Após a vitória da chapa de centro-esquerda na Argentina, que tinha Fernández na cabeça e Kirchner como vice, o Presidente brasileiro disse que os argentinos escolheram errado e não iria cumprimentar o colega recém eleito.
Não comentarei este fato, porque Ciro Gomes já o fez, e me pareceu bastante adequado, mas discordo no último parágrafo, porque o atual Presidente brasileiro já deu motivos para impedimento sim, quando desrespeitou várias Leis, e inclusive a Constituição, que ele jurou cumprir e defender ao assumir o cargo.
Mas a cassação da chapa me parece um caminho bem mais adequado, porque seu vice também já cometeu seus erros. Pena que temos um judiciário tão horroroso.
Quando este senhor vai começar a colocar os interesses do Brasil acima das suas baboseiras ideológicas? A Argentina é o principal parceiro do Brasil na região e o despreparado agride toda a nação vizinha ao criticar a escolha soberana deles.
Sua incapacidade de administrar este país maravilhoso, que é o Brasil, cada vez mais nos faz crer que entrará para a história como o pior presidente que nosso povo já viu.
Não quero falar em impedimento por ele não ter dado (AINDA) juridicamente todos os subsídios, mas cada vez mais compreendo aqueles que estão preparando ações para tirá-lo de onde está.
O ataque ao funcionalismo público é mais uma obra covarde desse governo desastroso. Certo que existem maus funcionários públicos, como também os temos no setor privado, ou entre profissionais liberais, mas a verdade é que a maioria trabalha sério, tem responsabilidade, e busca realizar suas tarefas de forma profissional e eficiente.
Como o texto de Fernando Nogueira deixa claro, não há país grande e desenvolvido que não conte com um funcionalismo público altamente qualificado, tendo inclusive seu treinamento de ponta sendo bancado pelo próprio Estado.
No Brasil o desqualificado governo que foi eleito, com o mais que desqualificado Ministro Paulo Guedes, quer acabar com isso, transformando o funcionalismo público em carreira de segunda, a ser usado como massa de manobra para ganhos políticos.
Vergonhoso, mas quase tudo que se faz no Brasil nos últimos anos é vergonhoso.
Desde a volta dos neoliberais ao Poder Executivo, devido ao golpe de 2016, os servidores públicos têm sido tratados como fossem “privilegiados”. Atacam as carreiras de Estado. A perseguição política, apelidada de “despetização” por um ex-deputado do baixo clero e ministro no governo do capitão, visa em última análise levar todos ao regime de capitalização. Desestimulará o futuro ingresso de talentos, via concursos públicos, para uma carreira antes promissora em termos de mobilidade social e de estabilidade no emprego, justamente, para evitar demissões motivadas por alternâncias de poder.
Aliás, graças a esses servidores a máquina pública continua a funcionar, apesar dos incompetentes eleitos ou nomeados para cargos políticos de representação. Eles têm know-how (“sabem como”), isto é, um conjunto de conhecimentos práticos adquiridos por formação qualificada e experiência profissional. Mas possuem também o “know-why” (“sabem o porquê”), isto é, conhecem o motivo porque as ações públicas, inclusive fiscais e diplomáticas, são feitas de determinada maneira. Não à toa a ESAF (Escola de Administração Fazendária) e o Instituto Rio Branco se destacam na formação de quadros de excelência, no Brasil, embora o atual ministro de Relações Exteriores seja um “cisne negro” para falsear essa impressão. Ou ele é uma “ovelha negra”?
Ciro Gomes deu entrevista ao site Tapis Rouge em agosto último. Como sempre foi provocado em assuntos já batidos, como as últimas eleições e seus erros estratégicos, as possibilidades para as próximas eleições municipais, as possibilidades políticas e de coalisões do PDT, sua relação com Tasso Jereissati e as repercussões disso, possibilidades de união da esquerda, as relações cearenses e dos Ferreira Gomes com o Governo Federal, a Destruição da Previdência e a proposta rejeitada de reforma do PDT, Lava Jato e Sérgio Moro, Tabata Amaral, e meio ambiente.
Sobre tudo isso ele já vem falando há um bom tempo, deixando claras posições que antagonizam os rumos que o PT tomou, e que insiste em seguir, que revisões precisam ser feitas em várias áreas, inclusive a previdenciária, etc. Nisso tudo pouco a acrescentar, porque pouco ele falou que já não tenha sido dito em algum momento.
Mas no final da entrevista ele diz que "o Brasil está indo para o brejo porque a inteligência foi banida". Sim, mas qual inteligência foi banida? Em que a inteligência pode alterar os rumos do país? O que precisa ser feito para isso mudar? Quem exatamente baniu a inteligência?
Essas são perguntas que Ciro precisa responder claramente, porque o Projeto de Desenvolvimento Nacional (PND) não dá conta de explicar issa situação, nem de resolver essa situação, mas é exatamente ela que precisa ser superada para que o PND possa abrir passagem.
E claro, como retomar o sentimento verdadeiramente nacional, porque sem ele nenhuma das duas coisas será possível, nem retomar a inteligência como guia, nem ter o PND como caminho.
Após a aceitação do processo de impeachment do presidente norte-americano, aperta-se o cerco ao mandatário, e o New York Times publicou matéria sobre fraudes fiscais cometidas por Trump nos anos 90. e que ajudaram a aumentar sua fortuna. Somadas a várias outras denúncias, a problemas na política externa, e a uma economia que começa a apresentar alguns sintomas de deterioração, a pressão popular pelo impedimento de Trump certamente aumentará.
