sexta-feira, 20 de março de 2020

Bresser Pereira

O texto abaixo foi tirado da página de Facebook do economista Luiz Carlos Bresser Pereira. O economista "decreta" do fim do governo Bolsonaro. Discordo dele, apesar de entender que o atual mandatário já deveria ter sido afastado, e não por impeachment, mas por cassação da chapa que que foi eleita em 2018, e uma nova eleição deveria ter sido chamada. Motivos não faltam, mas falta o aval do "Deus Mercado".

E o "Deus Mercado" não está pronto a abrir mão de Guedes, de suas negociatas, e da rapinagem que promove no país, e enquanto esse aval não vier, seus representantes no Congresso seguirão fazendo ouvidos moucos aos excessos do atual governo. Por outro lado temos uma tênue oposição nas figuras de alguns partidos de centro-esquerda, que têm se mostrado errónea e excessivamente respeitosos ao "rito" da democracia, enquanto ao maior deles não interessa nenhuma alteração do atual quadro, já que ele se alimenta dessa dicotomia criada na oposição extrema direita x esquerda identitária.

Com essa conjuntura nada mudará. 

O problema é que enquanto promovem a rapinagem do país, alguns setores muito retrógrados de nossa sociedade tentam dar um "autogolpe". 

Possível? Claro que é.

Principalmente porque se ninguém impede os avanços autoritários que vêem sendo feitos, eles terão grande chance de acabar por se impor. Isso pode até não se dar por afinidade, mas a adesão acaba por acontecer pela simples necessidade de proximidade com o poder, que alguns setores de nossa sociedade têm.

O problema é que, quando o governo se torna autoritário, nada garante que irá cumprir acordos, e muito menos garantir interesses corporativos e setoriais. Ele pode simplesmente garantir os próprios interesses do ditador. E tudo indica que caminhamos para isso.

Não acho que o governo Bolsonaro tenha acabado, mas acho que já passou da hora de acabar. Na verdade não devia nem ter começado.


Cada vez menos poder

Há duas semanas, nesta página pública do Facebook, eu afirmei que o governo Bolsonaro perdera o apoio das elites econômicas e políticas; perdera, portanto, legitimidade social, e não mais governava. Não estava, assim, com o apoio da sociedade para enfrentar a crise interna caracterizada pelo crescimento do PIB de 1,3% em 2019, e pela disparada do dólar. Nesta semana somou-se à crise interna o pânico em todas as bolsas do mundo com a recessão que o coronavírus deverá causar. A queda da Bolsa de São Paulo, de 25,9%, porém, foi nesta semana muito maior do que na Bolsa de Nova York, de 16,5%. Por que? Essencialmente porque, dada essa crise de legitimidade, o governo Bolsonaro sofre hoje de uma dramática perda de poder. Vimos isto nesta semana quando o Congresso rejeitou o veto do presidente ao projeto de lei aumentando para meio salário mínimo o escopo do Benefício de Prestação Continuada. O poder executivo foi, assim, incapaz de evitar uma despesa adicional sem a respectiva fonte de receita que, apenas neste ano, deverá custar R$ 20 bilhões. Estamos vendo essa perda de poder do governo também na sua incapacidade de reagir adequadamente à pandemia do coronavírus.

Mas o problema não é apenas perda de poder, é também não saber usá-lo, como estamos vendo desde que começou há um ano atrás. Ao invés de enfrentar o desemprego e a falta de demanda com um grande plano de investimentos públicos, o governo promete que a retomada do crescimento acontecerá assim que for aprovada a próxima reforma. As reformas acontecem, algumas delas eram necessárias, como a reforma da Previdência,  mas o crescimento não vem. E assim a crise econômica se interna soma à crise internacional. Por quanto tempo isso será suportável? Não sei. Mas de uma coisa estou certo: nunca houve no Brasil um governo que tenha perdido tanto apoio social como esse que está aí. Um governo que se põe contra praticamente todos os setores da sociedade para ter o apoio de uma extrema-direita populista. Um governo que aposta no caos para ter mais poder, mas tem cada vez menos poder.

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