Não é mais novidade para quem acompanha a geopolítica que a China trabalha nas chamadas "novas rotas da seda". Tal projeto é claramente inspirado nas rotas da seda originais que se consolidaram e foram fundamentais para a grandeza da China e para a sobrevivência de muitos atores europeus durante parte da Antiguidade Clássica, mas principalmente durante parte importante do final da Idade Média e do início da Moderna.
Pois bem, hoje o Planeta não é mais o mesmo que aquele que abrigou as rotas da seda originais. Não apenas em tecnologia, mas também em tamanho físico e da própria humanidade. As rotas da seda originais contavam com um mundo que se resumia a parte da Ásia, Eurásia, e da Europa, com navios a vela e caravanas conduzidas no lombo de mulas, cavalos e camelos, atingindo no máximo umas duas ou três centenas de milhões de pessoas.
Hoje esse quadro mudou, e as novas rotas da seda contam com navios gigantescos, trens de alta velocidade, caminhões enormes e autoestradas de alta velocidade. Também temos um planeta com 3 continentes a mais para serem incluídos nessas rotas, e algo entre 7 e 8 bilhões de pessoas.
Aqui entra a América do Sul, ou ampliada, a Latino-américa. A questão nesse ponto não é apenas a integração da enorme região sub-americana ao projeto chinês de adesão às suas novas rotas da seda, mas a forma como a China pretende incluir toda essa vasta área do planeta e suas várias centenas de milhões de habitantes no projeto, e essa inclusão não é a do desenvolvimento que o sub-continente precisa.
Sim, porque a China, tal qual os europeus ou norte-americanos, vê o sub-continente latino-americano como uma grande região com enorme potencial consumidor e fornecedora de alimentos e matérias primas, ainda que pense em integrar essa região com investimentos em modernizações na infra estrutura de transportes e energia. É pouco, porque toda a região, e no nosso caso, o Brasil, precisam de industrialização, e por isso mesmo precisam de uma negociação bem mais agressiva do que essa de pires na mão que temos visto ultimamente.
Precisamos aproveitar as necessidades chinesas, e de certa forma as de outras partes do mundo também para promover o crescimento industrial e o domínio tecnológico da região, não apenas importante parte do parque fabril ou montador desses centros mais avançados, mas desenvolvendo nossas próprias indústrias, e dominando efetivamente todo o processo tecnológico de várias áreas do conhecimento produtivo humano.
Uma negociação complicada, mas absolutamente possível, mas não de pires na mão.
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