A maioria do Senado americano é dos republicanos do presidente, mas talvez nem isso seja suficiente para segurar a situação, caso o clamor popular pela deposição se exacerbe.´
E o processo está apenas começando.
Para Bolsonaro seria como tirar o chão, porque lhe tiraria o exemplo de governança (ou de não-governança). Para o Brasil poderia até ser um alívio, porque sem seu grande guru político, vai que o Bolsonaro para de entregar todas as riquezas e as maiores potencialidades do país para os americanos a preço de xepa?
Jornal relata que o presidente criou empresas de fachada com seus irmãos para ocultar dinheiro. Órgão fiscal de Nova York revisará o histórico da família
Uma reportagem publicada nesta terça-feira no The New York Times aponta Donald Trump como artífice de parte dos estratagemas fiscais que ajudaram seu pai, o empreendedor imobiliário Fred Trump, a sonegar impostos nos anos noventa. Uma das manobras consistiu na criação de empresas de fachada com seus irmãos. Citando uma ampla investigação envolvendo, entre outros, mais de 100.000 documentos fiscais e judiciais relativos a várias décadas, o jornal estima em 413 milhões de dólares (1,63 bilhão de reais, pelo câmbio atual) a quantia que o republicano recebeu de seu pai ao longo da vida.
Charles J. Harder, advogado de Donald Trump, enviou um comunicado ao Times salientando que as acusações de “fraude e evasão fiscal são 100% falsas”. O republicano gerou polêmica na campanha eleitoral de 2016 ao não divulgar publicamente sua declaração da renda, como costumam fazer os candidatos presidenciais, o que agravou as suspeitas sobre suas práticas empresariais e fiscais.
Trump já nasceu rico. Seu pai era um próspero incorporador imobiliário que começou construindo residências no Queens e Brooklyn (Nova York). Os primeiros passos do mandatário no mundo dos negócios foram nas empresas de seu pai. Donald, fascinado pelo luxo nova-iorquino, deu o salto para Manhattan e começou a impulsionar arranha-céus que levam seu nome. E, naquela época, o hoje presidente e seus irmãos continuaram recebendo dinheiro dos pais.
Segundo o Times, Fred e Mary Trump transferiram à prole um total de um bilhão de dólares, que, com os impostos de 55% sobre doações e heranças, teriam gerado 550 milhões de dólares para o fisco, mas só pagaram 52,2 milhões (pouco mais de 5%).
Donald Trump começou a acumular patrimônio muito cedo, aos três anos, quando recebeu o equivalente a 200.000 dólares pelo valor atual, descontada a inflação do período. Aos oito, segundo o artigo, já era milionário, aos 17 assumiu um edifício com 52 apartamentos, e, ao terminar a faculdade, já tinha uma renda que seria equivalente a um milhão de dólares pelos valores atuais. Ao chegar aos 40 anos, a bolada atingia cinco milhões por ano.
Embora os pais fossem generosos, a investigação do Times mostra que o republicano também fazia sua parte. Uma grande parcela do dinheiro recebido chegou às suas mãos porque ele estava ajudando a sonegar impostos. As empresas de fachada que criou com seus irmãos serviam para ocultar as doações e ajudaram seu pai a obter ilegalmente deduções fiscais milionárias. Também segundo a reportagem, ele colaborou com os pais na concepção de uma estratégia para desvalorizar as propriedades imobiliárias, pois assim teriam uma economia considerável em impostos.
A Casa Branca insistiu nesta terça-feira através de sua porta-voz, Sarah Sanders, que Trump começou seu império com um empréstimo de um milhão de dólares de seu pai, que o hoje presidente devolveu. Agora, afirmou, sua fortuna alcança os dez bilhões, embora a Bloomberg avalie o montante em 2,8 bilhões. Se esse primeiro milhão emprestado a Trump fosse investido no índice S&P da Bolsa de Nova York, hoje a bolada seria de 1,96 bilhão.
James Gazzale, porta-voz do Departamento de Impostos e Finanças do Estado de Nova York, informou após a publicação da reportagem que o departamento “está analisando as denúncias incluídas no artigo do The New York Times”.
Agora é o Chile que está em pé de guerra. Violentos protestos, também violentíssima reação da polícia e das forças armadas, mortos, muitos feridos, e muitos, mas muitos mesmo presos. O toque de recolher foi decretado na capital Santiago, e áreas próximas, e para sair depois do horário estipulado só com motivo justificado e salvo-conduto.
Tudo provocado por aumentos abusivos nas tarifas públicas de transportes, notadamente o metrô.
Na Argentina parece iminente a vitória da centro-esquerda, apoiada pelo peronismo/kircherismo.
No Equador já falamos da vitória popular, e da deposição no cargo do atual presidente, Lenín Moreno.
Enquanto os países sulamericanos se rebelam contra o neoliberalismo e suas agruras, o Brasil se dobra de forma subserviente, covarde, e patética aos interesses do capital vadio, da exploração extrema, e dos interesses estrangeiros, principalmente o norte-americano.
"Aí eu mostro a gravação dele... eu tenho a gravação... eu implodo o Presidente". Fala de Major Olímpio em reunião de parte do PSL, se referindo ao Presidente Jair Bolsonaro.
