Apesar de intensa a política externa do Presidente Lula até agora tem patinado. É o que afirma o título da matéria abaixo e que eu tendo a concordar, ainda que discorde de alguns pontos, de algumas afirmações. São 3 pontos principais que eu comentarei abaixo e que discordo, ao menos em parte. Vou comentar essas discordâncias na ordem em que aparecem no artigo, e claro, sugiro a leitura do mesmo.
Mas começarei comentando os critérios erráticos do texto de Ana Flávia, que logo no terceiro parágrafo coloca críticas vindas de líderes de aspectos ideológicos e políticos diferentes como algo ruim. Ora, ou ouve um erro grosseiro na hora de se expressar de forma escrita, ou então ela não entendeu que justamente de pessoas de aspectos ideológicos e políticos diferentes é que deveríamos esperar as críticas. Sim porque essas designações de direita e esquerda não fazem mais o sentido que faziam.
Quanto aos pontos de discordância começaremos com a questão de Lula aproximar os países Latinoamericanos sob a "liderança" do Brasil, e não ter conseguido fazê-lo. A questão de Maduro não passa de uma desculpa esfarrapada. Os erros sucessivos das administrações brasileiras que sucederam Lula levaram a uma quebra de confiança de influência, e da consequente diminuição na capacidade de liderança do Brasil na região. Na verdade isso nunca tinha sido algo tão intenso, salvo em alguns casos, e como em todas as lideranças, a do Brasil também sempre foi contestada, desafiada, e sabotada.
Nesse ponto duas coisas mudaram. A primeira foi no próprio país presidido por Lula, que já comentei acima.
A outra, e mais importante, é a cisão mundial que ocorre e que opõe Brics x Atlaticismo. O conflito no Leste Europeu, que comentarei mais abaixo, é apenas uma face bélica desse cisânia, e talvez não seja a única, já que outros pontos de conflito vêm se apresentando pelo mundo, incluindo no coração da própria Europa, com o reacendimento provocado pelo Atlanticismo dos conflitos na Sérvia. Essa cisão tem levado países a se alinharem entre os dois lados, em todos os continentes, e esse alinhamento varia de acordo com a proximidade entre os grandes líderes da contenda e os interesses dos países satélites. O Brasil é o líder Latino-americano do Brics, mas devido uma série de condições internas é o penúltimo em termos de poder regional, enquanto disputa com o mais forte dos atlanticistas a liderança no subcontinente. Isso já acontecia no 1º governo Lula, mas hoje é muito mais exacerbado.
E é nesse quadro que temos que ver a questão "Maduro". Sim, Lula comete erros, exageros, e conduz mal uma situação que deveria ser conduzida com o pragmatismo que as relações internacionais solicitam. Lula erra ao elogiar excessivamente o Presidente venezuelano, erra ao enaltecer e defender de forma equivocada o regime do país vizinho. Por outro lado as críticas vêm de líderes regionais que são alinhados aos inimigos geopolíticos de Maduro, e que esquecem de criticar as incoerências históricas e repetidas desses mesmos inimigos de Maduro. Esse conflito não valida os erros de Lula, nem as críticas dos outros líderes latino-americanos, já que tais críticas simplesmente não se justificam, já que o que ocorre na Venezuela é problema dos venezuelanos, não nosso.
O conflito no Leste Europeu é um ponto de discórdia e que mostra toda a ideologia do texto de Ana Flávie e que escancara o alinhamento a um dos lados, embora eu concorde com o erro de envios de sinais ambíguos por parte das lideranças do Governo Brasileiro. Lula e o Brasil não tinham que aprovar ou reprovar as ações da Rússia, ainda mais baseados em apenas um aspecto da situação, e deixando de analisar todo o processo histórico de formação do território, da população que habita esse território, e dos fatos históricos mais recentes que impactam a Ucrânia nos últimos 10 ou 11 anos.
Aqui o Brasil deveria se abster e conclamar sempre a paz, se colocar a disposição para mediar as conversas e seguir conversando com ambos os lados. Não interessa ao Brasil se alinhar, condenar ou justificar nada. Lula erra também ao criticar publicamente os lados que disputam a rinha no Leste Europeu, e deveria manter suas declarações no âmbito da busca pela pacificação no conflito, ainda que se saiba que isso não acontecerá. Também deveria responder com a dureza necessária as provocações vindas de qualquer dos lados, embora isso só esteja acontecendo de um.
Por último gostaria de lembrar que Lula tem certo reconhecimento internacional, já que esse reconhecimento dado a ele sempre foi baseado na benesses que ele costuma dar a troco de nada. Abertura de capital da Petrobras, escancaramento do setor petrolífero no Brasil, as benesses à indústria automobilística no Brasil (quase toda ela estrangeira), pagamento de juros estratosféricos que atendem interesses de especuladores internacionais, jamais rever as entregas criminosas de patrimônio público nacional, etc. Só que no momento isso já não é suficiente para o Atlanticismo, e este exige não apenas as benesses econômico financeiras, mas também a submissão total ao projeto de liderança global única, que agora está sendo fortemente contestada pelos Brics. Quando ele não se alinha automaticamente a essa nova demanda, e apesar de globalista busca um lugar de certo destaque para o Brasil nesse globalismo, então ele passa a ser cobrado e contestado.
Como eu disse, Lula comete erros na condução de sua política externa. Sim, o mundo de hoje é muito distinto daquele que ele deixou em 2010, mas muito das críticas que ele recebe são devido ao seu não alinhamento automático e total às pautas ideológicas que se lhe tentam impor. E reparem, tais críticas vêm de um lado, enquanto o outro apenas diz que entende a posição ambígua do Brasil nesse momento. Sim, Lula tem culpa de sua política externa patinar, mas não apenas por erros ao se pronunciar sobre as posições brasileiras (isso ele sempre fez), mas também por não ter entendido as mudanças que ocorreram nesses 13 anos desde que deixou seu último governo, e porque sua equipe mostra também não ter entendido isso.
Na Presidência, Lula privilegiou líderes europeus e sul-americanos, mesma estratégia usada por seu antecessor direto, Jair Bolsonaro
atualizado
Em cinco meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já teve 58 encontros, reuniões bilaterais ou conversas telefônicas com chefes de Estado estrangeiros. O número supera em mais de três vezes as agendas com líderes do exterior do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além dos índices do próprio petista em mandatos anteriores.
Apesar de claramente ser muito mais presente e interessado no tema do que seu antecessor, o atual presidente brasileiro patina na política externa. Quando o assunto é aproximação comercial e até pauta ambiental, ele tem conseguido colher bons frutos, como acordos firmados com chineses e sinalização de recursos para o Fundo Amazônia por parte de Estados Unidos e Reino Unido. Já quando entram em campo questões ideológicas, Lula acaba tendo dificuldades.