quarta-feira, 19 de maio de 2021

O depoimento de Ernesto Araújo na CPI da Covid

Ontem o ex-Chanceler Ernesto Araújo depôs na CPI da Covid, e claro, negou seus erros na condução da política externa brasileira, disse que sua pasta ministerial apenas deu apoio ao MS nas tratativas para a compra de vacinas, e jogou a responsabilidade da compra da matéria prima para a produção de cloroquina da Índia ao Presidente Jair Bolsonaro. Essas foram as posições principais.

Claro que isso já era esperado, até pelo teor e forma como as perguntas são feitas. Existe uma linha que divide opinião de fato. Os fatos estão dados, são públicos, mas é lógico que quem participou deles negará responsabilidades em resultados negativos, até porque isso é opinião pessoal, não fato. Basta ver a resposta do Senador Omar Aziz, presidente da própria CPI, ao alertar o depoente sobre suas respostas:

"(...) Você fez uma alusão, erroneamente, em relação a que a pandemia era para ressuscitar o comunismo, porque deixa as pessoas em casa, dependendo do Estado, e uma série de coisas. Quer dizer, na minha análise pessoal, vossa excelência está faltando com a verdade. Então, eu peço que não faça isso".

Como se vê, isso é uma opinião pessoal. Então o que se precisa fazer é apresentar fatos, provas concretas. De resto vira achismo de um lado e de outro.

Mas das 3 respostas principais de Araújo vamos começar dizendo que ele refutou erros de sua pasta na condução da política externa brasileira. Ora, ele não cometeu erro, já que a determinação dada pelo Planalto era aquela. Existe diferença entre cometer erros, e de termos objetivos diferentes. Bolsonaro não assumiu para aprofundar ou melhorar as políticas brasileiras em suas variantes, mas para destruí-las, então não há erro de Araújo, mas objetivo diferente.

Colocou sua pasta como um apoio ao MS na aquisição de vacinas. E ele está correto nisso. A pasta responsável pela aquisição de vacinas era a de Pazuello, e outras pastas entram com apoio financeiro, logístico, político, etc. A questão aqui é como esse apoio foi dado, como se desenrolaram as negociações.

Jogou a responsabilidade pela compra da matéria prima da cloroquina exclusivamente em Jair Bolsonaro, ao afirmar que o Presidente atuou pessoalmente na aquisição das toneladas do princípio ativo, tirou sua responsabilidade sobre o problema, e a jogou nos ombros (nem tão largos assim) do Presidente. O fato de a cloroquina ser absolutamente ineficaz no tratamento da doença, e esse enorme estoque ter sido adquirido justamente para enfrentar a pandemia é um problema grave, até porque não havia nenhuma indicação científica concreta que corroborasse o medicamento para esse fim. Mas o problema se agrava, porque há indícios fortes de que houve superfaturamento na transação.

Araújo se complica ao negar fatos, mas isso já era esperado, afinal de contas, ninguém vai até a CPI dizer que trabalhou de forma errada, e que seus erros provocaram agravamento em uma crise sanitária enorme. Mas Araújo complicou muito mais o Presidente da República, porque além das contra-indicações do medicamento, ainda há sérias suspeitas de que houve superfaturamento na aquisição.

Isso vai ser uma bela dor de cabeça para Bolsonaro.



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