Bacana Major Olímpio, mas qual é a gravação? Implode logo. Implode, implode, implode.
Nós também queremos ouvir a gravação.
"E não se esqueçam que eu sei quem vocês são e o que fizeram no verão passado" Joice Hasselmann respondendo à nota de R$ 3 reais que Eduardo Bolsonaro publicou com a foto da Deputada.
Joice Hasselmann, o que você sabe que eles são, mas que ainda não é de domínio público? O que foi que eles fizeram no verão passado?
Também queremos saber. Lembre-se que faz parte da prática da transparência a divulgação de ações, digamos, irregulares, mesmo que seja de amiguinhos.
Qual o romancista de quinta que escreveu esse capítulo da História brasileira?
Vejam que interessante. Não havia conhecimento de como era o som da música grega antiga. Sim, não havia, porque após estudos e investigações chegou-se ao som e vocal que está no vídeo abaixo. Se não é melhor que Rock n'Roll, é melhor que muita coisa que rola hoje em dia, e ainda nos leva realmente a pensar na vida rural grega de 7 Séculos antes de Cristo.
Na voz do Coro del Orestes de Eurípides, a música grega antiga.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deu entrevista a Monica Bergamo da Folha de São Paulo. Na oportunidade Maduro diz algumas verdades, e também larga alguns devaneios. Responde aos ataques de Bolsonaro, apresenta reclamação às absurdas ações do governo norte-americano, que congelou as contas em dólar do pais, e promove um mais que absurdo boicote ao nosso vizinho. Também reafirma a coesão das forças armadas e do povo venezuelano, e responde às acusações de liderar uma ditadura. Nesse último quesito sobrou até para o líder Uruguaio José Mujica, já que ele chamou de estúpido a todos que dizem ser seu governo uma ditadura.
Muito do que ele diz é verdade, muito do que o acusam é exagero, é manipulação da imprensa ligada aos grandes grupos capitalistas, mas em alguns pontos há muito de exagero nas declarações de Maduro, principalmente quando ele diz não haver ditadura.
A questão é saber qual país não descambaria para uma situação dessas nas condições impostas externamente à Venezuela?
Enquanto isso, no Brasil, aprofundam o golpe, para criar condições de termos exatamente o tipo de governo que eles tanto criticam, só que com um viés ideológico diametralmente oposto. Mas no fundo tudo isso é pernicioso ao povo.
O relato de Paulo Coelho é triste, mas também tem um caráter didático. Triste que um Estado faça alguém passar pelas coisas que o compositor e escritor passou, e didático porque deixa claro que tais ações não podem ser aceitas por nenhuma sociedade.
No Brasil essa posição, de não serem aceitas posições ditatoriais e abusivas aos direitos individuais e coletivos, não é explicita em sua totalidade, mas numa interpretação ampla da Constituição e das Leis podemos sim dizer, que tais atitudes são proibidas, e inclusive criminosas.
Aqui ouso ir mais longe, e sugiro que tais atitudes fossem explicitadas na Constituição e em nosso arcabouço jurídico.
Porque não se pode aceitar mais esse tipo de atitude.
Em artigo publicado este domingo no jornal argentino Clarín, o escritor brasileiro fala de suas torturas no DOI-CODI e afirma que o presidente Bolsonaro quer trazer de volta esse Brasil violento e antidemocrático. Paulo Coelho conta com detalhes minuciosos desde aquele 28 de maio de 1974, quando foi preso e fichado no Dops, onde começou a sua grande tormenta.
Os militares que procuravam Paulo Coelho, um roqueiro, de repente, ouviu do parceiro de Raul Seixas: “Você é um terrorista e terrorista merece morrer”.
28 de maio de 1974: Um grupo de homens armados invade meu apartamento. Eles começam a mexer gavetas e armários – não sei o que estão procurando, sou apenas um compositor de rock . Um deles, mais gentil, pede que eu os acompanhe “apenas para esclarecer algumas coisas”. O vizinho vê tudo isso e diz à minha família que está cheio de desespero. Todos sabiam o que o Brasil estava vivendo na época, mesmo que nada fosse publicado nos jornais.
Sou transferido para o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), assinado e fotografado. Eu pergunto o que fiz, ele me diz que aqui são eles que fazem as perguntas. Um tenente me faz algumas perguntas tolas e me deixa ir. Oficialmente, não estou mais preso: o governo não é mais responsável por mim. Quando eu sair, o homem que me levará ao DOPS sugere que tomemos um café. Então, pare um táxi e abra suavemente a porta. Entro e peço que ele me leve à casa dos meus pais – espero que eles não saibam o que aconteceu.
No caminho, dois carros próximos ao táxi; de dentro de um deles, um homem sai com uma arma na mão e me tira do veículo . Caio no chão, sinto o cano da arma no meu pescoço. Olho para um hotel na minha frente e penso: “Não posso morrer tão jovem”. Entro em uma espécie de catatonia: não sinto medo; não sinto nada. Conheço as histórias de outros amigos que desapareceram ; Eu sou uma pessoa desaparecida , e minha última visão será a de um hotel. Ele me levanta, me coloca no chão do carro e pede um capuz.
