Mais uma vez a França se vê envolta em protestos. Sim, os principais focos são em Paris, notadamente nos subúrbios da capital, onde se concentram imigrantes, notadamente de origem muçulmana, e seus descendentes. E a informação aqui é relevante, porque os protestos veem na esteira do assassinato de um jovem de 17 anos por um policial durante um controle rotineiro de trânsito. O jovem assassinado era muçulmano.
O fato descrito acima gerou a série de manifestações, muitas vezes violentas, e a consequente reação policial, o que aumentou ainda mais o nível de tensão e de violência entre as partes. Para se ter ideia o título abaixo deveria ter sido corrigido pelo Diário de Notícias (Portugal), porque as autoridades francesas já tinham corrigido o número de detidos a 1.311 naquela noite. Daí se tem uma ideia da amplitude dos confrontos.
Ainda que possa parecer o fim do mundo na França, a verdade é que essas manifestações são relativamente comuns e recorrentes por lá. Só nesse Século, e de cabeça, me lembro de outros 4 grandes eventos com protestos pesados, e muitas vezes violentos. Em meados da primeira década, nos mesmos subúrbios de Paris, os mesmos muçulmanos e seus descendentes se sublevaram. Foram muitas noites seguidas, cada uma com dezenas de carros incendiados, pessoas feridas, e centenas de presos. Já na segunda década tivemos os coletes amarelos em 2018. Uma série de protestos que muitas vezes descambaram para a violência e que levaram outras centenas de pessoas às prisões francesas. Em 2021 foram agricultores que se manifestaram por toda a França. Esses também tiveram alguns episódios de violência, mas não tão duros quanto os outros. Por último, há pouco mais de 1 mês, tivemos os protestos contra a Destruição da Previdência levada a cabo por Macron, que também alcançaram algum nível de violência.
E da mesma forma que os outros, também teve analistas vociferando que era o fim da França, que Macron iria cair, que agora o "berço da democracia moderna" cairia, etc, etc, etc. Pois bem, pode acontecer, mas é muito difícil. Primeiro porque os movimentos atuais aparentemente são apenas a explosão social resultante da discriminação e das condições de vida sofríveis a que é submetida essa parcela importante da população francesa.
O segundo motivo é que até agora não apareceu uma liderança para levar essas manifestações a se tornarem um movimento político organizado, e muito menos a um movimento revolucionário que leve à queda do governo atual. Claro que essa liderança pode aparecer, mas não foi o que ocorreu até agora.
E sim, a França não é o único país europeu que passa por fortes protestos, mas essa possibilidade já havia sido prevista e os governos europeus se prepararam para essa possibilidade.
Com esse histórico, e com essas condições, difícil que a situação saia realmente de controle.
Mais de 700 detidos durante a noite. Casa de autarca atacada
Ministro do Interior considera que a maior presença das forças se segurança contribuiu para a noite mais calma.
Pelo menos 718 pessoas foram detidas e 45 polícias ficaram feridos na quinta noite consecutiva de distúrbios em França por causa da morte de um adolescente abatido na terça-feira pelas forças de segurança, indicou este domingo o Ministério do Interior.
Numa publicação na conta pessoal na rede social Twitter, o ministro do Interior francês, Gérard Darmanin, indicou que, apesar dos incidentes, a noite de sábado para domingo foi mais calma que as anteriores, facto que, no seu entender, se deve a uma maior presença das forças de segurança nas ruas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário