Na última segunda-feira o jornal Estado de São Paulo publicou um editorial incitando os partidos a lançarem um candidato de "terceira via", em opção à dualidade Lula-Bolsonaro. Vi muitos ciristas ovacionando o editorial do Estadão, que defende a "terceira via", e que isso beneficia Ciro Gomes.
Por favor, não caiam nesse engodo. O editorial do jornal paulista não beneficia Ciro Gomes, ao contrário, nem mesmo o considera como terceira via. O editorial chama os partidos que reiteradamente perdem eleições presidenciais no país, e que perderão outra vez, caso queiram lançar um candidato que saia do cerne dessas legendas, apesar de terem apresentado bom desempenho nas últimas eleições municipais.
O que não entendem (ou se negam a entender) é que eleições municipais são absolutamente distintas das eleições nacionais, assim como a presidencial é distinta das eleições legislativas no país. Tal fato é fruto das distinções regionais, e do fim do voto vinculado, que exigia o voto em candidatos de um mesmo partido para todos os cargos em disputa.
Com isso não podemos entender os votos dados ao presidente e aos legislativos, com os votos dados à Presidência da República.
Não acredita em mim?
Bolsonaro teve 46% de votos válidos no primeiro turno, mas o PSL, seu partido na ocasição, elegeu cerca de 10% da Câmara Federal. Haddad teve 29% dos votos, e o PT fez 10,5% dos deputados, ficando com a maior bancada da Câmara.
Como governar desse jeito? Esses partidos não têm um nome que consiga unificar votos suficientes para a presidência, porque seus votos não são ideológicos, mas fisiológicos.
Por fim, esses partidos representam o pensamento do Estadão, que está preocupado com uma parcela mínima da sociedade, embora diga que se preocupa com os rumos do país.
Estadão pede 3ª via em editorial: “Alternativa viável a Lula e Bolsonaro”
Estadão pede 3ª via a Bolsonaro e Lula – O jornal Estadão publicou um editorial nesta segunda-feira (24) em que pede a consolidação de uma 3ª via política para evitar um segundo turno entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Lula (PT) nas eleições de 2022. “O País tem um urgente desafio: encontrar um candidato competente e responsável, capaz de representar uma alternativa viável a Lula e Bolsonaro”, afirma o texto.
Leia o editorial do Estadão na íntegra:
“O País tem um urgente desafio: encontrar um candidato competente e responsável, capaz de representar uma alternativa viável a Luiz Inácio Lula da Silva e a Jair Bolsonaro. A população não pode ser refém do lulopetismo e do bolsonarismo, opções que – por mais empenho que se coloque para identificar diferenças entre elas – convergem de forma tão cristalina no negacionismo (seja na saúde pública ou na economia), na falta de disposição para promover as reformas, na utilização da máquina pública para interesses particulares (familiares ou partidários), na irresponsabilidade da gestão pública e no exercício do poder para fins exclusivamente eleitorais.
Esse desafio à liberdade e à cidadania – encontrar um candidato a presidente da República responsável e com viabilidade política – é, em alguma medida, tarefa de toda a sociedade. Mas, ainda que todos os cidadãos sejam em alguma medida responsáveis – e é muito oportuno que ninguém se sinta alijado do processo político –, há numa democracia representativa atores institucionais sobre os quais recai especial responsabilidade pelo futuro do País. Faz-se referência aqui aos partidos políticos.
De maneira muito especial, cabe às legendas encontrar um candidato viável da terceira via, comprometido com o interesse público.
Essa específica responsabilidade dos partidos não é mero dever de ocasião, em razão das atuais circunstâncias. Nada mais distante disso. A tarefa é decorrência direta da missão institucional dos partidos políticos em uma democracia representativa: assegurar pluralidade de opções políticas. E ao falar da terceira via, é disto que se trata: garantir que o eleitor, ao votar para presidente da República, tenha uma opção de voto viável e responsável.
Por isso, a Constituição de 1988 coloca os partidos políticos entre as instituições fundamentais para a organização do Estado. Essa menção não é uma espécie de homenagem formal ou de regalia institucional. As legendas têm papel decisivo na qualidade dos candidatos que o eleitor tem à disposição. Tanto é assim que, por expressa determinação constitucional, a filiação partidária é uma das condições de elegibilidade.
Ao contrário do que às vezes se pensa, os partidos são muito relevantes no cenário político. Eles não são – não precisam ser – reféns de Luiz Inácio Lula da Silva ou de Jair Bolsonaro. Por exemplo, nas eleições de 2020, cinco partidos se destacaram quanto ao número de prefeitos eleitos: MDB (783), Progressistas (687), PSD (654), PSDB (521) e DEM (466).
Essas cinco legendas têm, portanto, inegável força política e expressiva capilaridade, não dependendo do lulopetismo ou do bolsonarismo para sua viabilidade eleitoral. Seria, no mínimo, ingênuo que, com tal potencial político, esses cinco grandes partidos não fossem protagonistas nas eleições presidenciais apresentando candidatos competentes, responsáveis e viáveis.
Vale lembrar que, nas eleições do ano passado, o partido de Lula e aquele pelo qual Bolsonaro foi eleito presidente fizeram muito menos prefeitos que as cinco primeiras legendas. O PT elegeu 182 e o PSL, 90. O DEM sozinho elegeu duas vezes e meia o número de prefeitos do PT.
Os números das eleições de 2020 revelam que o eleitor não é submisso aos extremos lulopetista e bolsonarista. Dessa forma, encontrar um candidato viável da terceira via não é apenas um dever dos partidos, mas também uma oportunidade eleitoral.
Na urgente empreitada de encontrar um candidato de centro viável e responsável, os partidos podem resgatar o aspecto essencial de sua missão: o de intermediar a relação entre poder político e população, aproximando-os. É precisamente esse aspecto que Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro negam aos partidos, quando os fazem vassalos de seus interesses particulares.
Sempre, mas especialmente agora, o País precisa dos partidos. Somente com a altiva participação das legendas, o eleitor poderá desfrutar de um mínimo de pluralismo político que o liberte da asfixiante disjuntiva entre Lula e Bolsonaro.”
Fonte: Estadão
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