Terroristas, eles dizem. Merece morrer. Você morrerá lentamente, mas primeiro sofrerá muito
O carro vai demorar talvez meia hora. Eles devem estar escolhendo um lugar para me executar – mas ainda não sinto nada, estou satisfeito com meu destino. O carro para. Fui tirada dele e espancada enquanto andava pelo que parece ser um corredor. Eu grito, mas sei que ninguém está me ouvindo, porque eles também estão gritando. Terroristas , eles dizem. Merece morrer. Ele está lutando contra seu país. Você morrerá lentamente, mas primeiro sofrerá muito. Paradoxalmente, meu instinto de sobrevivência começa a voltar aos poucos.
Eles me levam para a sala de tortura , onde há um balanço. Tropeço no balanço porque não consigo ver nada. Peço que eles não me pressionem mais, mas recebo um golpe nas costas e caio. Eles me mandam tirar a roupa. O interrogatório começa com perguntas que não posso responder. Eles me pedem para parar as pessoas que eu nunca ouvi falar. Eles dizem que eu não quero cooperar; Eles derramam água no chão e colocam algo nos meus pés, e eu posso ver debaixo do capô que é uma máquina com eletrodos que me fixa nos órgãos genitais.
Entendo que, além dos golpes que não sei de onde eles vêm (e, portanto, nem consigo contrair o corpo para amortecer o impacto), eles me dão toques elétricos. Eu digo que você não precisa fazer isso, confesso o que você quer, Assinarei onde eles me pedirem. Mas eles não estão contentes com isso. Então, desesperada, começo a arranhar minha pele, a me despedaçar. Os torturadores devem ter medo quando me virem coberto de sangue; Logo depois eles me deixam em paz. Dizem que posso tirar o capuz quando ouvir a batida na porta. Tiro e vejo que estou em uma sala à prova de som, com marcas de tiros nas paredes. É por isso que o balanço. No dia seguinte, outra sessão de tortura, com as mesmas perguntas. Repito que assino o que eles querem, que confesso o que eles querem, apenas me diga o que confessar. Eles ignoram meus pedidos. Depois que eu não sei quanto tempo e quantas sessões (no inferno, o tempo não é contado em horas), elas batem na porta e me pedem para colocar meu capuz. O sujeito me agarra pelo braço e diz, envergonhado: não é minha culpa. Eles me levam para uma pequena sala, toda pintada de preto, com um ar condicionado muito forte. Apague a luz. Apenas escuridão, frio e uma sirene que soa sem parar.Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos . Bato na porta da “geladeira” (depois descobri que esse era o nome dele), mas ninguém abre. Me desmaio. Eu acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas eu penso: melhor preso do que ficar aqui.
Quando acordo, estou de volta à sala de estar. A luz sempre acesa, incapaz de contar os dias e as noites. Eu fico lá pelo que parece uma eternidade. Anos depois, minha irmã me disse que meus pais não dormiam mais; minha mãe chorava o tempo todo, meu pai se trancou em silêncio e não disse uma palavra.
Eles não me questionam novamente. Prisão solitária. Um belo dia, alguém joga minhas roupas no chão e me pede para me vestir. Eu visto e visto meu capuz. Eles me levam para um carro e me colocam no porta-malas . Eles giram por um tempo que parece infinito, até que parem – eu vou morrer agora? Eles me mandam tirar o capuz e sair do porta-malas. Estou numa praça com crianças, não sei onde no Rio.
Estou só; se eles me prenderem, devo ter alguma falha, eles devem pensar
Eu vou na casa dos meus pais. Minha mãe envelheceu , meu pai me disse que não preciso mais sair. Estou procurando meus amigos, procuro a cantora e ninguém atende minhas ligações. Estou só; Se eles me colocarem na prisão, devo ter alguma falha, eles devem pensar. É arriscado ser visto ao lado de um condenado. Saí da prisão, mas ela me acompanha. A redenção ocorre quando duas pessoas que eu mal conhecia me ofereceram um emprego. Meus pais nunca se recuperaram.
Décadas depois, os arquivos da ditadura são abertos, e meu biógrafo obtém todo o material. Pergunto-lhe por que me colocaram na prisão: uma queixa, ele diz. Deseja saber quem o denunciou? Não quero. Isso não vai mudar o passado.
E é nessas décadas de liderança que o presidente Jair Bolsonaro – depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo – está voltando ao país.
Bom, antes de tudo vamos convir que, se Joice Hasselmann é vítima de alguém, o é dela mesma.
Mas seria patético se a situação terminasse por aí.
O problema é que a briga se estende, o que provocou duas grandes facções no partido mais bolsonarista do Congresso, sendo uma que apoia o Presidente da República, e outra que apoia o presidente do próprio partido, Luciano Bivar.
Mas a briga não é pelo país.
A briga é por poder interno do partido, e para administrar os cerca de R$ 700 millhões que cabem à legenda na forma de fundo partidário, e de fundo eleitoral.
A tensão entre Bolsonaro e seu partido, o PSL, deverá ter forte impacto na disputa municipal de 2020. As atenções se voltam para São Paulo, principal capital do país e peça-chave no tabuleiro de 2022. Joice Hasselmann está no meio de um tiroteio na seção paulista do partido, e as consequências da guerra entre Bolsonaro e Luciano Bivar entram na esteira do imponderável
Atensão entre Bolsonaro e seu partido, o PSL, deverá ter forte impacto na disputa municipal de 2020. As atenções se voltam para São Paulo, principal capital do país e peça-chave no tabuleiro de 2022. Joice Hasselmann está no meio de um tiroteio na seção paulista do partido, e as consequências da guerra entre Bolsonaro e Luciano Bivar entram na esteira do imponderável.
