Sim, análise bem interessante, mas não concordo exatamente com ela. Vamos aos fatos:
Cada vez mais certo que um dos finalistas (segundo turno) será o candidato internado. Como também está ficando bem claro a quem acompanha as pesquisas eleitorais, que o segundo lugar será decidido entre Haddad e Ciro Gomes, e é nas estratégias que divirjo da análise de Ricardo Cappelli.
Ok, Ciro deve mostrar um lado mais tranquilo, mas não pode deixar de atacar seu concorrente na vaga pelo segundo turno, além de seguir cativando alguns apoios nesse sentido. Marina é um deles, e vem sendo bem trabalhado pelo pedetista, assim como Boulos também. Mas Ciro deve seguir chamando a atenção do eleitorado para a falta de consistência do petista, tanto para o trato da coisa pública a nível nacional, como a brutal repulsa que tem na cidade e no estado de São Paulo, assim como relacionando o petista a Dilma Roussef, porque se não são iguais em muitos pontos, são igualmente fracos e sem estrutura pessoal para assumir a Presidência da República.
Como diz Ciro Gomes, não se constrói uma liderança com transferência de votos.
A turbulência no mercado nos últimos dias tinha uma explicação. Passados dez dias da avalanche de comerciais televisivos, Alckmin caiu no Datafolha.
O tucano Tasso Jereissati fez autocrítica da postura do PSDB no questionamento da vitória e posterior derrubada de Dilma. Menos incisivo e com mais cuidado, Rodrigo Maia deu entrevista na mesma linha, explicitando ainda desânimo com o “picolé de chuchu”.
Geraldo mudou sua estratégia após a facada. Percebeu que é burrice tentar roubar votos de Bolsonaro batendo nele. É preciso acalmar uma pessoa em estado de fúria para chamá-la à razão. Passou a bater em Haddad, Ciro e Marina enviando aos bolsonaristas o sinal de que ele é a opção mais segura para derrotar os “vermelhos”. Parece ter sido tarde demais.
Vai ficando claro para a tradicional direita brasileira que a aposta irresponsável na destruição do sistema político lhe custou muito caro. Errou ao considerar que o expurgo seria cirúrgico e pegaria apenas a esquerda. O abraço a um governo fraco, ilegítimo e incapaz fez o resto.
O que fará agora? Vai aderir ao Capitão? É pouco provável que o derretimento do fascista aconteça. O PSDB descolou do segundo bloco e agora forma um terceiro com “Marina Queda Livre”. Bolsonaro se posiciona como alternativa aos “dois que quebraram o país, PT e PSDB”. É o candidato anti-establishment pela direita. Como apoiá-lo?
Não será surpresa se o setor mais radical da Aliança do Coliseu, formada pela Globo com setores antinacionais da burocracia estatal, adotar o fascismo como caminho.
Os banqueiros podem se dividir entre Paulo Guedes e Haddad. Nunca tiveram problemas de convivência com o PT, vide Joaquim Levy e Meirelles. Ciro elegeu o mercado financeiro e o rentismo como alvo, não é uma opção para o setor.
O eleitor de Marina deve se espalhar, reflexo de sua falta de identidade política. Geraldo deverá ser “cristianizado”. Uma parte dos que o apóiam já está com o PT onde Lula é forte. O sincericídio de Tasso pode ter sido uma “piscadinha” combinada com Ciro.
Tudo caminha para Haddad ultrapassar Ciro nas próximas pesquisas. A estratégia do PT está clara. Colar Haddad na impressionante força de Lula e “deslocar os melhores médicos do mundo para o Einstein”.
A morte de Bolsonaro, física ou política, seria uma tragédia para o PT. No segundo turno, o enfrentamento com o Capitão é a única possibilidade de vitória de Haddad. As pesquisas indicam hoje um empate técnico.
Se Haddad descolar de Ciro e assumir a segunda posição – o que parece questão de tempo – poderemos ter uma rearrumação do quadro.
Ciro vai tentar convencer os progressistas de que ele é a opção mais segura para derrotar o fascismo no segundo turno. Tem as pesquisas ao seu lado. Terá que escolher bem sua estratégia.
Bater no PT pode atrair votos de eleitores de Alckmin e outros nanicos, mas cria dificuldades de diálogo com lulistas não orgânicos.
Adotar o “Ciro Paz e Amor Anti-Polarização” tentando atrair o voto útil dos eleitores que rejeitam o Capitão e o PT, mas que vêem seus candidatos sem chances reais, parece ser o caminho mais inteligente.
A nova conformação deixa a corrida com cheiro de 1989, meio “retrô”, com um outsider da extrema direita liderando enquanto Lula e Trabalhistas lutam pela segunda vaga.
Haddad é o favorito para a segunda vaga, mas Ciro está no jogo. Teremos emoção até o final.
Por Ricardo Cappelli.
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