O texto de André Lara Resende, veiculado originalmente no Valor Econômico em fevereiro desse ano (4 meses atrás) segue atualíssimo. Ele seria atual ao menos pelos últimos 30 anos, quando Itamar Franco acabou com a farra financeira do setor rentista no Brasil e que era caracterizada pela hiperinflação, e que foi transformada em juros altos por FHC e mantido assim por todo esse tempo.
Sim, durante pouco mais de um ano do desastre Bolsonaro esses juros abaixaram, mas sua baixa foi desperdiçada, não apenas porque não foram criados mecanismos de incentivo ao setor produtivo (os juros para empréstimos ao setor produtivo seguiram estratosféricos, entre outras não medidas), como ainda se transferiram enormes quantias de dinheiro para os bancos privados por diversos caminhos, seja pelo repasse puro e simples de carteiras de investimentos de bancos públicos, seja pela transferência direta de fundos, seja pela transferências de empresas e ativos físicos para o setor financeiro.
O Brasil muito erradamente privilegia o setor especulativo e parasitário da economia em detrimento da produção e desenvolvimento. Precisamos mudar a mentalidade do país, porque sem isso nada mudará.
Independentemente de fatos e realidade, decide-se que risco fiscal é alto
20 de fevereiro de 2023, 12h17
*artigo publicado originalmente no Valor Econômico, em 7.fev.2023
Depois de tanto ouvir os economistas e a mídia martelarem insistentemente o problema do déficit público, da insustentabilidade da dívida, que estaria numa trajetória explosiva, que o país estaria à beira de um abismo fiscal, saíram os números das contas públicas relativos ao ano passado. Pasmem: houve um superávit de R$ 126 bilhões, equivalente a 1,3% do PIB. A dívida pública bruta, aquela que os analistas insistem estar numa trajetória explosiva, caiu 1,1% em proporção do PIB, para 73,5%. Seria de se esperar que os arautos do abismo fiscal reconhecessem que, no mínimo, tinham exagerado o problema fiscal. Mas não, pelo contrário, voltaram com ênfase reforçada, impassíveis diante dos fatos e dos dados.
Vejamos o que diz a Carta Macroeconômica do Itaú divulgada agora em 31 de janeiro. O texto é em inglês para seus clientes e "investidores" estrangeiros. A tradução é minha: "Na nossa visão, o superávit primário e a queda da dívida pública em 2022 são devidos a fatores temporários, ou a aqueles que terão um menor impacto este ano, tais como o elevado volume de receitas extraordinárias, um forte crescimento, a alta inflação e o preço das commodities". E para não correr risco de ser mal compreendido e perder a oportunidade de voltar a assustar, prossegue: "A implementação do PEC da Transição implica um significativo aumento do gasto público em 2023, confirmando a perspectiva da volta do crescimento da dívida pública. Na ausência de medidas corretivas, este cenário poderá levar a um novo ciclo de baixo crescimento, alta inflação e altas taxas de juros".
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