O jornalista Igor Gielow afirma, em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, que “hoje, seu principal cabo eleitoral é o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que está em conflito aberto com os filhos do presidente. O deputado federal Eduardo, que o sucedeu como presidente do PSL-SP, e o vereador Carlos (PSC-RJ) trocam farpas com o senador.”
Gielow ainda destaca que “além disso, eles estimulam a suspeita corrente no partido sobre a ligação próxima de Joice com o governador João Doria (PSDB), que é presidenciável não assumido. Isso é vocalizado por aliados do principal concorrente da deputada na postulação pela vaga em 2020, o deputado estadual Gil Diniz, conhecido como Carteiro Reaça.”
Foi aprovada em primeiro turno a destruição da Previdência brasileira. Essa aprovação mais uma vez contou com votos de alguns parlamentares de partidos considerados de "esquerda". Mais uma vez volto a dizer que não há partido de esquerda, mas apenas aqueles que são completamente entregues ao grande capital produtivo-financeiro, e alguns que defendem pequenas reformas e ações compensatórias, com o bolsa-família no Brasil.
Agora o segundo turno do Senado vem sendo empurrado com a barriga, não por interesses do povo brasileiro, mas por interesses de grandes capitais, e individuais dos próprios Senadores e seus grupos políticos, que protelam a votação final do texto base enquanto barganham os pagamentos de promessas e emendas parlamentares feitas a Deputados e aos próprios Senadores.
É verdade que mexeram levemente no texto, de forma a minimizar os prejuízos dos menos favorecidos, mas o problema é que essa reforma nem de longe ataca os problemas previdenciários que têm assolado o sistema brasileiro, que são os altíssimos salários de alguns grupos políticos, judiciários, e militares, e que correspondem quase com a totalidade do rombo previdênciário.
Tudo isso significa que, mais uma vez, os mais pobres estarão pagando por privilégios de gente que não precisa deles.
Que os Senadores mostrem ao menos um mínimo de consciência, e diminuam ainda mais os prejuízos causados aos mais pobres, e a manutenção de privilégios desmesurados e absolutamente abusivos.
É óbvio que as violentas manifestações que acontecem por todo o Ecuador não têm esse lema a motivá-las, mas o cerne que as iniciaram foram as medidas neoliberais adotadas por Lenin Moreno, o atual presidente equatoriano, indicado por Rafael Correa, o presidente que o antecedeu, que o indicou, e que era de centro-esquerda. Interessante perceber que Lenin Moreno saiu do cerne do Alianza País, partido de ambos os políticos.
Alguns analistas políticos de direita vêm dizendo que as ações populares são devido à retirada dos subsídios aos combustíveis, o que teria provocado a ira da população. O que não entendem é que isso foi apenas a gota d'água, aquilo que se tornou insuportável ao povo equatoriano, já que Moreno se elegeu com um discurso e um programa de centro-esquerda, que daria seguimento ao governo de Correa, mas desde o início traiu seu discurso e iniciou a tomar medidas neoliberais, o que rapidamente fez com que perdesse apoio da população, principalmente dos setores mais populares e indígenas (parcela muito importante de vários países latino-americanos).
Pois bem, Moreno, apesar da violenta reação às manifestações, está acuado, a ponto de ter mudado a administração do país de Quito para Guayaquil. Analistas mais isentos dão como certa a queda de Moreno, ou o fim de seu governo, ainda que permaneça na presidência, porque perdeu completamente as condições de governança necessárias à continuidade efetiva de um governo.
A última informação que tive já indicava ao menos 7 mortes, além de feridos, presos, sequestrados (pelos manifestantes), e até as forças armadas do país já se vêm acuadas, não apenas pela violência das manifestações, como também por tradição em não atacar seus próprios cidadãos (ah, se tivéssemos mais forças armadas como essas), e acredita-se que seja questão de tempo para que retirem seu apoio ao atual presidente, e que se chegue a uma solução negociada para os conflitos, que podem inclusive incluir novas eleições.
De qualquer forma é um rechaço duro, claro, inegável, e muito enfático ao neoliberalismo. A Argentina chegou perto, mas não com tanta violência, e as próximas eleições do país do Conesul devem refletir definitivamente esse sentimento popular. Quando o Brasil irá tomar atitudes sérias como essas, e escorraçar de uma vez por todas essas aberrações?
Agrava-se a crise no Equador. De um lado, o ditador Lenin Moreno retirou do ar o sinal da emissora venezuelana Telesur, que critica a repressão no país. Em parelelo, a população atacou instalações de veículos de comunicação alinhados a Moreno
247 – O ditador Lenin Moreno retirou do ar, neste domingo, o sinal da emissora venezuelana Telsur, confirmando que o país se tornou uma ditadura, com forte repressão e cenura. Revoltada, a população ataca instalações da mídia corporativa.
Sputinik – Protestos em massa eclodiram no Equador no início de outubro, após uma ação dos legisladores para acabar com os subsídios de combustível.
Os manifestantes em Quito tentavam "forçar entrada nas instalações" do jornal El Comercio, de acordo com associação local de jornalismo Fundamedios.
