por outro lado Ciro vem com um projeto de país pensado puramente no Keynesianismo, revisto para os tempos atuais, e pensado para posicionar o Brasil no mundo multipolar, e líder em nichos de oportunidades e potencialidades naturais do próprio país.
Nada disso é esquerda. Lula tem uma visão ultrapassada de capitalismo neo-liberal rentista, predominante nos anos 90 do Séc. passado, mas que perde espaço no mundo rapidamente desde a crise de 2008. Ciro tem um projeto mais moderno, com visões bastante atuais nos centros mais adiantados do capitalismo, mas ambos os projetos são revisionismos do capitalismo.
Por isso não considero nenhum deles como líderes da esquerda.
Mas se formos falar de oposição ao governo com aspirações fascistas, então podemos dizer que Lula e o PT perdem espaço, enquanto os Ferreira Gomes ganham. O quanto isso poderá interferir nas próximas eleições presidenciais vai depender de como cada lado irá atuar até lá.
O PT vem perdendo todas as oportunidades de se afastar um pouco do centro da cena política, de deixar a poeira assentar, criar novas lideranças, e voltar fortalecido daqui duas ou três eleições. Se insistir nessa tática de confronto, e com a antipatia que conseguiu angariar após o desastroso desenlace de seus sucessivos governos, então vai minguar, como já está acontecendo.
Já o PDT dos Ferreira Gomes precisará romper a barreira do boicote petista, e do boicote da direita, sem cair na armadilha de se render aos interesses mesquinhos do chamado "centrão", e sem cair nas armadilhas do identitarismo doentio. Esse malabarismo político não é fácil, mas é possível.
Nem o PT, nem o PDT são partidos de esquerda. Como disse, no máximo são reformistas do Capitalismo, um com viés mais internacionalista, com uma inserção sem incomodar interesses, o que agrada o mainstream internacional. Outro tem um viés mais nacionalista, que diz brigar por posicionar o Brasil no mundo enfatizando suas potencialidades latentes, mesmo que isso incomode alguns interesses.
Isso sem esquecer que a direita faz a grande maioria do povo brasileiro, e isso se reflete na composição do nosso Congresso, que conta com quase 4/5 de representantes dessa ideologia, enquanto os representantes da chamada centro-esquerda a muito custo ocupam as restantes cadeiras.
Esse é o quadro que ora se apresenta. Como ele irá se desenvolver é a grande questão. Isso se chegarmos a ter eleições em 2022, já que é nítida a intenção de autogolpe no governo. Isso já era defendido por Bolsonaro antes de se eleger, agora é tentado que se aplique.