Uma instalação pertencente ao canal de TV Teleamazonas também foi atacada por supostos manifestantes que jogaram coquetéis molotov no prédio da emissora.
Teleamazonas compartilhou no Twitter a foto de um ônibus, pertencente ao canal, que foi queimado por manifestantes. Segundo a mídia, "25 pessoas estavam dentro do veículo" quanto "vândalos" começaram a atirar coquetéis molotov. Além disso, a emissora divulgou imagens de suas instalações em chamas, que também seria resultado da atuação dos manifestantes.
No início do dia, o presidente do Equador, Lenín Moreno, anunciou um toque de recolher e intervenção militar em Quito, previsto para começar às 15h do horário local (20h GMT). A medida visa "facilitar as atividades das agências policiais contra a violência excessiva".
Protestos tiveram início no Equador em outubro, quando milhares se uniram contra as reformas econômicas do governo, especificamente uma decisão de encerrar décadas de subsídios de combustível para a população.
À medida da escalada progressiva da violência, Moreno declarou estado de emergência nacional por dois meses. Segundo Moreno, o Equador não poderia mais arcar com os subsídios e os cortes poderiam ajudar o país a economizar cerca de US$ 2,27 bilhões por ano.
A medida faz parte do acordo de austeridade do governo equatoriano com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para se qualificar para um empréstimo no valor de US$ 4,2 bilhões.
A LUA DE MEL não durou 100 dias. Uma recente pesquisa do DataFolha mostrou que, após três meses, Bolsonaro tem a pior avaliação entre presidentes no primeiro mandato, confirmando algo que estava na cara: o fenômeno do bolsonarismo arrependido chegaria muito rápido.
Vale retomar o que escrevi em minha coluna de 29 de outubro, logo após a vitória de Bolsonaro:
Os eleitores de Bolsonaro foram seduzidos pela mobilização política populista, movidos por onda de contágio que foi espalhando medo e uma esperança de mudança radical. É muita expectativa popular para pouco projeto, pouca equipe e pouca experiência. Isso não pode funcionar. Isso não dará certo.
De novembro de 2016 a novembro de 2018, eu e a antropóloga Lucia Scalco fizemos uma pesquisa etnográfica, baseada em observação participante e grupos focais, sobre eleitores de Bolsonaro entre eleitores de baixa renda na zona leste de Porto Alegre. Nós percebemos que, conforme a eleição se aproximava, a adesão a Bolsonaro se transformava em um movimento emocional. Havia uma esperança crescente dos eleitores, inclusive entre aqueles que outrora desprezavam o candidato.
Até poucos meses antes da eleição, era possível identificar um padrão de eleitores de baixa renda: eram jovens desempregados que se sentiam ameaçados pelo feminismo emergente na escola; ou homens brancos, dos 30 aos 50 anos, com trabalho precário (como motoristas de aplicativos ou vigilantes terceirizados). Nas motivações de voto, o desalento econômico se misturava a uma narrativa que apontava também uma crise na masculinidade. Homens estavam desempregados e/ou com emprego precário, endividados, com pressão alta, sofrendo assaltos e tendo seu papel de provedor ameaçado. Em comum, todos eles tinham um desejo íntimo de portar uma arma para se proteger das muitas ameaças — reais e imaginárias — que desestabilizam a ordem do mundo.
Existem custos com Educação, e a alimentação é um deles.
Existe necessidade de Educação, e obrigação a crianças e adolescentes.
Como estudar de estômago vazio?
Parece que os americanos precisam começar a rever alguns de seus conceitos muito urgentemente, porque esse caso repercutiu, mas são várias as denúncias de pauperização de sua população, que já atinge um grande contingente, e que já ameaça a valores e condições pré-crash da bolsa de 1929.
E outra crise vem a caminho, capitaneada por essa turma que não quer dar um prato de comida a uma criança.
A diferença é que dessa vez vai pegar o Brasil de cheio, porque toda a estúpida política econômica implementada no país foi no sentido de deixar a economia brasileira muito dependente dos humores estrangeiros.
Não demora e esses humores não estarão muito bons.
A empresa quer voltar a contratar Bonnie Kimball, mas a mulher recusa-se a aceitar a oferta. Já há uma campanha de crowdfunding para a apoiar.
Bonnie Kimball, funcionária no refeitório de uma escola em New Hampshire, nos EUA, alega ter sido despedida por oferecer o almoço a um aluno que não tinha dinheiro para pagar a refeição. Agora, conta o The Guardian, a empresa quer voltar a contratá-la, mas Bonnie recusa-se a regressar.
A mulher foi despedida no dia 28 de março pela Fresh Picks, a empresa que fornece refeições na escola secundária Mascoma Valley, depois de oferecer o almoço a um aluno.
Quando se apercebeu que o estudante não tinha dinheiro no cartão da escola, Bonnie alertou o jovem para avisar a mãe que era necessário carregar o cartão e serviu-lhe o almoço.
Embora a conta tenha sido paga no dia seguinte, a mulher foi chamada pelo gerente que testemunhou o episódio, tendo sido despedida.
Entretanto, um porta-voz da empresa disse que foram violadas as normas da mesma e da escola, mas adiantou que esta se ofereceu para voltar a contratar a funcionária e a trabalhar na melhoria dos protocolos com as escolas. Mas Bonnie diz que não faz intenções de voltar à empresa.
O despedimento da funcionária motivou protestos entre os colegas de trabalho e os encarregados de educação da escola, tendo levado à abertura de uma campanha de crowdfunding na plataforma GoFundMe. Em apenas um dia, foram recolhidos mais de 6 mil dólares para a mulher.
Bonnie também tem recebido imenso apoio através das redes sociais. Na publicação mais recente feita no Facebook, a mulher diz que a empresa apenas a quer voltar a contratar para se ver livre da comunicação social.
Apesar do episódio, a escola decidiu esta semana manter o contrato com a empresa que fornece refeições durante mais um ano.
Os Senadores alteraram a PEC da Previdência, e melhoraram as condições para a concessão do abono salarial, pago aos trabalhadores de baixa renda. A medida da mais um desidratada na Destruição da Previdência, e fez Guedes cancelar reuniões que teria com algumas bancadas de Senadores hoje.
Mas resta também aos Senadores melhorarem essas regras de transição, porque 100% de multa sobre o tempo restante para a aposentadoria é mais que absurdo, assim como a redução drástica dos períodos em que a pontuação necessária aumenta, para aqueles que almejam este tipo de aposentadoria.
Com a manutenção das regras atuais para o pagamento do abono salarial, Guedes já planeja alterações no pacto federativo, revendo as divisões de impostos entre federação, estados, e municípios, para tentar compensar os cerca de R$ 75 bi, que a Previdência seguirá distribuindo ao longo do período de 10 anos estimado por ele.
Mas resta uma pergunta séria a fazer: ele já combinou isso com prefeitos e governadores?
Em um dia de inverno em Pádua, há 410 anos, Galileu Galilei fez uma lista das compras que queria fazer em sua próxima viagem a Veneza.
Era parecida com essas que às vezes encontramos esquecidas em nossos bolsos. A de Galileu, como alguma das nossas, estava escrita no verso de uma carta sem importância que havia recebido recentemente.
Malgavia (um tipo de vinho importado da Grécia) do senhor (Giovanni Francesco) Sagredo (um dos seus melhores amigos em Veneza)
A lista é preciosa por ter sido escrita de letra e punho pelo gênio de Pisa, e porque nos convida a imaginar seu cotidiano.
Mas há outra razão que faz com que ela seja interessante. Ele anotou depois objetos pouco usuais e até misteriosos, como:
Dois pelouros (projéteis de antigas peças de artilharia)
Tubo de órgão de estanho
Trípoli
Pedaços de espelho
Colofônia (ou breu)
Diferentes tipos de espelho, uma peça de um instrumento musical e balas de armas de guerra... A sua lista de compras, hoje, dificilmente incluirá essas coisas.
Mas, claro, antes de uma viagem, nem todos nós nos propomos a transformar o que era vendido como brinquedo em um instrumento que mudaria a visão do universo.
O brinquedo
Em 1608, um conflito brutal entre holandeses e espanhóis, que começara 40 anos antes, estava em ponto morto. As duas partes estavam desesperadas para encontrar algo que lhes desse uma vantagem militar.
Image captionA Guerra dos Oitenta Anos, na qual as Províncias Unidas dos Países Baixos enfrentaram seu soberano, que também era rei da Espanha, terminou em 1648 com o reconhecimento de sua independência
Conta a história que, um dia, na cidade de Middelburg, em um condado das Províncias Unidas dos Países Baixos, um jovem fabricante de óculos chamado Hans Lippershey estava em sua loja observando duas clientes brincar com um par de lentes.
Uma delas tinha uma lente convexa, do tipo que se usa nos óculos para aumentar objetos, e a usava para olhar um cata-vento. Mas, quando movia a lente para longe de seus olhos, a imagem ficava borrada.
A outra menina erguia uma lente côncava e a colocou em frente à lente convexa. Para sua supresa e deleite, a imagem ampliada pela primeira lente voltou a ser nítida.
Image captionDuas lentes fizeram com que a imagem ficasse nítida
Mais tarde, Lippershey pegou um tubo, juntou essas duas lentes na orientação correta, e se deu conta da utilidade da ferramenta – e, inclusive, que poderia ser útil para os holandeses na batalha, porque poderiam ver os invasores espanhóis de locais muito mais distantes de que os olhos permitiam.
Chamou o aparato de "o observador" e, rapidamente, solicitou às autoridades holandesas uma patente, convencido de que faria fortuna.
Infelizmente, os funcionários do governo decidiram que a ideia era muito simples para mantê-la em segredo, dar-lhe a patente e reconhecer o fabricante de óculos como inventor.
A lente espiã
Com a tentativa falida de Lippershey de patentear sua invenção, o secredo da luneta se perdeu. Não só a invenção, agora conhecida com o nome "lente espiã", começou a ser vendida como um brinquedo, como a ideia se estendeu por toda a Europa, até chegar a esse homem que em Pádua estava planejando uma viagem a Veneza.
Galileu era então um professor de matemática de 44 anos e não estava particularmente interessado em óptica.
Mesmo assim, pegou o brinquedo capaz de aumentar os objetos observados em duas ou no máximo três vezes, e aplicou seus conhecimentos de lógica e cálculo para analisar o fenômeno, e ele mesmo fazer experimentos com as lentes.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionGalileu mostrando o telescópio a Leonardo Donato, dirigente de Veneza, em pintura de H.J. Detouche
Ao longo de um único dia, fez sua própria versão da luneta, conforme contou a amigos em uma carta.
"Aplicando meu olho à lente côncava, vi objetos satisfatoriamente grandes e próximos. Pareciam estar a um terço da distância e nove vezes maiores que ao vê-los só com o olho nu."
Galileu não estava necessariamente motivado por pura curiosidade intelectual; lhe entusiasmava a fama, o poder e a glória. E, para conseguir tudo isso, necessitava impressionar as famílias no poder, como os Médicis de Florenças ou os doges (os dirigentes máximos) de Veneza.
O segredo do histórico telescópio
A luneta original que Galileu construiu era um instrumento tosco, que aumentava em apenas três vezes o tamanho do objeto real.
Sua segunda tentativa, segundo uma carta que escreveu ao doge de Veneza, era capaz de incrementar o tamanho em 9 vezes ou 8, segundo registrou em seu tratado "Sidereus nuncius" (conhecido como "Mensageiro sideral" ou "Mensagem sideral").
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA publicação de Sidereus Nuncius marca a origem da astronomia moderna e o colapso da teoria geocêntrica
Ao escrever sobre essas duas lunetas, deu detalhes sobre seus métodos de construção.
Mas, na versão que fez para os Médici, refinada, aperfeiçoada e envolta em um charmoso couro vermelho, só revelou algumas pistas gerais a respeito de melhorias que já se encontravam no mercado.
Até o diagrama impresso no "Sidereus nuncius" é cifrado.
O silêncio de Galileu não surpreende: provavelmente ele já estava consciente da necessidade de guardar para si suas descobertas.
Nessa época, os ópticos guardavam com receio os segredos do polimento das lentes para não correr o risco de que roubassem seu crédito científico e financeiro.
Essa é outra razão pela qual sua lista de compras é tão apreciada.
Respostas na lista
O documento privado revela não só os ingredientes para a criação de um dos maiores tesouros da astronomia, mas também o conhecimento profundo que Galileu havia adquirido a respeito do vidro e da manufatura de lentes, para poder superar a qualidade do que existia até então.
Assim, o trecho que parece um pouco surrealista da lista ganha sentido.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionNão havia lentes com a qualidade que Galileu desejava, então ele as produziu
Galileu considerava usar os pelouros, como eram chamados os projéteis das antigas peças de artilharia (pedras maciças de formato esférico, que mais tarde passaram a ser de ferro e conhecidas como balas), para moldar as superfícies côncavas e convexas das lentes.
A lista também trazia o item "Trípoli". Com isso, ele se referia a uma variedade de areia formada por esqueletos de organismos marinhos microscópicos chamados radiolarios – que originalmente foi encontrada na Líbia, perto de Trípoli, daí o nome. Desde a época medieval esse tipo de areia era usado para polir superfícies de vidro ou metal.
E a colofônia (ou breu), uma resina, servia como cola para fixar a lente a algo ou para limpá-la, já que é a resina natural de algumas árvores e sua consistência é a de chiclete – de fato, o chiclete é fundamentalmente colofônia.
Esses e outros nove itens da lista ajudaram os historiadores a averiguar que materiais e quais métodos Galileu usou para criar um dos telescópios mais famosos da história que, segundo o Sidereus Nuncius, podia aumentar o tamanho da imagem em mais de 30 vezes.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionOs únicos telescópios de Galileu que temos: dois instrumentos icônicos utilizados por um dos cientistas mais brilhantes da história
É claro, o que fez depois com seu instrumento revolucionário é o que mudaria sua vida para sempre, e a relação da humanidade com o cosmos.
Ele apontou o telescópio ao céu, ao reino dos deuses, e descobriu um mundo que nenhum outro ser humano tinha visto antes.
E o que viu foi absolutamente assombroso.
Suspeita perigosa
Observou que a superfície da Lua, longe de ser perfeitamente esférica como havia dito Aristóteles – o que ainda seguia sendo considerado certo quase 2 mil anos depois de sua morte –, estava "cheia de cavidades e proeminências, não muito diferente da face da Terra".
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionTudo o que Galileu viu, ele desenhou, como essas fases da Lua
Descobriu que a Via Láctea era, de fato, "uma série de inumeráveis estelas"; se deu conta de que Júpiter tinha quatro luas próprias e que Vênus tinha fases similares à da Lua; e até notou imperfeições no Sol.
Até então, os astrônomos se comportavam – como escreveu Galileu, frustrado – "como se o grande livro do Universo tivesse sido escrito para ser lido por ninguém mais além de Aristóteles".
Mas cada descoberta que fazia colocava mais em xeque esses conhecimentos adquiridos, e levava Galileu a suspeitar que o que havia dito o astrônomo polonês Nicolás Copernico meio século antes estava correto: a Terra girava em torno do Sol.
Para além das estrelas
Com a criação desses instrumentos, de repente todos podiam olhar para o céu, e isso transformou a forma como pensávamos a verdade e a evidência, bases para a ciência.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionDe repente todos podiam ver para além do que os olhos permitiam
Cientistas e amadores podiam ver as coisas por si, de maneira que já não tinham que aceitar a autoridade dos outros sem colocá-la à prova.
Nesse sentido, o telescópio conduziu a democratização do conhecimento.
Nosso universo se expandiu como nunca antes, assim como a compreensão de nosso lugar nele.